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Sexta-feira, Abril 26, 2024

Neste dia… entrevista a Marinho Silva em 1979: «Não me importo de jogar mal até ao fim do campeonato, se formos campeões!»

Uma das aquisições que o Sporting fez no início da época, para reforçar o meio-campo algo desfalcado da sua equipa principal, foi o jovem Marinho (Mário Abreu Alves da Silva) que nas últimas duas épocas se notabilizou como “patrão” da equipa do Braga.

A carreira de Marinho no Sporting não tem sido inteiramente feliz, pois também ele tem sido apoquentado por algumas lesões, à semelhança do que vem acontecendo com quase todos os seus actuais colegas de equipa.

Marinho, quais as suas impressões sobre a forma como lhe tem corrido esta primeira época ao serviço do Sporting?

Bem, como está à vista de toda a gente, a época não me tem sido totalmente favorável. Comecei como titular da equipa, nos jogos particulares que fizemos na Alemanha e nos EUA e ainda nos primeiros desafios do campeonato. Depois veio aquela partida com os checoslovacos do Banik, para a Taça das Taças, e magoei-me, quando estava a começar a jogar bem e a apanhar o ritmo. Então veio o jogo contra o Marítimo em que não pude alinhar por ter contraído uma gripe, até que, no treino antes do jogo contra o Varzim tornei a aleijar-me, precisamente na altura em que me estava a sentir na melhor forma, desde que represento o Sporting.

Todo esse azar pode traduzir-se em decepção?

Não, não estou desiludido com a minha vinda para cá, antes pelo contrário, sinto-me muito contente por jogar no Sporting!

Agora, com os regressos de Fraguito e Baltazar como encara a sua posição na equipa?

Eu penso que os regressos desses dois jogadores, desde que em boas condições, será muito benéfico para o Sporting. O que interessa ó que o clube disponha de uma equipa que entre em campo para ganhar qualquer jogo e tentar ainda chegar ao fim do campeonato na primeira posição. Quanto a mim, esse é mais um motivo para trabalhar mais e tentar apanhar um lugar na equipa…

Mas pensa que poderá ser titular na mesma?

Sim, depois de recuperar totalmente desta lesão, portanto com mais quinze dias e um ou outro jogo para apanhar o ritmo, penso que continuarei a ser titular.

Marinho, nascido em Macau, há 24 anos, veio para Portugal com pouca idade, radicando-se, com a família, em Braga. Foi, portanto, o Sporting de Braga o clube onde se iniciaria para o futebol de alta competição, o clube onde se evidenciou como um dos bons centro-campistas portugueses. Assim, chegou ao Sporting, vindo de um clube com estruturas completamente diferentes, com outras ambições…

Sim, Braga e Sporting não se podem comparar em nada. Há diferenças em todos os campos das suas actividades. Para mim, o Braga é já o quarto maior clube português, pois tem vindo a modificar-se bastante e está a caminho de se tornar um dos ‘grandes’ de Portugal, mas em organização, estruturas, mesmo em número de associados não se pode comparar ao Sporting…”

…e futebolisticamente falando?

Presentemente, com o Sporting completo, com todos os seus jogadores recuperados, o Braga não lhe pode fazer frente. Apesar de todas as modificações que se estão a fazer no Braga, ainda não é uma equipa para competir com o Sporting!”

Ainda em relação a Braga, qual o ambiente de equipa que veio encontrar no Sporting?

Também neste ponto as diferenças são enormes. Enquanto que lá em Braga os jogadores se encontram em qualquer momento, aqui só nos vemos nos treinos e nos jogos. Num meio pequeno, como Braga, as pessoas estão sempre a encontrar-se, nos cafés, na rua, etc., ao passo que aqui, se eu quiser ver um colega de equipa tenho que esperar pelo dia seguinte para o ver no treino. Lá é um ambiente mais propício à amizade, embora eu não queira dizer que no Sporting não há amizade. Ainda nunca vi nenhum jogador do Sporting fora do Estádio…”

Deixando Braga, a nossa conversa passou a situar-se ali mesmo em Alvalade. Qual a opinião de Marinho sobre a carreira do seu actual clube, no campeonato nacional?

Atendendo a todos os azares que nos têm ocorrido desde o início penso que a classificação actual do Sporting não é desesperante. Estamos a quatro pontos do Benfica, se eles ganharem em Viseu o jogo que têm em atraso, e a três do Porto, o que eu considero plenamente recuperável. Repare que ainda temos que receber o Benfica…”

E as exibições que a equipa tem produzido? A imprensa tem considerado que a maioria delas não foram compatíveis com os resultados…

Bem, a minha opinião pessoal é que é preferível ir ganhando os jogos, mesmo que se jogue pessimamente, do que fazer exibições de luxo e no fim só averbar derrotas… O que interessa nestas coisas de campeonatos são os dois pontos que há para disputar em cada jogo! Não me importo de jogar mal até ao fim do campeonato, se formos campeões!”

Por falar de campeonatos, que pensa o Marinho dos principais adversários da sua equipa: o F.C. Porto e o Benfica?

O Benfica está presentemente no máximo, quer física quer psicologicamente, depois daquelas três derrotas iniciais, e penso que só com muito azar eles perderão algum jogo até fim do campeonato. O mesmo se passa com os portistas, que tiveram uma quebra no princípio, mas agora estão a subir e também só muito dificilmente perderão algum jogo.”

O que dificulta imenso a recuperação do Sporting…

Sim, claro, o Sporting agora só pode contar consigo mesmo, pois recuperou algo com o despique entre os dois. O resto depende de nós e dos resultados que formos conseguir ao Porto e aqui em Alvalade contra o Benfica. No entanto, estou ainda confiante na recuperação e penso que o Sporting, com um pouco de sorte, ainda poderá chegar ao título…”

Para essa recuperação, o Sporting conta com o seu treinador, o jugoslavo Milorad Pavic. Que pensa o jogador do técnico que o comanda?

Bem, penso que não adiantarei ou descobrirei nada se disser que Pavic é um dos melhores treinadores europeus. O seu curriculum e o Seu prestígio internacionais dizem tudo!”

Sentiu algumas dificuldades em se adaptar aos seus métodos?

Sim, realmente senti muitas dificuldades, principalmente no primeiros dois meses. Em Braga tudo era diferente, e chegado ao Sporting depararam-se-me métodos de treino muito mais “puxados”, o que me fez passar por algumas dificuldades, sobretudo, para acompanhar o ritmo.”

Depois de alguns anos como profissional, que pensa da carreira que escolheu?

Não me sinto ainda realizado, pois penso que tenho muito mais para dar ao futebol. Ainda tenho muitos anos à minha frente e se tudo correr bem, subirei muito mais. Estou ainda a meio da curva ascendente da minha carreira, portanto muito longe do cimo!”

E materialmente?

No Braga eu era um dos jogadores mais mal pagos, o que é natural pois um indivíduo da terra tem sempre menos hipóteses. Nos anos em que joguei pelo Sporting de Braga não consegui juntar um tostão e, embora houvesse outros mais mal pagos, eu, que fui sempre titular da equipa, que cheguei mesmo a internacional, não me podia considerar compensado com aquilo que recebia. Agora, estou bem. O que ganho dá-me para viver bem e, até, para poder juntar qualquer coisa… “

Fonte: Revista «Golo»

Data: 24/01/1979
Local: Revista «Golo»
Evento: Entrevista

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