RUGIDO VERDE

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Sábado, Abril 20, 2024

O Fim dos Enigmas: A Recta Final de Alcochete.

O fim do julgamento está próximo. Diversos arguidos começaram a prestar depoimento, e testemunhas da defesa adquiriram papel de relevo. Começa a ser hora de encerrarmos mais alguns enigmas e teorias com as informações mais recentes. 

A agressão a Dost

No dia 18 de Novembro de 2018, cinco meses após os eventos da visita à Academia, o tablóide Correio da Manhã anunciou que Valter Semedo era o autor da agressão a Bas Dost. 

Como quase sempre, quando não envolve copy-paste documental ou inventar um conto, publicaram uma informação grave e falharam. 

Acusaram-no igualmente de agredir William, algo que nunca aconteceu e nem sabiam que eram conhecidos e tinham falado. Ignoraram também o apenso E35, com duas tentativas de contacto de William a Valter, posteriores ao “terror” de dois minutos. 

Tivemos, por fim, a confirmação de que o jovem Rúben Marques foi o autor da agressão, antes do acesso ao vestiário, utilizando o cinto. O próprio Rúben assumiu a autoria. Os depoimentos de Dost e Rúben permitiram desvendar mais do que parece. 

O fim do enigma das portas I : Abertura

Além das portas de vidro, existem mais até se chegar ao vestiário. Desde o dia 1 que não parecia normal terem conseguido aceder ao espaço. 

Através de Vasco Santos, ex-director de segurança, ficou-se a saber que a porta de acesso à zona do balneário teve a segurança magnética removida unilateralmente. A informação não foi comunicada à hierarquia. O autor da decisão foi Jorge Jesus.

No relatório que forneceu a pedido, o então chefe de segurança da Academia, Ricardo Gonçalves, disse que o alarme de incêndio foi activado manualmente, destrancando as portas de forma automática, permitindo assim a entrada até acederem ao vestiário. Sabe-se já que tal versão não corresponde à verdade. 

Foram vários os depoimentos de jogadores que afirmaram que o alarme só tocou perto do fim do evento de 2-3 minutos, como por exemplo Mathieu, com a maioria a associar o início ao fumo das tochas no balneário. O arguido Miguel Ferrão confirmou esta ideia. Dost ajudou a rematar o assunto. Quando vê entrar o grupo pela porta que antecede a porta de correr no vestiário (a última), ao ponto de reparar num sinal com um polegar e no número de indivíduos, não identifica qualquer som de alarme a soar instantes antes. Nesse momento, teria de ter já disparado para a versão do chefe da academia fazer sentido e a porta destrancar automaticamente. 

Via depoimentos da GNR soube-se também não haver forcing (excluindo a do vestiário). William tentou criar uma versão de uma porta intermédia danificada, mas foi tramado quando chamado a concretizar o dano na porta que se abriu ante Dost. Quando questionado “que danos viu na porta?”, ficou baralhado e em silêncio. 

No entanto, existem mais provas ainda. O senhor Getúlio, arguido que não entrou no balneário, captado em imagens, quando o alarme começou a tocar estava no exterior devido a entrar a passo no local, assustando-se e dando meia volta. É por isso possível já saber o momento exacto com toda a certeza, que coincide com a entrada tardia do senhor Jorge Jesus pelas portas de vidro – depois do grupo, e depois até de Varandas entrar posteriormente – e a explica, contrariando a versão dele de entrada por “gritos”, os quais são identificados desde o princípio no acesso ao vestiário. 

O enigma está resolvido. As portas foram abertas de forma intencional e negligente, e apenas a do vestiário foi (quase) fechada por quem já lá estava, alegadamente pelo secretário técnico Vasco Fernandes. Ao estar dentro, Vasco não podia receber a indicação dada no exterior e que levou à visita guiada rumo ao vestiário, e este é o ponto que se segue. 

O fim do enigma das portas II: encaminhamento

Vamos esquecer por um momento todos os erros e omissões em que o posteriormente promovido chefe de segurança, Ricardo Gonçalves, incorreu, e que vão desde: não comunicar preocupação na Madeira; contacto tardio à GNR; não mandar fechar nem o portão nem as portas; e a desactivação do CCTV após a saída do grupo. 

Tiago Silva disse que Ricardo Gonçalves “abordou-nos pela primeira vez no sintético tapado ao pé da ala da formação, depois acho que foi connosco até lá dentro, ao balneário.” 

Sabe-se, por via de vários testemunhos, que Gonçalves tentou primeiro dissuadir, igualmente visível em imagens, correndo num primeiro momento paralelamente ao pelotão da frente. 

Até que teve uma mudança de comportamento, que culmina com a sua entrada na dianteira do grupo pelas portas de vidro. Essa mudança coincide com o breve encontro no campo de treino entre o grupo inicial e o treinador Jorge Jesus. O depoimento do senhor Getúlio (disponível online) sobre o encaminhamento de que foi alvo, apenas reforçou o que era sabido. 

