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Quinta-feira, Abril 25, 2024

Neste dia… em 1969: Esta valsa está dançada. Sporting – 4 x LASK Linz – 0.

Nelson Fernandes, na área adversária.

TAÇA DAS FEIRAS ESTA VALSA ESTÁ DANÇADA

Ao vencer os austríacos do LASK por 4-0, o SPORTING quase garantiu a passagem à segunda eliminatória

Por Mário Zambujal

É caso arrumado. Por muito que se renda à tal «gloriosa incerteza do desporto» mesmo lembrando célebres façanhas de recuperação imprevistas, não é crível que esta equipa austríaca do Lask possa recorrer da sentença de eliminação, ontem à noite proferida no Estádio José Alvalade. E mais assim é porque, além da vantagem de quatro golos alcançada pelo Sporting, a equipa portuguesa terá no segundo jogo, como teve no de ontem, a vantagem fundamental: a de jogar muito melhor.

O Sporting já pode pensar no seu próximo par. A valsa (austríaca) não terminou, mas quase.

Jogar muito melhor, é o que o Sporting está a fazer, não apenas em relação a adversários austríacos de categoria mediana, mas também em relação às suas próprias exibições nas últimas temporadas. É evidente que a equipa está totalmente transformada, nos seus processos, na sua capacidade de jogar em conjunto, na confiança e na condição física dos seus jogadores. Poderá ter (que equipa as não tem?) algumas oscilações ou quebras de «forma» ao longo da época, mas já nada destruirá a conquista do mais difícil que é o enraizar num grupo um estilo próprio, uma «personalidade futebolística», a consciência plena do que há a fazer, e como se há-de fazer, para as duas acções que comandam o jogo: defender a sua baliza e atacar a do adversário.

O que mais impressiona, neste Sporting que o treinador Fernando Vaz, num golpe surpreendentemente rápido, tirou da manga da sua experiência e ciência do jogo, é justamente a forma como essas preocupações são constantes e comandam todos os movimentos colectivos. Bola em poder do adversário, e aí está todo o «onze» a colaborar no esforço deguerrear a ameaça, começando a defender muito longe da sua baliza, antes que sejam chamadas à liça os defesas, propriamente ditos. E uma vez conquistada a posse da bola, não há tardanças nem hesitações, é todo um assalto, rápido, vigoroso, a caminho do golo. E o Sporting marca como há anos não fazia; por outro lado, nos quatro jogos oficiais desta temporada, o guarda-redes Damas não foi batido uma vez sequer.

Golo de Gonçalves.

Para este estilo de jogo, em que se pede a aplicação e o interesse de todos a todo o instante, é indispensável uma boa resistência física e um alegre entusiasmo. A equipa do Sporting possui ambas as qualidades, a tal ponto que não vemos de momento outra que melhor possa utilizar as grandes armas do futebol que são o movimento e a desmarcação.

Desmarcar-se para marcar, parece ser a divisa que comanda todo o futebol atacante dos «leões» E como há sempre vários jogadores em corrida, na procura dos espaços vazios, no chamado jogar sem bola, há a efectiva possibilidade de jogar em conjunto e em progressão, coisas que muitas vezes é difícil encontrar de braço dado.

Para além destas qualidades, de natureza física e anímica, há um jogo disciplinado pelo entendimento entre os jogadores, os lances que se fazem com a segurança que vem de muitos «ensaios», Os ardis tácticos que têm como melhor exemplo o aparente abandono do flanco direito do ataque, para subitamente se desferir por aí o golpe, através de Pedro Gomes, quase sempre.

Foi ontem a primeira vez que vimos o Sporting, em jogo inteiro, nesta temporada, e se bem que a equipa tenha tido alguns breves períodos de menos acerto, confirmou, sem dúvida, o rótulo de «novo» que lhe tem sido aplicado.

É verdade que o Lask está longe de ser uma boa equipa. Mas sabemos todos que muitas vezes um grupo manifestamente inferior consegue levar a água ao seu moinho, quando os seus propósitos são quase exclusivamente defensivos e as suas ambições não vão além do empatar ou «perder por poucos». Pois era uma destas duas coisas, de certeza-certezinha, que os austríacos traziam no pensamento. A verdade é que, a perderem por 0-1 até o jogo ter uma hora de vida, eles pareceram bem encaminhados para conseguir os seus intentos. Só que esse magro golo era vantagem irrisória, relativamente à supremacia sportinguista, que não se cansara de martelar uma defesa de certo modo tosca, mas suficientemente numerosa para ir, de qualquer modo, impedindo os remates de perto ou a passagem da bola.

