Barómetro Audaz XIII – Irá o Sporting Ser Campeão?
A audácia é definida no Dicionário Priberam como um “impulso que leva a realizar atos difíceis ou perigosos”, ou um “comportamento ou atitude que contraria hábitos, costumes ou hierarquias”. Sinónimo de coragem, intrepidez e ousadia na primeira definição, e de atrevimento e insolência na segunda.
Ora, se não é um Sporting assim, audaz, que queremos, o que é que andamos aqui a fazer?
A 10 de novembro do ano passado, lancei uma crónica em que dissertei sobre o meu ceticismo num eventual título de campeão nacional de futebol por parte do Sporting Clube de Portugal. Hoje, a 17 de fevereiro, muita coisa mudou e, embora não ache que os meus argumentos fossem descabidos, chegou a hora de dizer que subestimei a capacidade da nossa equipa de futebol, entre outras coisas. Vamos lá…
Relendo essa mesma crónica (o meu terceiro barómetro), revejo as ressalvas que fiz. Destaco uma, em que chamo sonhadores a quem acreditava (na altura!) no título, alegando que tinham uma certa ingenuidade infantil dentro de si. A ressalva era que não estava a chamar os sonhadores de crianças, mas sim a dizer que eu já estou amargurado demais para sonhos tão precoces. Atualmente, os sonhadores da altura estarão orgulhosos de si por terem sonhado alto. Eu, a bem da verdade, ainda estou um pouco incrédulo com o estado atual da classificação – incrédulo, mas contente.
Apresentei duas razões pelas quais não achava possível o título, a inexperiência dos nossos rapazes e treinador, por comparação com os rivais, e o sistema futebolístico português, bem conhecido de todos. Vou abordá-las novamente, sob este novo prisma de (um pouco além de) meio da época.
De facto, a equipa do Sporting tem superado todas as expetativas. Tem todo o mérito em ocupar o lugar que ocupa na classificação. Há, no entanto (tento ser imparcial nas minhas análises) muito demérito dos dois maiores adversários do Sporting na distância que se verifica entre os clubes. Ou seja, não é por demérito dos adversários que o Sporting está em primeiro, mas é por demérito dos adversários que tem tantos (10 para o segundo classificado) pontos de vantagem.
É, também, importante dizer que, quer se queira admitir, quer não, a distância pontual na classificação não reflete a real diferença de qualidade entre as equipas. Tanto que duvido seriamente que o campeonato termine com uma diferença tão grande. O Sporting tem tido muito mérito na forma como não treme perante circunstâncias adversas, e consegue ir buscar resultados na raça, mas também tem tido sempre a sorte do seu lado. A sorte procura-se, é claro, mas também não é normal encontrá-la sempre.
No entanto, faz parte do jogo, e é melhor que esteja do nosso lado do que o contrário. O Sporting tem saído por cima nos encontros com os rivais, não mostrando uma evidente superioridade, mas longe de mostrar a inferioridade que muitos (como eu) esperavam – isto é mérito, aliado à tal sorte, ou “estrelinha” como muitos dizem. Uma combinação que colocou o Sporting na posição privilegiada em que está.
A minha outra linha de pensamento prendia-se com o “sistema”. Depois do mega-investimento feito pelo rival benfica, tanto em treinador como em jogadores, nunca pensei que, além de jogarem tão pouco, se deixassem ficar tão para trás na classificação sem a intervenção divina dos “padres”.
Nunca defendi que a aproximação nítida (que continuo a defender que existe) entre Sporting e benfica tivesse como objetivo dar um título ao Sporting. Acho que é óbvio, para quem quiser ver, que o foco dos ataques e da contestação leonina, há muito deixou de ser o benfica. Até Luís Filipe Vieira, líder máximo de um “polvo” que custou muita coisa ao Sporting já voltou à tribuna de Alvalade.
Apesar disso, como defendi na crónica original, sempre pensei que essa aproximação tivesse como objetivo relegar o F.C. Porto para terceiro, mas com o benfica a ocupar o primeiro lugar da tabela.