Sabe-se agora sem margem para dúvidas, e também dito em tribunal por Carlos Vieira (ex-Vice e Administrador da SAD), que, em Dezembro de 2017, adeptos deslocaram-se à academia, e que foi o então treinador que unilateralmente autorizou o acesso às instalações. O mesmo treinador que unilateralmente mandou remover o sistema de cartão magnético de uma das portas , apenas por conveniência. 

Quem vemos em imagens a encaminhar, que teria autoridade sobre Gonçalves, permitindo perceber a mudança de comportamento do mesmo sem ele ter de responder pelo que pudesse suceder? 

Como se não bastasse, até um vigilante (camisa branca), após conversa com o treinador, teve o mesmo comportamento de encaminhar rumo ao balneário, ou seja, foi reforçado em mais uma conversa da qual que ninguém falou até hoje. 

O enigma de quem deu aval e a indicação, que teria de ter figura superior envolvida, seguido tanto pelo chefe de segurança como pelo vigilante, está assim desvendado. 

Com precedente em decisões unilaterais, a mudança de atitude de Gonçalves coincide com o encontro com JJ, e é extensível à actuação do vigilante. Tanto que JJ fica fora sem preocupações, apenas entrando apressadamente com o soar do alarme de incêndio perto do fim do curto evento. 

O fim da teoria “mandante” 

Já nada restava a respeito de uma teoria sem sentido, que deu origem a milhares de notícias e centenas de horas de comentário sem contraditório,ao nível de um mercado de peixe alcoolizado

O principal organizador “logístico” da deslocação, Tiago Silva, colocou ainda mais uma pedra sobre o assunto novelesco, alimentado apenas por uma repetição incessante da narrativa, pois era de longe a teoria mais estúpida das várias disponíveis e contou com muita gente ainda mais estúpida de camisa e blazer a veicula-la:

Alguém pediu para irem à Academia? Não. 

Foram a mando de alguém? Não. 

A forma de presidir de Bruno de Carvalho nalgum momento motivou isto? Não.

Falou com ele sobre isto? Não.” 

Rúben Marques, o único elemento a causar um ferimento visível e comprovável, no meio de várias fantasias e contradições que foram expostas em vários artigos, admitiu ter sido convidado por um amigo (alegadamente Paulo Patarra, de acordo com a acusação inicial), e que foi sem pensar muito no assunto. 

A teoria louca “mandante” pode estar encerrada, mas o que não está encerrado é o facto de Rafael Leão sorrir a Rúben Marques, Gelson ter sido avisado por SMS, ficando ambos tranquilamente sentados, e William sair para ir “falar com Valter” num momento em que se argumentava de sequestro, com mentiras concertadas, pela impossibilidade de saída. 

A actuação do Ministério Público foi direccionada e embaraçosa, como tantas vezes foi apontado com factos. 

O fim do enigma casinha: um novo enigma emerge

Desde a tesoureira da JL, até aos arguidos presentes, passando por Vasco Santos (director de segurança), a teoria da reunião na casinha foi completamente destruída até ao último átomo. Emanuel Calças, aka “minicapo”, que em mensagens mostrou vontade de derrubar Bruno de Carvalho “no final da época”, com a inocência de quem não conhecia a dinastia que durante quase duas décadas usou o clube como brinquedo para notoriedade e negócios paralelos, foi mais uma vez taxativo, num depoimento coerente e positivo. Samico, arguido, idem

Pegou-se num evento de uma reunião, e criou-se uma história fantasiosa repleta de maldade, apesar de saberem da presença de dezenas de pessoas e não ter sido secreta. Foi assim que o MP construiu a acusação, enchendo de insinuações e fantasias qualquer momento que pudesse ser usado na finalidade política de Cândida Vilar e aliados. 

No entanto, há algo que não vou deixar passar em claro, e é só por isso que regresso a um assunto já há muitas semanas encerrado com todas as chaves possíveis e imaginárias. Esse algo tem um nome: André Geraldes.

De todos os testemunhos de gente presente na reunião, apenas o senhor Geraldes procurou incutir suspeição, de forma altiva e arrogante que vale a pena ouvir. Acontece que Vasco Santos foi informado por Geraldes sobre essa mesma reunião na casinha. Acontece também que foi Geraldes, ex-Oficial de Ligação aos Adeptos (cargo depois ocupado por Bruno Jacinto), que comunicou e insistiu com o então Presidente para estar presente. A acção de Geraldes foi determinante para a presença, sendo o único que inseriu todo o tipo de insinuações em depoimento sempre que lhe foi possível. 

Peço para ouvirem na gravação que circula online os minutos 33 e 34 do depoimento deste senhor, pois foi confrangedor. 

Tenho demasiadas perguntas a respeito de Geraldes, pois após ouvir o depoimento e procurando conhecer em detalhe tudo o que está envolvido no processo, não sei quem é esta personagem. Quero saber, e vocês também deviam querer ver respondido este novo enigma. 

