RUGIDO VERDE

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Quarta-feira, Abril 24, 2024

Digressão à África do Sul no final da época 1992/93

FOTO: Carlos Silva

O Sporting no Soweto

A viagem do Sporting à África do Sul constitui, por si só, um acontecimento significativo, atendendo ao facto de ter sido o primeiro clube português a deslocar-se àquele país depois do levantamento do boicote desportivo. Mas o momento histórico da presença do grémio «leonino» em território sul-africano ocorreu quando a comitiva portuguesa se deslocou ao Soweto, zona segregada erguida nos limites de Joanesburgo, cidade onde hoje as cores se misturam, quando, há meia dúzia de anos o negro não podia cruzar-se com o branco.

Para muitos, tratou-se de uma aventura arriscada. A esmagadora maioria dos emigrantes portugueses radicados na África do Sul jamais pisou as ruas de terra de uma imensa região que nasceu como bairro e, actualmente, mais se assemelha a uma cidade, na qual as tribos rivais de zulus e chosas não conseguem coexistir em paz.

Mas, definitivamente, o desporto é uma armada paz e quiçá desafiando as mais elementares regras de segurança os sportinguistas entraram num «reino proibido» que tem no futebol uma das suas maiores paixões. Num país onde os brancos dedicam o seu entusiasmo ao râguebi, o futebol é um poder negro reunindo o Soweto algumas das melhores equipas.

FOTO: Carlos Silva

A ida do Sporting a South West Townshipe, sob o pretexto de uma clínica, acabou por ser o reconhecimento dessa realidade, acrescida à circunstância de os promotores da viagem da equipa portuguesa terem, por medida de precaução, transferido o jogo dos «leões» com o Moroka Swallows (um dos bairros do Soweto) do «cenário» habitual (um estádio fabuloso, construído pelo benemérito National Bank) para um outro (não menos majestoso) no centro de Joanesburgo. Motivo: o facto de o estádio do Moroka ser demasiado próximo do Soweto, o que, imediatamente, afastaria elevado número de espectadores brancos.

À chegada apenas um catraio de olho arregalado fitava, surpreendido, os «leões». Mas, à medida que os sportinguistas se tornaram mais visíveis, centenas de miúdos saltaram os muros do modesto campo para trocarem umas bolas com os craques portugueses, pretendendo mostrar imensas habilidades a reclamarem toda a atenção. Bobby Robson, pedagogo por excelência, logo reuniu muitos jovens em seu redor e organizou esquemas que entusiasmaram a garotada e tomou penosa a partida dos «leões».

Sob a bandeira do futebol, construiu-se uma oportunidade única para promover a saudável convivência entre brancos e negros num país em que as posições estão cada vez mais extremadas e os discursos de moderação parecem cair em saco roto.

Fonte: A Bola Magazine – Julho de 1993

Local: África do Sul
Evento: A Bola Magazine - Julho de 1993

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