RUGIDO VERDE

Levantar e levantar de novo, até que os cordeiros se tornem Leões!

Sábado, Abril 20, 2024

Entrevista a Torcato Ferreira em 1978

Mas, quem é Torcato Ferreira, e como surgiu ele no hóquei em patins português, é o primeiro tema da nossa conversa:

– «Depois de 20 anos como praticante de futebol, hóquei em campo e hóquei em patins, ao serviço do Futebol Benfica, foi também neste clube que ainda como atleta me iniciei como treinador. O meu gosto para dirigir equipas já vem de muito jovem, em que organizava as equipas do meu bairro. Depois e pelo tempo adiante entusiasmei-me por esta actividade de orientar equipas, e posso dizer que durante 15 anos treinei equipas do Futebol Benfica. É evidente que nesta altura nunca sonhei que poderia ser um treinador de nível nacional, e que chegaria a pontos tão altos no Benfica e no Sporting, para além da selecção nacional. Após iniciar todo este trabalho no Futebol Benfica, surgiu-me um convite no Parede, onde estive durante 13 meses, até ser convidado pelo Benfica. Quando esse convite surgiu, senti imensa pena de abandonar o Parede, mas acontecia que o Benfica ficava a dois passos de minha casa e eu não poderia continuar a fazer grandes deslocações.»

– E foi no Benfica a sua grande projecção?

– «Entrei no Benfica em 1956, permanecendo no clube durante 14 anos, onde tudo ganhamos excepto a Taça dos Campeões Europeus.»

Sem que o interrompêssemos, Torcato também nos contou como deu por terminada a obra que vinha fazendo no clube da Luz:

– «Já estava há 14 anos no Benfica, e entendi que era hora de sair. Até porque nessa altura o Benfica que por sinal não pudera contar com Livramento, havia ganho todas as provas nacionais. Por outro lado na época anterior as coisas não haviam corrido tão bem, e como as pessoas se haviam habituado a ganhar, existiram alguns problemas, porque toda a gente se esqueceu que as grandes equipas também podem perder. Portanto tornava-se realmente necessário sair, até porque as pessoas não devem manter-se muito tempo nos mesmos lugares.»

Torcato Ferreira, a dar instruções a um pupilo antes de iniciar o treino.

Após uma paragem de cinco meses eis de novo Torcato Ferreira, no hóquei em patins, agora para iniciar novo capítulo da sua carreira.

– «Já há algum tempo que o Sporting vinha insistindo para que fosse para lá, pelo que após período de reflexão acabei por aceitar o convite. Logo nessa altura preveni os dirigentes do Sporting de que não iria fazer milagres, até porque preparar uma equipa de hóquei em patins, é muito mais difícil do que preparar atletas para qualquer outro desporto. Há todo o aprender a patinar bem, o que leva três ou quatro anos. Durante os dois primeiros anos os frutos do meu trabalho não surgiram logo, até porque o clube não possuía instalações próprias. Mais tarde o clube construiu dois pavilhões para hóquei em patins, além de me ter proporcionado um lote de atletas de grande valor, começando a partir dai o trabalho que está à vista»

Que culminou no título europeu, recordamos o ex-treinador do Sporting:

– «É verdade, mas devo acrescentar que só não fui campeão europeu no Benfica por mera infelicidade, pois das duas vezes que tive essa oportunidade surgiram sempre imponderáveis. Foram as lesões e o facto de nos jogos que disputamos em Espanha, os árbitros nomeados nunca comparecerem, o que obrigava a que os jogos fossem dirigidos por árbitros espanhóis. Finalmente no Sporting foi possível conseguir um cinco base, que obteve este título, que faltava no meu palmarés.»

