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Quinta-feira, Abril 18, 2024

Neste dia… em 1954 – Sporting vence Benfica por (3-2) na 1ª mão dos 1/8 Final da Taça de Portugal

Atestado de técnica

por TAVARES DA SILVA

Julgamos que, em findar de época, há que entrar em linha de conta com vários dados a respeito da interpretação das partidas. As equipas descrevem, necessariamente, uma linha de forma, sendo dificílimo, senão impossível, manter indefinidamente o mesmo estado. Além do desgaste operado pelo desenvolvimento das provas, há ainda outros factores que recaem sobre os grupos, abalando-os até nos seus fundamentos e, por maioria de razão, nas suas peças mais sensíveis. Justifica-se, pois, em nosso entender, a saturação revelada por sportingues e benficas.

Por outro lado, deve afirmar-se que, seja qual for a forma dos grupos e da capacidade do seu conjunto, o vento é sempre um inimigo indesejável – um elemento que não deixa jogar, principalmente quando sopra forte…

Precisamente, o que nos diz ter sido razoável, isto é, aceitável, este jogo do Jamor, é a adaptação que ambos os grupos manifestaram, categoricamente, jogando melhor contra do que a favor do vento. Houve, sem duvida, muitas jogadas por alto, mas na maioria dos problemas os jogadores dominaram a bola, que é sempre um atestado de técnica.

Com semelhante base – seria natural que a partida atingisse um ponto alto se a manobra correspondesse. Costuma dizer-se, e a afirmação parece-nos apesar de tudo acertada, que a tática é o mais fácil de apreender desde que haja poder de execução. Verdade seja, ainda que pareça estranho, a manobra das equipas foi deficiente, faltando uma qualquer coisa a qualquer delas, coisas de diferente sinal. De um modo geral, pode dizer-se que a defesa benfiquense se comportou com regularidade, opondo-se em todos os casos e ganhando os golpes na maioria das vezes. E, no entanto, quando o Sporting forjou dois esquemas, tão seus característicos, muito simples e cómodos, o Benfica foi irremediavelmente batido. O 3.º golo adquiriu até um singular brilhantismo de execução.

Objectando, talvez se pudesse afirmar que, menos apta que em outros jogos, a temível linha ofensiva do Sporting contribuiu, de certo modo, para essa regularidade e firmeza do adversário nos seus sectores defensivos. Parece-nos, porém, que estes problemas do jogo se entrelaçam, devendo considerar-se em conjunto: – ataque de um lado e defesa do outro, ou vice-versa, onde acaba uma actividade começa outra. Restringindo ainda mais o problema, e sabendo-se que os interiores são a mola propulsora das avançadas e os médios os seus directores opositores, talvez se possa considerar que a luta Ângelo-Vasques influenciou poderosamente o jogo do Jamor. O médio benfiquense surgiu pleno de vida e desejoso de se impor, o interior sportinguista mostrou-se um pouco fatigado, concedendo muitas tréguas de sprint.

Mas o Sporting dispõe de um lote de homens que consegue, por vezes, suprir as lacunas: este fraqueja, e logo aquele faz melhor. E os problemas são resolvidos. Haja em vista a esplêndida exibição de Fernando Mendonça, jogador de excelente técnica, que esteve, na base da vitória leonina.

Temos ouvido formular muitas acusações ao ataque do Benfica, e não deixamos de cogitar sobre elas. Parece-nos, salvo melhor opinião, que se deve observar o seu trabalho à face, das unidades que o constituem. Não, se deve desejar, por exemplo, que Arsénio seja um Puskas. O critério aplica-se, agora, ao Benfica, mas é extensiva a todas as equipas. Ora, Arsénio acusou grande fadiga, e, de certa altura em diante, só a força nervosa o conseguia manter em campo e ser ainda útil. Caiado mostrou estar um pouco esquecido da tarefa de interior, e Rogério não parece dispôr, pelo menos, de momento, do vigor indispensável para o desempenho de um cargo, esgotante. Como se poderá exigir a uma equipa, sem parelha de interiores au point que encontre, nas suas infiltrações, a capacidade de remate suficiente?…E concluímos que, na sua actual medida de forças, os benficas jogaram regularmente – o suficiente para tornarem o trabalho da defesa do Sporting muito penoso.

Rebuscando-se na manobra encontram-se várias imperfeições no quadro defensivo dos sportinguistas – principalmente nos corredores laterais da pista. Todavia, uma jogada má, algumas se verificaram, não conseguiu desorientar o conjunto. Este manteve a sua inalterável confiança do principio ao fim. O que se nos afigura muito interessante e valioso. E Pondo de lado a arbitragem, que é aspecto em que há muito não tocamos, talvez que a equipa do Sporting tenha tido um pouco de sorte. Ou melhor, noutra face, que o azar recaísse sobre o Benfica ao magoar-se Fernandes, desconjuntando o seu quadro defensivo. Para semelhantes males não ná remédio, e todos têm de os suportar, hoje este, amanhã aquele. Tudo está em não perder a cabeça.

Fonte: Diário de Lisboa

Estádio do Jamor
Árbitro: Mário Garcia

Sporting: Carlos Gomes; Manuel Caldeira e João Galaz; Armando Barros, Mário Gonçalves e Juca; Galileu Moura, João Martins, Manuel Vasques, José Travassos e Fernando Mendonça.
Treinador: Joseph Szabo

Benfica: José Bastos; Ângelo Martins e Joaquim Fernandes; Artur Santos, Fernando Caiado e Francisco Calado; Francisco Moreira, Rogério Pipi, Francisco Palmeiro, Arsénio Duarte e José Águas.
Treinador: Valdivieso

Golos: Galileu 37′, Travassos 82′ (gp) e Mendonça 88′ (Sporting) ; Arsénio 34′ e Francisco Calado 77′ (Benfica)

Data: 23/05/1954
Local: Estádio Nacional, no Jamor
Evento: Sporting (3-2) Benfica, TP - 1ª mão dos 1/8 Final

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