Em junho de 1985 – Sporting na América. Cansativo, desorganizado, mas lucrativo
No final da época de 1984/85, o Sporting realizou mais uma digressão aos Estados Unidos, que teve como principal motivo de interesse a estreia do novo técnico, Manuel José. Este aproveitou a viagem para começar a esboçar a sua equipa introduzindo-lhe logo algumas modificações.
Apesar da má organização da viagem, do programa cansativo e da pouca motivação suscitada por um adversário sempre igual, Manuel José colheu informações preciosas na base das quais terá até elaborado a sua lista de dispensas que incluiu dois jogadores que foram aos Estados Unidos, Lito e Fernando Cruz. Aliás, a dispensa de Lito causou alguma surpresa, até pelo facto de Manuel José ter dispensado dois dos avançados que levou aos Estados Unidos, já que não pode contar com Jordão, Saucedo e Eldon, mas o técnico insistia na ideia de contratar o belga Cadorin, o artilheiro-mor do Portimonense na época finda.

Outra medida de fundo no que respeita à equipa foi o teste a Mário Jorge, tendo em vista o regresso do jogador à sua posição original, médio esquerdo. Naturalmente, sendo um dos melhores esquerdinos do futebol português, Mário Jorge correspondeu à ideia do técnico que poderá estar a congeminar um flanco esquerdo de alto gabarito. Para tal, Manuel José parece estar decidido a lançar Fernando Mendes, um lateral «de raça» que pode ser a grande revelação da próxima temporada, e também o guineense Forbs que aproveitou da melhor forma as oportunidades que lhe surgiram nesta deslocação, inclusivamente marcando dois dos sete golos obtidos nas quatro partidas. Com aqueles três avançados e ainda Manuel Fernandes e algum possível reforço, Forbs terá sérias dificuldades em chegar à equipa principal, mas o facto de poder vir a formar com Mário Jorge uma perigosa asa esquerda está a jogar a seu favor.
Outro jogador em foco nesta digressão foi Romeu, sempre titular. Ao contrário de Lito, Romeu era um dos nomes previamente apontados como prováveis dispensas, mas a verdade é que Manuel José parece reservar-lhe um papel de relevo na sua equipa. Também Gabriel vê a sua experiência e brio profissional recompensados com mais um ano em Alvalade, tendo provavelmente com Manuel José mais oportunidades do que com Toshack, que o «condenou» de início, pelo facto de muitas vezes ter optado pelo 3-5-2, optando por defesas/médios laterais de características muito ofensivas, e certamente também pela idade.

O Sporting realizou quatro jogos, um contra o Cosmos (derrota por 0-2) e três com o Marítimo (vitórias por 3-2, 3-0 e 1-0). Não era, porém, este o programa que os «leões» pensavam cumprir quando saíram de Lisboa, o qual previa um torneio em Toronto com a equipa local do First Portuguese, mais o Santa Clara (Açores) e o Marítimo. Não foi possível realizar este torneio nem, em sua substituição, uma deslocação à costa Oeste (San José), a outra grande colónia portuguesa, onde o Sporting participaria num torneio com o F.C. Porto, o Inex Canadá e o Vasas de Budapeste. Em lugar de todas estas hipóteses, o Sporting viu-se metido numa espécie de romaria com o Marítimo. Desta forma, garantiu o clube de João Rocha a receita de aproximadamente dez mil contos, menos do que estaria nos planos dos seus dirigentes, mas razoável atendendo aos problemas de organização.

Mesmo assim, dirigentes e técnico consideraram proveitosa esta deslocação que, de resto, esteve na origem de um precioso convite para voltar aos Estados Unidos no final de Julho ou princípio de Agosto. Esta ano não há campeonato profissional nos Estados Unidos devido à falência da maioria das equipas, pelo que o Cosmos de Nova York, agora propriedade do antigo internacional Giorgio Chinaglia, vê a sua actividade reduzida a digressões e jogos particulares e, mesmo assim, com jogadores especialmente contratados para o efeito, como o brasileiro Batista e o italiano D’Amico (que pertencem ao outro clube do Chinaglia, a Lazio) e ainda o hondurenho Figueroa, o chileno Caszely e o argentinos Marangoni. É contra esta preciosa equipa do Cosmos que o Sporting poderá vir a jogar em quatro ou cinco cidades norte americanas no começo da nova temporada a troco, diz-se, de 200 mil dólares, numa digressão que certamente será muito melhor organizada, até porque poderá pôr em risco o rendimento da equipa para o resto da temporada.

Para já, à semelhança do que acontecera com Venglos e Toshack, o Sporting volta a ir para férias com um novo treinador já minimamente identificado com a equipa. No entanto, com Manuel José, há a vantagem de se tratar de um português, por isso profundo conhecedor do nosso futebol. Em Alvalade já começou uma nova época de esperança!
Data: 15/06/1985
Local: Estados Unidas da América
Evento: Digressão de final de época
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Bela memória. Tivemos uma bela equipa nessa época. Pena que mais uma vez não chegou para ser campeão nacional. Estas digressões podiam ser proveitosas financeiramente, mas na realidade em termos físicos duvido que se tirasse grande proveito. Mais pareciam excursões organizadas pelo inatel.