Se mais não fizer daqui para a frente, o trabalho já realizado por Torcato Ferreira no hóquei em patins português, perdurará para todo o sempre. É que como treinador, conquistar 9 campeonatos nacionais de seniores, 3 de juniores e 2 Taças de Portugal, nos 14 anos em que esteve ao serviço do Benfica; 4 campeonatos nacionais de seniores e outros tantos de juniores, 2 Taças de Portugal e uma Taça de Campeões, durante os 7 anos em que comandou o hóquei patinado leonino, além do brilhante palmarés ao serviço da selecção nacional, onde obteve 5 campeonatos da Europa e 1 do Mundo, Torcato Ferreira é efectivamente um lendário do hóquei patinado em Portugal.

Terminou há pouco mais um campeonato nacional, com o triunfo (que poucos admitiam) incontestável da equipa de Torcato Ferreira comandada, o Sporting.

Torcato dá indicações para dentro da pista.

Sempre acreditei que ganharia o «Nacional» deste ano (77/78)

Chegou o momento de se falar do mais recente triunfo do Sporting, O campeonato nacional na presente temporada, e que será a ultima prova que Torcato Ferreira orientaria ao serviço do dos «leões», uma vez que ele próprio nos confirmou a sua irrevogável decisão de sair de Alvalade:

– «Sempre acreditei que poderia ganhar este nacional de 77/78. Aliás os próprios jogadores e os dirigentes podem confirmar, que quando iniciamos a preparação para esta fase final, o ter-lhes dito que o objectivo era o de vencer o campeonato. É certo quer na fase de apuramento ficamos em 4.º lugar, numa altura em que não pudemos contar com Chana, que estava entrosado na manobra da equipa. Evidentemente que os jogadores não se convenceram imediatamente que teríamos de jogar sem o Chana e daí os maus resultados feitos. Entretanto houve um período de intervalo entre a primeira e a segunda fase, o que me permitiu mentalizar a equipa de que teria mos de jogar sem o Chana. Logo que vencemos o primeiro jogo em Oeiras e depois o Benfica no Pavilhão dos desportos, mais me convenci de que poderíamos ser campeões.»

E, em jeito de revelação:

«Entreguei-me à equipa de alma e coração tanto mais que já havia decidido que fosse qual fosse o resultado deste campeonato eu no fim da temporada abandonaria o Sporting. Por isso tinha um desejo especial de que acabasse em beleza. Assim aconteceu e eu neste momento sinto-me imensamente satisfeito por tudo o que consegui e ainda porque quer ao sair do Benfica, quer agora do Sporting, saio «pela porta grande».

Quanto ao seu futuro como treinador de uma modalidade que já não pode perder um homem, que tanto tem feito por ela, revelou-nos:

– «Já há muitos anos que o F. C. Porto tenta que eu vá para lá. Contudo isso nunca foi possível devido a ter a minha vida concentrada em Lisboa, sou funcionário das C. R. G. E., e não desejava perder a minha posição, até porque estou quase a atingir a reforma, que me permitirá encarar o resto da vida sem problemas. Em relação à próxima temporada, o problema ainda não está totalmente resolvido, pois, apenas poderei ir para o F. C. Porto, caso seja aprovado novo estatuto que permite aos funcionários sejam reformados com 40 anos de serviço. Caso isso não aconteça não poderei ainda desta vez aceitar o honroso convite do grande clube nortenho, pois a outra hipótese que seria a de solicitar uma licença temporária não me interessa pois desse modo iria atrasar substancialmente a minha vida na companhia.»

Caso isso aconteça pensa aceitar algum convite de uma equipa do Sul?

– «Neste momento a minha decisão é descansar, pois como todos compreenderão, o trabalho de um treinador que orienta uma equipa que atinja posições que o Sporting chegou, tem forçosamente de se sentir saturado. Portanto penso descansar, ainda que a todo o momento surjam convites. O último e que me sensibilizou foi o do Oeiras, cujos jogadores pediram para que eu fosse trabalhar com eles. Esta é portanto a situação actual.»

Torcato Ferreira, na famosa equipa que venceu a Taça dos Campeões Europeus.

Data: 16/08/1978
Evento: Entrevista à Revista Golo

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