Neste dia… em 2002 – Santa Clara (0-3) Sporting. Troca de Hugo Viana por César Prates foi determinante para a vitória
OS NÚMEROS desta vez mentem e o Sporting acabou por chegar à confortável marca de 3-0 sem o justificar. A vitória não se coloca em causa – não obstante a atitude pouco assumida do líder em toda a primeira parte – mas convém também sublinhar que os leões embalaram para o triunfo através de um “penalty” mal assinalado por Isidoro Rodrigues: a falta de Telmo sobre César Prates existiu mas foi fora da área.
Os casos da partida tiveram sempre Telmo e o árbitro por protagonistas principais, já que no período inicial ficou por marcar uma grande penalidade, por falta do lateral-esquerdo dos açorianos sobre João Pinto. A questão, é claro, não se pode colocar nos termos de “mais ‘penalty’ ou menos ‘penalty’ e está tudo bem”. E no caso, como já se referiu, aquele que valeu foi o que de facto não existiu.
Três golos e mais três pontos e, portanto, objectivo completamente alcançado pelos leões no campo de um conjunto que na primeira volta empatara em Alvalade. Ontem, algo desfalcado, o Santa Clara lutou com as armas que Manuel Fernandes tinha ao dispor e só nos instantes finais é que veio a claudicar.
A estratégia do técnico de Sarilhos assentou na marcação impiedosa aos homens que mais desequilibram no Sporting, os de características ofensivas. Assim, Kali seguiu João Pinto para todo o lado, Leal e Sérgio Nunes dividiram a marcação a Jardel e tanto Telmo como o estreante Luís Soares procuraram não dar espaços a Pedro Barbosa e Hugo Viana. As tarefas do “miolo” foram entregues a Paiva e Figueiredo e no apoio a George alinharam os flanqueadores Vítor Vieira e Gabor.
O Sporting acusou, aqui e ali, a tal falta de espaço para desbobinar o seu futebol. Pese o inconformismo de João Pinto e Hugo Viana o fio de jogo do líder não tinha profundidade nem velocidade. Acresce que Rui Jorge e Beto raramente acompanharam os lances de ataque de uma equipa onde reapareceram Nélson e Rui Bento a titulares.
Sem assumir, por vias da tal falta de qualidade, o favoritismo que lhe era apontado (uma responsabilidade a que o líder não se pode furtar), o Sporting teve mesmo assim as melhores oportunidades da primeira parte, nomeadamente num remate por alto de Hugo Viana em posição frontal e num cabeceamento de Babb aos ferros da baliza de Jorge Silva.
Mas viu o Santa Clara perder o “medo” aos poucos e chegar até a equilibrar a contenda. Telmo propiciou a Nélson a intervenção mais complicada de todo o desafio e os remates de Figueiredo não deixaram de causar uns relativos calafrios.
Com a entrada de César Prates para o lugar de Hugo Viana o treinador leonino procurou acima de tudo dar à equipa aquilo que lhe falta va: velocidade. E desta feita Bölöni acertou em cheio, já que o brasileiro, a actuar no lado direito do meio-campo do Sporting, não tardou em apoquentar Telmo e ao mesmo tempo em transmitir maior acutilância aos lances.
Ameaçou a primeira vez, chegou a uma bola “impossível” depois e à terceira, qual corredor de fundo, galgou metros atrás de metros até ser alvo do já descrito despique com Telmo. A velocidade a rimar com golos.
Manuel Fernandes não perdeu tempo e reforçou o ataque, chegando inclusive a prescindir de um defesa. Perdido por um perdido por mil, é verdade, situação a que João Vieira Pinto lhe chamou um figo: duas assistências primorosas para Pedro Barbosa e para Paulo Bento e… mais dois golos para o Sporting.
Convenhamos que foi um jogo algo estranho, primeiro face a algumas dificuldades inesperadas com que o líder deparou e depois pela facilidade como chegou a números tão contundentes. Nada de ciclone a varrer o estádio de Ponta Delgada, por sinal com uma boa casa. O melhor são os três pontos e a confirmação da luta férrea com o Boavista pelo primeiro lugar.
ISIDORO RODRIGUES teve os “penalties” a estragar-lhe a vida. Um a mais e outro a menos, como já se disse. No resto não esteve mal e guardou o cartão amarelo no bolso o maior tempo possível, sempre com a partida controlada.
Apostar num defesa e ganhar o jogo
Tanta vez criticado por mexer mal e tardiamente na equipa, Bölöni deixou calados os seus mais ferozes críticos, quando trocou Hugo Viana por César Prates logo nos primeiros minutos do segundo tempo. O brasileiro, um defesa lateral que ontem, contudo, se colocou no meio-campo e num claro apoio aos lances ofensivos da equipa, foi determinante na vitória leonina, mercê da sua velocidade e arranques estonteantes.
Com Quaresma no banco e também a fazer aquecimento, o técnico romeno preferiu, todavia, apostar num defesa. Pouco tempo depois César Prates fabricou a grande penalidade que Jardel aproveitou para abrir o marcador e, acrescente-se, foi também por aquele flanco direito do ataque sportinguista que João Pinto, aproveitando os desequilíbrios criados por Prates, teve engenho e arte para servir Pedro Barbosa e Paulo Bento para os segundo e terceiro golos.
Tanto se tem elogiado o poder ofensivo dos leões que não deixa de ser extremamente curioso que a vitória sobre o Santa Clara acabou por ser selada com apenas dois homens de ataque: João Pinto e Mário Jardel, pois entretanto já Quiroga rendera Pedro Barbosa.
Ficha do jogo:
Estádio de S. Miguel, em Ponta Delgada: 14000 espectadores
Hora: 17:00 (locais) – 18:00 em Portugal Continental
Árbitro: Isidoro Rodrigues (Viseu)
SANTA CLARA: Jorge Silva, Luís Soares, Sérgio Nunes, Kali, Leal, Telmo, Paiva, Figueiredo, Vítor Vieira, Gabor e George.
Treinador: Manuel Fernandes.
Suplentes: Fernando, Barrigana, Cláudio Abreu, Míner, Keita, Glaedson e Brandão.
SPORTING: Nélson, Beto, André Cruz, Babb, Rui Jorge, Paulo Bento, Rui Bento, Pedro Barbosa (Quiroga 88′), Hugo Viana (César Prates 58′), João Pinto e Jardel.
Treinador: Laszlo Bölöni.
Suplentes: Tiago, Hugo, Quiroga, César Prates, Tello, Quaresma e Nalitzis.
Golos: Jardel 72′, Pedro Barbosa 79′ e Paulo Bento 89′ (Sporting)
Fonte: Jornal Record
Resumo do jogo.Data: 10/03/2002
Local: Estádio de S. Miguel, em Ponta Delgada
Evento: Santa Clara (0-3) Sporting, CN - 26ª jornada
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