Porque foi ele a estar envolvido na recusa do prémio de 500 mil euros em caso de vitória que determinaria o acesso à Champions, transmitindo tal recusa a BdC? Porque foi ele que insistiu na reunião na casinha, que depois foi usada para criar uma narrativa desmentida por todos, até por ele quando foi apertado? Que cabeça é aquela que chega ao ponto de falar numa pizza ameaçadora? Porque falou no depoimento de coisas como 2015/16 e Jesus, se nem era team manager na altura, somente OLA, e repetiu “nosso mandato” quando era apenas alguém contratado? 

Porque não transmitiu a ninguém nada a respeito de urgência na segurança, enquanto que ao mesmo tempo tentava insinuar que se apercebia disto e daquilo? Porque não se lembrava da mensagem do OLA, Bruno Jacinto, a avisar da visita de adeptos? 

Porque aparece o nome dele e do dependente hierárquico no caso Cashball, que tem todos os indícios de montagem para incriminação? Porque teve direito a capas e notícias que falavam de interesse por parte de clubes estrangeiros nos seus serviços, em paralelo com o então médico Varandas? Porque foi contratado pelo Farense e que ligações o conduziram a esse clube? Porque usou opiniões únicas, não corroboradas e tão direccionadas, que inclusive lhe destruíram o depoimento, contra alguém que o promoveu e lhe ofereceu apoio jurídico mal o caso do Correio da Manhã rebentou? 

Quem é afinal  André Geraldes e o que andou a fazer? Saiu tudo da estranha cabeça dele, uma que inclusive atordoou o colectivo de juízes no tribunal? 

O fim da teoria Juve Leo

Foi confirmado que vários elementos não eram sócios da claque, alguns nem do clube. Tratou-se de um grupo misto e nada uniforme, de pequenos grupos, que juntou alguns elementos da claque, alguns Casuals, alguns sócios e alguns simpatizantes do clube. A maior parte revoltados pelo resultado na Madeira e pelos insultos de Acuña e Battaglia, sendo que Tiago Silva explicou que os insultos que recebeu não os sentiu como dirigidos a ele, mas “ao universo Sporting e seus adeptos”. As palavras de Battaglia, às quais não respondeu pela presença do Spotter da PSP Nuno Leandro, foram as seguintes: “No eres nadie, hijo de puta”. (“Não és ninguém, fdp”)

Fontes primárias e o resto

Foram duas semanas ricas em testemunhos, vários deles disponibilizados online

Optei por esta abordagem, deixando mais de uma dezena de páginas escritas de lado, de forma a não criar confusão pela informação disponível. Recomendo que escutem as fontes primárias (áudios online) em detrimento das secundárias, onde até se mente e manipula. Por exemplo, segundo a redacção Mais Futebol, e difundido pela TVI, Emanuel Calças teria dito que “Mustafá deu-nos ordem para ir ao treino”. 

Se, recorrendo a outras fontes no mesmo dia, era fácil perceber que era mentira, o áudio tira todas as dúvidas do péssimo trabalho que tantas vezes se fez sobre este processo. Chegados quase ao fim, a desinformação reinou, e a má informação foi a regra, algo que lamento porque as pessoas (leitores/espectadores) merecem muito melhor. 

Não só se falhou no fundamental, até por vezes em meros detalhes básicos que mostraram uma preparação indigna: ora a juíza presidente Sílvia Pires aparecia como “Peres”, ora Emanuel passava a chamar-se “Manuel”. 

Escutem, por isso, os áudios disponíveis, sem manipulações intermédias. A respeito de depoimentos abonatórios e várias questões importantes derivadas, escutem o programa com assinatura da última sexta-feira (21/02) de Bruno de Carvalho na Rádio Estádio. 

Se o tempo permitir, irei ainda abordar os vários testemunhos, mas nesta fase era fundamental encerrar alguns assuntos e levantar questões que se querem esquecidas por alguns. Aqui não houve enigma, mas prioridades. 

Até à próxima. 

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Comments

  1. Manuel Antonio de Carvalho

    Mais um grande contributo do “Rugido Verde” para o esclarecimento de todos aqueles que efectivamente querem ser informados e devidamente esclarecidos.O desmontar de uma enorme cabala por parte do Rugido Verde plasmado nos imensos apontamentos bem legíveis, com detalhes preciosos de muitos “lances da invasão de Alcochete” mostram claramente que o Dr Bruno de Carvalho foi criminosamente “lá” metido à martelada!
    Um grande obrigado ao Rugido Verde.

  2. HULK VERDE

    Os enigmas vão caindo, excepto na cabecinha pensadora da Procuradora, que ou não é muito inteligente, ou sofre de algum tipo de perturbação ou problema, ou então é mal intencionada e tem de ser responsabilizada, juntamente com o Ministério Público, por fabricar narrativas.
    O único enigma que persiste é como é que ainda há adultos que acreditam em histórias da candidinha?
    Obrigado por mais uma dissecação deste processo monstruoso deturpado de forma grotesca por toda a comunicação social, talvez mais do que a própria invasão que é suposto averiguar.

  3. jorge mendes

    esta é a verdadeira narrativa, o resto é uma cabala mal montada.

  4. Green Marquis

    Belo resumo,
    Também tenho ouvido todos os audios e tem sido muito muito elucidativo.