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Sexta-feira, Março 29, 2024

Neste dia… em 1970, o Sporting vence nas Antas e confirma favoritismo ao Título

A DÚVIDA MORREU NO CARNAVAL

Lourenço no lance do golo.

O Sporting (quase, quase certo) será o novo campeão

Por Lobo da Rocha

Agora nem a tal «gloriosa incerteza do desporto» chegará para manter dúvidas sobre o destino do campeonato. O Sporting, vencedor nas Antas, beneficiou não só da sua vitória sobre o F. C. do Porto, como, ainda, do mais surpreendente dos fracassos do Benfica.

Tudo indica, assim, que o titulo já tem dono e o campeão nome…

Nas Antas estiveram duas equipas muito diferentes. Uma, a do Sporting, consciente do que quer – guia de um campeonato que sem «escândalo» parece ter já nas mãos. A outra, o F.C. Porto, saudosa do seu prestígio bem próximo aturdida ainda por uma queda que começou pela perda dos dois guardiões titulares e que se vem estendendo em descrença a quase todos.

O Sporting aqui em conformidade com o seu bom momento. O F. C. Porto com um momento de pesadelo.

Ver primeiro… mandar depois

Os «leões», sob a «varinha» de Fernando Vaz, poderão não ter agradado a alguns, mas, verdade é que a equipa soube ser «patrão». Os «leões» por essa virtude não tiveram pressas e foram velozes. Não se esgotaram e correram a todos dando às «deixas» com notabilíssimo sentido de oportunidade esse sentido que só o conhecimento da sua força e também dos seus deveres sabe dar.

A princípio – na forma de espreitar o jogo do adversário – os lisboetas postaram na frente Marinho e Dinis, com Lourenço no centro do ataque, adiantado e um terceto elástico, muito elástico mesmo, onde estavam Gonçalves, Peres e até Nelson, mas atrasado em relação ao «duo» da frente.

E os avançados portistas com Pinto na extrema-direita, Ronaldo ao centro e Nóbrega na esquerda passavam a viver espartilhados pela defesa contrária, que sempre corriam para «fechar o ângulo» aos remates.

Pouco a pouco o saber do Sporting fê-lo, de mansinho, sem quase se dar por isso passar ao ataque não descurando a retaguarda, Gonçalves e Peres, cruzando ou lançando fizeram aparecer Marinho no flanco direito quantas vezes só depois de deixar Sucena batido e sem tempo para recuperar.

O feitiço contra o feiticeiro

O perigo repetiu-se, os momentos de aflição para o inseguro Vaz surgiram naturalmente, Marinho e Dinis de extremo-a-extremo puseram a «cabeça» em água aos laterais portistas.

Num desses lances, o terceiro em três minutos surgiu o golo. Um golo magnífico de urdidura mas a soar a falso. Nelson ligeiramente deslocado serviu Lourenço e este fez o golo.

O árbitro que até aí não se deixara ludibriar pela rapidez da manobra que a defesa portuense, salientando-a, procurava anular, caiu no logro.

O feitiço virava-se contra o feiticeiro e cântaro ao ir mais uma vez «à fonte» – quebrou-se. Mas quebrou de empurrão. E foi pena pelo que fez o Sporting merecia a glória de um golo sem discussões. A discussão que só Vaz e Acácio pretenderam dar, se bem que a medo.

Forçar o ataque – cartada sem trunfos

Depois do descanso repetiu-se o «figurino» desta vez com Dinis atrás e Lourenço em cunha com Marinho, com aquele como extremo, como que preparando a equipa para a entrada de Chico.

Os «leões» foram equipa ora lá ora cá até ao quarto de hora e voltaram a sê-lo depois da troca de Dinis por Celestino feita a 15 minutos do fim.

No período intermédio, o F. C. Porto esgotou forças aproveitando as substituições para um sinal de ataque. Seninho foi fazer companhia a Chico que ao intervalo substituíra Ronaldo, saindo o defesa Acácio. Os portuenses jogaram a última cartada, adiantando Chico, Seninho e Nóbrega, com Rolando ou Pinto à mistura, mas simplesmente não tinham trunfos.

Vaz que vivera em descanso nesse curto período: pagou depois as «favas».

O Sporting com Nelson e Chico na banda tudo fizeram para mostrar que também em força física eram melhores. Sucena, salvo erro, teve ainda talento para com oportunidade impedir o 0-2, substituindo Vaz.

Um «podium» para quatro: o Gonçalves, Peres, Marinho e Dinis

O Sporting venceu e convenceu. Equipa sem «estrelas» foi ela própria sem oscilações mas também com humildade, estrela de espectáculo que só por si valeu a pena ver.

Coesa na defesa, alicerçou-se, porém, no extraordinário trabalho de Gonçalves, Peres, Marinho e Dinis. O F. C. Porto voltou a ser decepcionante por falta de força ofensiva. Nem uns nem outros nem ninguém teve talento capaz de sem «acidente» impor o jogo.

O 0-1 será desculpa até pelas circunstancias mas a verdade é que houve uma enorme diferença entre o poder fazer golos dos visitantes e a fragilidade dos da casa nesse aspecto.

Nóbrega, o mais coleante dos avançados perdeu-se com o senão de sempre. Quanto aos outros atacantes nenhum mais soube o caminho do golo.

Guardião brilhante, ágil mas inseguro quase sempre, laterais a obrigarem Vieira Nunes e Valdemar a «milagres» não podiam dar segurança a um meio-campo onde Rolando continuam a ser sombra de si próprio. Pavão e Gomes, os melhores, com bons apontamentos isolados para Seninho.

Saldanha Ribeiro de parceria com o auxiliar Joaquim Pinto teve um erro desculpável pela rapidez do lance e enorme pelas consequências.

No resto, muito bem.

Fonte: Diário de Lisboa

Ficha do jogo:

Porto: Vaz; Vieira Nunes, Sucena, Valdemar, Ronaldo (Chico Gordo 46′), Acácio (Seninho 67′), Custódio Pinto, Pavão, Rolando, Vitor Gomes e Nóbrega.

Sporting: Vítor Damas; Pedro Gomes, Caló, José Caros e Hilário; Vítor Gonçalves e Fernando Peres; Marinho, Nelson Fernandes e Dinis (Celestino 75′); João Lourenço (Chico 61′).

Golo: Lourenço (23′) (Sporting)

Data: 08/02/1970
Local: Estádio das Antas, Porto.
Evento: Porto (0-1) Sporting, CN - 18ª Jornada

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