Neste dia… em 1979, vitória difícil em Famalicão por 1-2, que permitiu seguir na perseguição aos primeiros lugares

Por Fernando Alberto
Com muitas «peladas» numa faixa central, que ia de baliza a baliza, o Estádio Municipal de Famalicão apresentou-se em péssimas condições para o encontro que era tido como capaz de vir a dar que falar. Recorde-se que, durante a semana passada, fizeram-se algumas «ondas» em Famalicão (e não só) a propósito da visita do Sporting. Isto porque (segundo diziam os próprios dirigentes do Famalicão) o Sporting devia pagar os prejuízos sofridos pelo clube minhoto aquando do jogo da primeira volta, em Alvalade, no decorrer do qual Jordão sofreu um acidente de certa gravidade que motivou o desforço de alguns adeptos leoninos mais exaltados sobre o autocarro que transportava a equipa famalicense.
Felizmente que não há a registar qualquer incidente, para além da recepção fria (e recheada de apupos) aos jogadores e acompanhantes do Sporting. Em piores circunstâncias esteve o árbitro portuense Joaquim Gonçalves, que assistia ao jogo num dos camarotes da «central», enquanto fazia horas para ir dirigir o encontro do Estádio 1.º de Maio, em Braga, e a dada altura foi descoberto e quase expulso como «persona non grata», também por causa de umas contas antigas. Valeu-lhe a protecção providencial de alguns dirigentes do clube local…
Embora o ambiente fosse propício para o despoletar de qualquer incidente, o certo é que os profissionais que andavam dentro das quatro linhas souberam respeitar-se e, assim, os que estavam à espera de um «pezinho» acabaram por descarregar o seu «fardo» sobre o juiz portuense que estava lá, como mero espectador.
Para além do que se passou à margem do rectângulo, há o jogo e a sua história: que poderia resumir-se em meia dúzia de palavras assim: o Famalicão, com Manuel Fernandes, teria vencido o Sporting por uma diferença confortável, a raiar mesmo o «escândalo». Como é evidente, há nesta afirmação um pouco de exagero, mas uma verdade: se ambas as equipas tivessem concretizado em golos todas as oportunidades soberanas de que desfrutaram, ainda assim, os locais teriam vencido folgadamente. E nesta afirmação (asseguramo-lo) não há nada de exagerado.
Posta assim a questão, será mais fácil explicar a forma como o Sporting conquistou os dois pontos. Até ao intervalo, período em que a turma de Pavic construiu o resultado, pode dizer-se que o Sporting forjou três ensejos e concretizou dois, ao passo que o Famalicão (em quatro oportunidades criadas) ficou em branco. E claro que a culpa desta improdutividade atacante da equipa da «casa», não pode ser assacada à turma forasteira, no entanto, deve salientar-se que, para além de uma certa falta de discernimento de Lula (o melhor «defesa» do Sporting), Carraça e Vitor, sobressaiu (também) o factor sorte, a pesar decididamente para o «prato» dos «leões».
No período complementar, foi ainda mais flagrante a supremacia dos locais, que teve muito de consentida e que podia ter atraiçoado a extraordinária humildade posta em jogo por uma equipa como a do Sporting, que, neste momento, está ainda envolvida na corrida para o título. Com efeito, voltaram a repetir-se situações de embaraço junto da baliza de Botelho, agora com Rufino (um avançado nato) no lugar de Albino (defesa). Mas repetiram-se (igualmente) os desperdícios. Perante isto, o que fez o Sporting? Continuou a defender-se, quase sempre, com dez elementos (excepção para Manuel Fernandes) e a tentar congelar o esférico o máximo de tempo possível, para obstar a qualquer surpresa.
Tardiamente, o Famalicão conseguiu reduzir para 2-1: faltavam, apenas, oito minutos para o termo do encontro. Foi preciso, no entanto, um defesa (Jacinto) para acertar com o alvo e pôr Botelho em xeque. Com tão pouco tempo para «queimar os últimos cartuchos», o público afecto aos locais puxou, então, o mais que pode pela sua equipa: mas, era tarde de mais para operar qualquer volte face. A ânsia de marcar, fosse como fosse, possibilitou até, um lampejo a Manuel Fernandes que, mesmo sobre a hora de cair o pano, assinou uma jogada de grande categoria que era digna de melhor sorte.
A preocupação de compensar um erro com outro erro foi tão flagrante no juiz da partida que seria fastidioso enumerar todas as falhas registadas ao longo dos 90 minutos. Apenas um exemplo: aos 24 minutos do primeiro tempo, devia ter assinalado um castigo máximo contra o Sporting, a punir mão de Laranjeira, mas, em contrapartida, beneficiou, logo a seguir, os tocais com um livre a meio campo para o qual não vislumbramos qualquer justificação.
Árbitro: Castro e Sousa (Coimbra).
Famalicão: Tibi; José Eduardo, Virgílio, Albino (Rufino, na 2.º parte) e Jacinto; Fragoso (Acácio, aos 54 m), Duarte, Vitor e Branco; Carraça e Lula.
Sporting: Botelho; Artur, Laranjeira, Meneses e Inácio; Ademar, Fraguito, Zandonaide e Keita; Manuel Fernandes e Manoel (Ailton aos 65 m).
Marcadores: Jacinto (82 m) (Famalicão) ; Manuel Fernandes (16 e 35m) (Sporting)
Fonte: Jornal Diário de Lisboa
Data: 18/02/1979
Local: Estádio Municipal de Famalicão
Evento: Famalicão (1-2) Sporting, CN - 20 Jornada



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