Ao fim e ao cabo, não foi possível aos austríacos evitar a derrota por números decisivos, mas conseguiram – isso sim – anular os melhores lances de futebol. Por ironia das coisas, os quatro golos não tiveram beleza, o ar de ponto final em jogadas de bom conjunto como várias teve à turma sportinguista.

Golo de Lourenço.

Repare-se, porém, neste pormenor: Os dois primeiros tentos foram marcados de cabeça e por jogadores de «meio-campo» que oportunamente «apareceram» na frente: Pedras (1.º golo) para atirar para a baliza que Harreiter abandonara, a bola que subira depois de um ressalto do corpo do mesmo Harreiter, junto ao seu poste esquerdo; e Gonçalves (2.º) a cabecear com subtileza, no seguimento de um «canto» apontado por Peres.

Quer isto dizer – isto e o facto de Pedras ter sido o mais frequente rematador da equipa – que o Sporting tentou ladear a dificuldade criada pela tentativa de cerco aos seus avançados. Avançou outros…

O terceiro tento marcou-o Peres de «penalty» (derrube a Nelson, que fintara dois defesas e se avizinhava da baliza) e o quarto terminou num confuso saltar e ressaltar da bola, de avançados para defesas, e vice-versa, até que Lourenço a expediu para o ponto mais indicado.

O desafio, ao fim e ao cabo, quase não passou de um monólogo sportinguista. De tal modo que o guarda-redes Damas não fez o que possa chamar-se uma defesa, isto porque os contra-ataques austríacos morreram, de morte natural, nos pés dos defensores. E natural porque, embora o avancado-centro Wieger e o extremo-esquerdo Medvir se mostrassem hábeis, esbarraram contra a força da defesa do Sporting, contra a sua inferioridade em número e também contra a imprecisão dos seus movimentos de conjunto. Muita coisa junta para dois ou três homens só.

Uma «injustiça» da partida foi a de Nelson não ter marcado um único golo, ele que esteve nos lances de melhor futebol, que desconcertou a defesa austríaca com o seu drible «gingão». Também Gonçalves, Pedras, Pedro Gomes (meio defesa, meio avançado…) e Peres se evidenciaram na maré alia do porfiar sportinguista.

O árbitro, «mister» Smith, é inglês. Ora se as regras do futebol são as mesmas em toda a parte, não deixa, porém, de haver critérios diferentes, conforme a nacionalidade do dono do apito. Sendo o senhor Smith, inglês, ninguém poderia esperar que ele não arbitrasse à inglesa, isto é, com uma certa liberalidade para o contacto físico, mesmo aparatoso, mas sem violência perigosa, ou clara infracção às regras. Muitos dos nossos espectadores se escandalizam ainda ante o aparato de uma queda ou a dureza de uma carga, em todo o caso legal. Por outro lado, certas coisas que no nosso futebol se aceitam com certa naturalidade (por exemplo, «placar» um adversário ou agarrá-lo pela camisola) são das mais detestadas e censuradas em países onde o futebol é mais «duro» do que em Portugal.

O trabalho do sr. Smith não foi perfeito, mas inteiramente aceitável. O «penalty» do 3.º golo do Sporting foi indiscutível. Se tivesse marcado outros que alguns espectadores lhe «pediram», teriam sido mais que discutíveis.

Jogo no Estádio José Alvalade, arbitrado pelo Inglês T. N. Smith.

SPORTING: Damas; Pedro Gomes, Alexandre Baptista, Caló e Hilário; Gonçalves e Pedras; José Morais, Marinho, Nelson e Peres.

LASK: Harreiter; Kalser, Sturmberger, Leitner e Viebock; Vichiel e De Bubermnik, Wendinger, Wieger, Lekrer H e Medvk.

Substituições: na equipa austríaca, Wurdinger por Bauer (no início da segunda parte) e Leitner por Chico (a 2 minutos do fim); no Sporting, José Morais por Lourenço (68 minutos) e Gonçalves por Celestino (83 minutos).

Golos: Pedras, aos 8 minutos, Gonçalves aos 60, Peres de «penalty» aos 72, e Lourenço aos 75.

Resultado final: Sporting, 4 – Lask Linz, 0.

Fonte: Jornal Diário de Lisboa

Resumo do jogo.

Data: 24/09/1969
Local: Estádio José Alvalade
Evento: Sporting (4-0) Lask Linz, 1ª Eliminatória da Taça das Cidades com Feira

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