RUGIDO VERDE

Levantar e levantar de novo, até que os cordeiros se tornem Leões!

Sexta-feira, Abril 19, 2024

Neste dia… em 1951, o Sporting goleava o Barreirense por 8-0.

O Sporting-Barreirense, visto pelo cartoon de Fernando Bento

O grupo leonino ganhou com facilidade

Por Manuel Mota

As equipas valorizam-se através dos resultados. E dignificam-se pela forma como sabem encarar a adversidade.

Ontem, no Estádio Alvalade, houve dois «teams» em tudo desiguais. Um, o vencedor, apresentou-se com certa frescura, denunciando força, capacidade, ordenação de jogo. O outro, o vencido, apresentou-se fisicamente inferiorizado, desorganizado, uma sombra de si próprio.

A primeira equipa, a do Sporting, conquistou um excelente triunfo. A marca traduz uma superioridade que foi evidente. E, de certo modo, pode dizer-se que os «leões» ainda deixaram de marcar algumas bolas… Isto define a maneira como o Barreirense… não jogou! Pois este Barreirense merece tantas palmas como o seu vencedor. O público do Sporting, no final da partida, espontaneamente, dispensou à rapaziada do Barreiro uma ovação clamorosa. Nela ia a sua admiração pela forma como os barreirenses souberam perder. Com aprumo, dignidade e brio. Nem um gesto de contrariedade, nem uma atitude desagradável, nem um aceno de mau humor. Bravo, barreirenses.

Poderíamos dizer que a isto se resumiu a partida. Na verdade, conhecendo-se o resultado, logo se depreende que o grupo que marcou oito golos foi sem sombra de duvida o melhor no terreno. Mas temos de ir mais além…

O «caso Barreirense» parece-nos de ordem física. O grupo para lá do Tejo veio de uma Divisão onde o ritmo é diferente, mais pausado, menos fatigante de nervos até. Entrou na 1ª Divisão com o pé direito, afirme-se, chegando a meio da prova em boa posição na tabela. Simplesmente, o esforço abalou a turma, arrasou os jogadores, que estão longe de ter vida simples, sem gasto de energias. Ontem, os barreirenses deram frequentemente a impressão de não poderem. Eles queriam. Mas as forças traiam-nos. As pernas não obedeciam aos miolos! Eis como o Barreirense perdeu, sem apelo, nem agravo. Lutando, sim, amas sem animo. A certa altura da partida, já com 8-0 e mais de vinte minutos para jogar, o «team» do Barreiro era uma jangada no mar revolto, sem piloto, sem esperança de ver terra firme…

Vasques em acção.

E o Sporting? – perguntar-se-á. Bem, o «team» campeão voltou a colocar Vasques no eixo do ataque. – Desde logo pareceu-nos ser esta a medida mais acertada. Se se procura um avançado-centro «à Peyroteo», Vasques não é o homem ideal. Mas se, dentro do que dispõe, o Sporting quer ter um avançado-centro – a solução Vasques é a mais adequada. Não pode é jogar especado. Movimentando-se, mexendo-se, tirando partido das suas possibilidades, Vasques satisfará. Até porque dá ao grupo, que confia nele, um estilo de jogo mais eficaz. Neste desafio, apesar de muitas facilidades que encontrou, o Sporting teve bons períodos. Jogo efectivo, retilíneo, caminhando para a frente. Martins, neste aspecto, foi exemplar em toda a primeira parte. Depois, pareceu-nos, entregou-se ao deixa andar… Facilitada pela medíocre acção de Silvino e Reis, a ala esquerda dos «leões» esteve, com Vasques, na base do 4-0 da primeira metade. Os quatro golos nasceram em lances da esquerda. Três foram marcados por Vasques.

O Sporting, não se esqueça, não teve adversário organizado mais de meia hora. Ao fim deste tempo o Barreirense era um «onze» demolido, desmoralizado, aos arrancos… O pobre guarda-redes viu-se e desejou-se. Muito fez ele. É um rapazola sem experiência, mas valente, decidido e aplicado. No fundo, uma vítima dos acontecimentos.

Analisando o jogo nos seus aspectos fundamentais, encontramos isto: meia hora de aplicação «leonina»; meia hora de calma, de poucas pressas; meia hora de despreocupação. Parece-nos que o «team» regressa ao bom caminho, ao seu estilo característico.

Passos voltou a jogar em grande plano. Confiança, autoridade, saber. Martins foi o outro bom sportinguista. E os médios alas, sem rasgos na ofensiva enquanto, houve luta, tiveram papel de vulto na derrocada do Barreirense. Pode dizer-se que: «secaram» os interiores contrários, desorganizando o ataque.

Repita-se: o Barreirense soube perder. Lutou como lhe foi possível. O «pequeno» Pinheiro, Ricardo Vale e Custódio foram os únicos a distinguir. Insuficiente.

Reis Santos faria uma grande arbitragem com menos apitadelas…

Fonte: Diário de Lisboa

Sob arbitragem de Reis Santos (Santarém), o Sporting alinhou e marcou:

Carlos Gomes; Caldeira, Manuel Passos, Juvenal, Gervásio, Veríssimo, Jesus Correia, Travassos, Vasques, Albano e João Martins.

Golos: Vasques (8′, 28′ e 32′), Jesus Correia (26′ e 54′), Gervásio (59′), Albano (61′) e Martins (68′) (Sporting)

Data: 16/12/1951
Local: Estadio do Lumiar (José Alvalade)
Evento: Sporting (8-0) Barreirense, CN - 13ª Jornada

Artigos relacionados

Comments

Leave a Reply

XHTML: You can use these tags: <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <s> <strike> <strong>