RUGIDO VERDE

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Quarta-feira, Abril 24, 2024

Neste dia… em 1985 na Revista Foot: «Sousa o homem dos livres»

É livre directo à entrada da área, assinala o árbitro. Alguns leões colocam-se perto do esférico, o juíz da partida apita e Sousa arranca, vai rematar… golo. É gooooooolo do Sporting! Sousa, num remate genial, atira a contar, com o ‘keeper’ da turma contrária a olhar inconformado para a bola que acaba de beijar as malhas à sua guarda!”

Qualquer relator da Rádio podia descrever assim um dos muitos livres que o centro-campista leonino tem apontado com êxito ao longo da sua militância futebolística. Nós também já tivemos oportunidade de nos referir a alguns desses lances, que, naturalmente, estão gravados na retina dos futebolistas de bancada.

Não sendo exclusivamente um marcador de livres, Sousa é, de momento, o nosso jogador mais predestinado para tal incumbência e, por isso, os treinadores lhe conferem a tarefa. Enquanto isso, as plateias vão retribuindo com aplausos, quantas vezes?, sem pensarem no segredo ou no trabalho que ele tem para atingir a boa performance.

O Sousa conta-nos como é essa coisa da marcação de livres. O auditório da Foot, claro, vai ficar a saber como é. E os futebolistas a sério, digamos assim, ou de fim-de -semana recolherão umas ideias, para tentarem o aperfeiçoamento.

Foi na turma do Porto que ele começou a surgir com mais frequência na marcação dos livres. Antes dos treinos se iniciarem dedicava, por norma, cerca de meia hora, aos ensaios de livres.

Na sua própria companhia, Sousa colocava-se à boca da área, imaginava uma barreira, via a posição que o guarda-redes eventualmente tomaria numa situação real, preparava o couro e lá ia ele, cheio de convicção preparado para fazer o melhor, para explodir de alegria, sinal de mais um golo. Ah! e antes de tomar balanço e de se concentrar, fixava com um olhar felino, os ângulos, esses cantinhos onde ambicionava encaixar o esférico.

Sousa mudou de ares, trocou a camisola listada dos azuis e brancos pela das riscas verde-brancas e consigo trouxe entre outras, as credenciais dos livres, que se têm traduzido nuns quantos golos do team sportinguista. E, talvez não tenha rubricado mais por ter entrado no desmazelo, mas descansem os seus adeptos, que ele vai passar a dedicar mais tempo ao treino dos livres, não só para o seu próprio bem, mas, essencialmente para o da equipa.

Para além da colocação do guarda-redes – se estiver atrás da barreira é mais fácil rematar para baixo e se ficar do lado contrário chuta-se, em folha seca, para o poste oposto – é importante verificar a forma como está ordenada (ou não) a barreira, que em muitas circunstâncias não se encontra à distância.

Não tendo nenhum outro futebolista por inspirador, a despeito de relembrar o senhor Eusébio – caramba! quem tem a ousadia de o esquecer – o homem dos livres do grémio de Alvalade, que vê em Carlos Manuel e no nigeriano Sylvanus (muito completo) competidores à altura, aponta Bento como o maior obstáculo que lhe pode fazer frente no mercado interno, quiçá pelos reflexos, que teimosamente, não quer perder. E na esfera internacional, monsieur Platini é o artista que lhe enche mais a medida a marcar livres, dado tratar-se do mais completo, pois consegue conjugar o binómio força-técnica, a exemplo de si, se bem que o gaulês da Juve tenha vantagem de levar mais anos de treinos, além de ter à sua mercê umas barreiras volantes para os ensaios, similares àquelas que o brasileiro Paulo Emílio introduziu no Sporting, quando passou, é o termo, por Alvalade.

Tantos golos alcançou na transformação de livres que, naturalmente, não pode recordar todos, mas há um que lhe ficou no goto: aconteceu num Farense-Porto, em eliminatória da nossa Taça, a tal ponto de ter ficado com a impressão de nem sequer conseguir observar a bola a ultrapassar o risco fatal, tanta velocidade levava que se deixou entusiasmar.

E, para terminarmos, acrescente-se que, em dadas ocasiões, convém colocar um ou mais colegas na barreira para encobrir o guarda-redes, o qual, às vezes, vê-se baqueado, não conseguindo mexer-se. E tudo se torna mais fácil quando o livre é apontado a cinco/dez metros da área, a despeito dos do meio da rua, também, nalguns casos resultarem, como resultados mais palpáveis trazem aqueles que são cobrados do lado esquerdo, em particular os directos.

Fonte: Revista Foot/Julho 1985

Data: 04/07/1985
Local: Revista Foot

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