Neste dia… em 1970: Sporting empata em Alvalade com o Varzim (1-1) na estreia dos calções brancos com camisola e meias listadas
UM «QUARTO» BEM ARRUMADO
Por Francisco Camilo
Conforme se viu ontem, o quarto da tabela está bem arrumado… Em Alvalade, ante um Sporting cheio de futebol, confiante e poderoso, e a actuar em bom plano, o Varzim não se diminuiu, antes jogou de cabeça erguida, arrogante no repto lançado, sem subterfúgios, à indiscutível categoria do «comandante».
Os «leões» sabiam os perigos que os espreitavam, previam as contrariedades que o engenho do adversário haveria de inventar. E vá de lançarem-se num ataque tremendo, avassalador, à conquista de vantagem no marcador.
Durante vinte minutos, os sportinguistas mostraram-se como são: os grandes senhores do Campeonato. Vasta gama de recursos confirmou então o Sporting sobre a relva de Alvalade. Bola e jogadores em movimento constante, desmarcações prontas e inteligentes e remates fortes sempre que possível.
Ainda dentro da fase inicial do encontro, Marinho executou um «canto» com a conta exacta e Lourenço cabeceou o esférico com a mestria que lhe é peculiar. O couro fendeu os ares e só repousou no fundo das malhas da baliza de Benje.
Encarreirava-se o Sporting para mais um triunfo? Assim o parecia. Tudo o indicava. Quem era o Varzim para se opor aquele manancial de bom jogo? Que força poderia obstar ao triunfo «verde», apenas esboçado mas já tomado como inevitável?
Foi então que se verificou não ser a turma visitante um «onze» qualquer. Quando a pressão «leonina» se tomava mais asfixiante, quando, na opinião geral, não restaria aos poveiros se não render-se sem condições, estes ergueram-se da situação de vencidos sem apelo e passaram ao contra-ataque.
Havia, realmente, motivo para as apreensões sportinguistas. Uma tentativa, feliz e engenhosa, dos varzinistas repôs a igualdade. Notou-se então, com rara nitidez, recontar-se na luminosidade da tarde ensolarada, o perfil duma equipa que adora a luta e a combater tem alcançado os seus êxitos.
O Sporting tomou ainda o nível anterior. Um remate de Lourenço levou a bola ao poste. E se o aborrecimento atingiu os «leões» de modo negativo, mais animou os já de si animosos representantes a Póvoa.
O recomeço parecer-se-ia, imensamente, com o princípio do desafio. Viu-se o Sporting regressar das cabinas decidido a acabar com aquilo, Valha a verdade que, uma vez mais, o grupo de Alvalade portou-se à altura de si próprio.
No último reduto dos forasteiros estava, porém, um guarda-redes como não há muitos no futebol nacional: Benje. Com a sorte que protege os «keepers» que saem a tempo e são valentes, o guardião do Varzim, protegido por uma barreira resoluta até ao inacreditável, não mais foi batido.
O insólito aconteceu, no entanto, a meio desta tempo. Como se o empate lhe não bastasse ou, talvez temesse que o Sporting voltasse a marcar ( o que se apresentava perfeitamente viável), o Varzim cresceu, adiantou-se no terreno, «fez-se», descaradamente, à eventualidade de vencer o prélio. O seu objectivo não estava absolutamente destituído de fundamento pois, no melhor período dos visitantes. Aleixo desperdiçou uma oportunidade flagrante.
Mas o Sporting sentiu o perigo. O seu pundonor de «leader» incontestado e incontestável sacudiu e agitou a equipa. Novamente, os donos do campo buscaram o tento com o maior querer e a utilização de esquemas preciosos. Contudo, com os minutos à escoarem-se os sportinguistas já não constituiam o «onze» categórico de anteriormente,
A hipótese do empate ganhava forma, mais do que a probabilidade do Sporting ganhar o jogo. E assim sucedeu. A apreciação do trabalho dos jogadores sportinguistas deve ser dividida em dois períodos. No de «ouro» englobaremos todo o «onze», com realce para Lourenço e Dinis. Na fase menos convincente nenhum elemento sobressaiu, embora não houvesse quem caísse na vulgaridade.
No bloco varzinista, dois nomes: Benje e Marques, de fulgor singular. Todavia, há que englobar no mesmo parabém a equipa completa.
Boa arbitragem de Rosa Nunes. Tivemos a impressão de que Pena (?) ajeitou a bola com o braço no início da jogada – a meio-campo – do golo do Varzim. Aceitamos, contudo, que o árbitro, cerca do lance, haja visto melhor.
Fonte: Diário de Lisboa
Ficha do Jogo:
Sporting: Vítor Damas; Pedro Gomes José Carlos, Francisco Caló e Hilário; Nélson Fernandes, Gonçalves (Chico Faria 56′) e Fernando Peres; Marinho, Lourenço e Dinis.
Treinador: Fernando Vaz
Varzim: Pedro Benje; Salvador (Serrão 12′ Valdir 59′), Fernando Ferreira, Quim Rosa, Sidónio, Aleixo, José Marques, Rico, Sousa, Nunes Pinto e Pena.
Treinador: Joaquim Meirim
Golos: Lourenço 9′ (Sporting) ; Nunes Pinto 29′ (Varzim)
Data: 22/02/1970
Local: Estádio José Alvalade
Evento: Sporting (1-1) Vazim, CN - 19ª Jornada
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