É óbvio que Jesus e os “craques” foram uma cartada eleitoral, mas sempre pensei que o título (a qualquer custo) também fosse parte integrante dessa cartada. Deixo a conclusão da crónica original como prova de que, mesmo pondo a hipótese de o Sporting ser superior, não acreditei que não o puxassem para baixo.
Sim, porque por muito que os adeptos do Sporting chorem e reclamem, como fazem os dos outros clubes, a grande verdade é que qualquer Sportinguista que veja o seu Clube jogar há décadas sabe que o Sporting não está a ser puxado para baixo como já foi outrora.
Já se sabe como é o “Tugão”. Em todos os jogos, os rivais do clube que joga encontram razões para apontar o dedo, e os adeptos do clube que joga encontram argumentos para contra-atacar. Tento ser imparcial também nisto. É, realmente, um exercício hilariante observar adeptos dos rivais a queixar-se de seja o que for. No entanto, é claro como a água que deixou de haver o constante puxão para baixo, por parte da arbitragem, ao Sporting. Bem como os “pequenos” deixaram de espumar de raiva por não conseguir tirar-nos pontos. Se é por termos voltado a ser um Clube simpático, ou por ter deixado de haver “malas” vermelhas a circular… não sei. Mas é o que vejo.
Posto tudo isto, contra factos não há argumentos. Somos líderes com 10 pontos de vantagem para o mais próximo perseguidor. Então, qual é a minha maneira de olhar para esta situação, atualmente?
Como disse, penso que não iremos terminar com esta vantagem toda. Os nossos adversários cedo ficarão fora da Europa, ficando todos com o mesmo volume de jogos nos últimos 2/3 meses de Liga. Ainda temos de visitar o Dragão, a Luz e a Pedreira, por exemplo – os três jogos mais difíceis do Campeonato. E sim, somos o Sporting – tudo pode acontecer.
No entanto, ao contrário de muitos consócios, e até de muito boa gente que idealiza o Sportinguismo de forma muito semelhante à minha, acho fraqueza de espírito não assumir que o Sporting é, de facto, favorito à conquista.
O Sporting Clube de Portugal é sempre candidato a vencer as competições em que participa. Mesmo que sócios, como eu, estejam descrentes à partida, os dirigentes, treinadores e jogadores têm de saber que Clube representam, e saber que se têm essa sorte, têm de entrar para vencer tudo. Obviamente, entendo a cautela nas palavras do treinador e dos jogadores. Mas, apesar disso, acho que é incoerente por parte dos adeptos tecer loas à qualidade desta equipa e, ao mesmo tempo, ter medo de assumir que a equipa se colocou numa posição de claro favoritismo. A isto, junta-se a contratação mais cara da história do Clube, com o propósito único de atacar o título – uma aposta em grande (e, para mim, ruinosa em termos financeiros, como já opinei noutro texto).
Com os 10 pontos de vantagem que temos, e apenas a jogar esta competição, temos agora obrigação de vencer o campeonato. Podemo-nos dar ao luxo de perder no Porto, na Luz e em Braga, e mesmo assim continuar com 1 ponto de avanço. Eles também jogarão entre si, e continuarão a jogar com as equipas com quem já perderam vários pontos.
É perfeitamente normal que percamos pontos, que não consigamos fazer uma segunda-volta tão boa como a primeira (histórica), mas… se não somos candidatos/favoritos agora, somos quando?
Excelente prestação até agora. Falta finalizar com chave de ouro. Na minha modesta opinião, tal como a nossa atual classificação não é demérito dos outros, mas sim mérito nosso, se perdermos uma vantagem destas não será mérito dos outros, mas sim demérito nosso. Há que manter a crença e a qualidade.
Estará o jejum prestes a ser quebrado? Espero que sim.
O que os sócios farão depois disso é outra conversa, ainda mais importante, e a não deixar cair no esquecimento. O passado indica uma possível carta branca. Saibam ter aprendido ao longo das duas últimas décadas, não transformando uma almejada vitória numa longa e dolorosa derrota.
Excelente barómetro! ?