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Quinta-feira, Abril 25, 2024

Neste dia… em 1919 – Finalíssima entre Sporting e Benfica para decidir o Campeonato de Lisboa – O início da rivalidade.

Campo Grande, 20 de Julho de 1919. Segundo jogo da finalíssima entre Sporting e Benfica para decidir o Campeonato Regional. Os leões tinham vencido em “casa” do rival por 1-0, por isso apresentavam-se como os favoritos para vencer o título.

Com o País a atravessar tempos difíceis depois do assassínio de Sidónio Pais e na ressaca da Primeira Guerra Mundial, sem esquecer a epidemia de gripe que ficou conhecida como a pneumónica, vitimando milhares de portugueses entre os quais José Alvalade, a época decorreu de forma atribulada.

O Campeonato de Lisboa arrancara em Dezembro de 1918 e foi um dos mais disputados de sempre, com cinco clubes inscritos, graças ao regresso à competição do CIF e à estreia do Vitória de Setúbal na 1ª categoria.

O estreante V. Setúbal entrou muito forte e liderou na 1ª volta, mas na segunda fase da prova baqueou e o Sporting que, depois das derrotas iniciais parecera estar afastado da discussão do título, recuperou com uma serie de 5 vitórias consecutivas que o deixaram empatado com o Benfica no primeiro lugar da classificação final.

Pela primeira vez, o Campeonato de Lisboa iria ser decidido numa Finalíssima disputada à melhor de três.

Vivia-se um ambiente muito tenso entre os intervenientes e receoso do ambiente que iria encontrar, Luís Plácido de Sousa, o árbitro nomeado para o primeiro jogo no campo do Benfica, não compareceu e foi substituído em cima da hora por Carlos Pinto.

O jogo disputou-se a 14 de Julho de 1919. O Sporting alinhou com: Quintela; Jorge Vieira e Amadeu Cruz; Caetano, Perdigão e Francisco Stromp; Jaime Gonçalves, Torres Pereira, Jusa e Marcelino, verificando-se ausência de Artur José Pereira, que só chegou depois do intervalo.

Na 2ª parte, o jogador do Benfica Cândido de Oliveira foi expulso e contra todas as expectativas o Sporting venceu por 1-0, com um golo de Alfredo Perdigão.

Uma das equipas do Sporting, na época 1918/19.

Faltava disputar o 2ª jogo, o jogo que podia valer a decisão do título.

O campo do Sporting estava completamente lotado e antes de se iniciar já se sentia a tensão no ar.

Segundo a imprensa da época, ainda antes da partida ter início, dois espectadores trocaram algumas bofetadas que não tiveram consequências de maior… logo a seguir outra cena de pugilato se desenrolou, “obrigando” um guarda a puxar da sua arma e a atingir alguém, a quem abriu a cabeça!…

O Sporting fez alinhar: Quintela; Amadeu Cruz e Jorge Vieira; Joaquim Caetano, Artur José Pereira e Boaventura da Silva; Torres Pereira, Francisco Stromp, José Rodrigues, Perdigão e Marcelino.

Desde o apito inicial do árbitro, o jogo foi disputado de uma forma “viril” a roçar o violento, com agressões e insultos vindos da assistência, provocações dos jogadores para os espectadores e também entre eles.

Viveu-se um ambiente de “guerra”, onde vencer era imperioso para qualquer dos lados.

Crespo (Benfica) e Caetano (Sporting) perderam o controlo e começaram a trocar socos entre si, sendo ambos expulsos. O público invadiu de pronto o terreno de jogo.

Com a confusão, mais jogadores se agrediram, num cenário de filme de aventuras… Só a intervenção musculada da guarda republicana apaziguou os ânimos e permitiu que a partida se reatasse.

Mais tarde, Artur Augusto (Benfica) deu um pontapé no queixo do guarda-redes sportinguista, Quintela (sem bola) e foi também expulso.

Perdigão fez 1-0 para o Sporting na cobrança dum livre e levou os leões a vencer por 1-0 para o intervalo.

Na 2ª parte, a equipa leonina, com Artur José Pereira em destaque chegou ao 2-0 após cobrança de um canto. Cândido de Oliveira, de cabeça, ainda reduziu para os encarnados, que ainda tiveram um penálti falhado, por Herculano dos Santos, recém-chegado da 1ª Guerra Mundial, mas não foi o suficiente para impedir o Sporting de se tornar Campeão Regional de Lisboa.

No final do jogo, à saída dos futebolistas, um grupo de pessoas apedrejou um dos jogadores leoninos abrindo-lhe a cabeça e rezam as crónicas que espectadores chegaram ao ponto de puxar de revólveres!…

O “Diário de Notícias” escrevia na altura: «O que se passou foi indecoroso. Virá, bem sabemos, a antiga constante e refervida afirmação de que o Benfica não tem culpa dos seus partidários. Tem culpa. Não se cuida somente de arranjar jogadores que ofereçam probabilidades de ganhar desafios e arrecadar taças; é preciso também que os clubes (e neste caso o Benfica) exerçam junto dos seus jogadores e dos seus associados uma acção moralizadora, ensinando-lhes que em desporto se pode perder com honra e com brio, e se deve perder com calma e serenidade. De muitos desmandos do público, há causas que provêm da atitude dos jogadores (…) existe um público que há anos acompanha o Benfica para toda a parte sem que dessa companhia e afinidade possa de alguma forma gloriar-se o clube.»

Apesar das duas derrotas, o Benfica não desarmou e continuou com os protestos. O Benfica protestara o jogo que perdera com o Vitória de Setúbal, alegando que lhe tinha sido anulado indevidamente um golo. Por uma questão de princípio , a AFL não deu provimento ao protesto, tendo então o Benfica recorrido para a Assembleia Geral da Associação.

A questão arrastou-se e chegou-se a Julho ainda não estava resolvida, quando se avançou para a Finalíssima. Segundo consta, foi por pouco que a AFL não voltou atrás e não deu ao Benfica na secretaria o que não tinha sido conquistado em campo.

O Sporting fez saber que, se assim fosse decidido, daria o título e a taça ao rival, mas então que não contassem com ele no próximo Campeonato de Lisboa, pois passaria a jogar apenas contra clubes estrangeiros.

Já no fim do Verão, a AFL decidiu finalmente rejeitar os protestos do Benfica e atribuir em definitivo ao Sporting o merecido título de Campeão de Lisboa da época 1918/19, o segundo da história do Clube.

Data: 20/07/1919
Local: Campo Grande
Evento: Sporting - 2 x Benfica - 1

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Comments

  1. Rei Leão

    A fama, e o proveito, que vêm de longe no tempo. Ou como se costuma dizer, pau que nasce torto, tarde ou nunca se endireita. Um século depois e podiam escrever a mesma coisa acerca daquela agremiação e seus simpatizantes.

  2. ???????????????!eu ontem lì que a assembleia da república tinha validado os 22 títulos,é verdade,thanks!

    1. Não creio. A Assembleia da república quando foi obrigada a pronunciar-se sobre a petição pelo reconhecimento dos títulos do campeonato de Portugal, como títulos nacionais de futebol, passou novamente a batata quente para a tal comissão “independente” de académicos criada pela FPF para avaliar essa situação.

      www. desporto . sapo . pt /futebol/primeira-liga/artigos/assembleia-da-republica-diz-que-reconhecimento-do-campeonato-de-portugal-e-competencia-da-fpf

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