RUGIDO VERDE

Levantar e levantar de novo, até que os cordeiros se tornem Leões!

Sábado, Abril 20, 2024

Comentário Breve: Vira o Disco e Toca E-Nada

A última semana foi pródiga em acontecimentos graves que deram sequência ao processo “Mala Ciao”. Assistimos a buscas envolvendo inúmeros clubes, com destaque para o papel absolutamente central do SLB de Luís Filipe Vieira, recentemente reeleito para novo mandato apesar do combate intenso da oposição para colocar fim ao reinado de um dos poucos Donos Disto Tudo que o país, em pleno ano de 2020, ainda conhece. Sem o uso do SLB, esse estatuto e condição de que usufrui não existiria.

No novo turbilhão, começaram a surgir eventos paralelos convenientes. O primeiro evento desse tipo que achei interessante foi o surgimento de notícias sobre um alegado pedido de recontagem da votação nas últimas eleições. Como se Rui Pereira, o “Senhor Terrorismo”, não fosse o actual PMAG e qualquer requerimento não estivesse condenado de morte à nascença. Sejam bem-vindos ao que conhecemos no SCP, pela mão de Rogério Alves, desde 2006 até aos dias de hoje.

Foi um tópico interessante durante dois minutos.

Assistimos a uma tentativa de associar Bruno de Carvalho a Álvaro Sobrinho, quando a investigação se foca na origem do dinheiro que deu entrada em 2011 com o acordo estabelecido entre a Holdimo e a administração de Godinho Lopes, documentalmente comprovado. Vamos fazer de conta que o irmão do actual Presidente não fez parte dessa direcção, não sabendo de nada aquando da formalização da entrada do capital. Vamos também fazer de conta que nos eventos de Paulo Pereira Cristóvão (não se limitam ao caso Cardinal), o médico que tudo sabia do balneário, entrando no clube em 2011, também não sabia de nada. Os “se” têm muitos caminhos, não é verdade? Se pensam que no Correio da Manhã existe alguma frente criativa de relevo, desenganem-se: é um exercício fácil até para um único indivíduo como hobby. O problema é ser feito por profissionais remunerados do sector, com carteira de jornalista.

Assistimos igualmente ao surgimento bizarro do Ministro dos Negócios Estrangeiros da Hungria a percorrer vários canais de televisão locais com indumentária do Sporting. Não fosse Ministro do governo de um opressor – Viktor Orban – e não estivesse esse governo envolvido na extradição de Rui Pinto, poderia ser interessante. O timing foi curioso – perfeito para desviar as atenções num momento crítico e confundir motivações. A forma como foi notado, idem: combinado e “soprado” não teria corrido melhor. Kudos aos atentos espectadores dos canais de televisão da Hungria e à vestimenta casual de um Ministro desconhecido em Portugal, e de um governo muito mal visto na União Europeia.

Não se ficaram por aí as manobras de diversão à mega-operação da Polícia Judiciária e aos factos gravíssimos em causa.

Eis que surgiu uma associação de Talisca a um campeonato de… 2009, por via de uma denúncia anónima. Logicamente, alguém fez chegar essa denúncia ao Correio da Manhã & Cia, e é muito estranho terem dado destaque. Recordam as denúncias anónimas de 2018? Façam uma revisão às que foram publicadas e deduzem facilmente a origem e o porquê do destaque num meio alegadamente profissional. Os factos de Talisca eram conhecidos, como podem ver neste link que provavelmente foi a fonte de Tânia Laranjo e se encontra numa pesquisa rápida (tardei aproximadamente 40 segundos com as palavras “Talisca 2014 Emails”, surgindo como 14° resultado da pesquisa), não existindo qualquer referência a 2009 após leitura. Gerou, obviamente, um desmentido imediato e uma descredibilização de factos conhecidos e com origem documentada nos emails.

Por fim, numa semana intensa envolvendo alegada corrupção de calibre assustador e cuja veracidade coloca em causa as já suspeitas competições, com imenso dinheiro envolvido, surge um spin que visa voltar a colocar adeptos no epicentro da discussão. O destaque principal foi uma alegada declaração do Ministro da Educação, guardada para momento oportuno (coincidência ser este, claro), de forma a redefinir a agenda de discussão. Nada como acicatar uma resposta governamental expectável para acalmar os ânimos e pôr água na fervura de forma global. Não existiam novidades: Pataco, Baganha, o Secretário de Estado; tudo era já conhecido e não existem desenvolvimentos há quase dois anos. Sabe-se que existe conivência, sabe-se da inacção, mas também se sabe que os actores no terreno têm papéis concretos e existiu um que foi omitido/relegado para plano secundário quando está 10 anos à frente de tudo e de todos.

Pelo caminho, não podia faltar um ataque a adeptos do SCP, com uma não-notícia, que teve sequência em comentário pelo voluntarioso advogado das offshores das Bahamas, Carlos Barbosa da Cruz. Carlos Cruz para Isabel dos Santos. O clube, esse, intervém directa ou indirectamente (“encomendas”) apenas quando visa ataque interno, como explorei neste artigo, ou quando se toca em Frederico Varandas. O silêncio do clube não é estratégico, mas cúmplice, não faltando provas como a omissão de 2015/16, o não recurso no “E-Toupeira”, ou a indiferença pelo reconhecimento dos 22 títulos nacionais quando era fundamental na discussão parlamentar. Como já escrevi, é uma obsessão com auto-preservação.

Assim se encerra uma nova onda de buscas, que indica novamente a putrefação do desporto nacional. Cada um dos clubes e jogadores envolvidos daria para semanas de notícias – basta usarem como referência exemplos passados quando outros eram o alvo, mas até com meras especulações sem suporte credível e incongruentes. Com ruído controlado e temporalmente curto, com vários faits divers, com pouca investigação adicional numa imprensa concentrada e em cacos, e com um atraso imperdoável da justiça. Tão célere a agir e a disponibilizar meios com uns, tão lenta e incapaz com outros. No fim, é toupeira. Ou melhor:

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