RUGIDO VERDE

Levantar e levantar de novo, até que os cordeiros se tornem Leões!

Sexta-feira, Abril 26, 2024

Neste dia… entrevista de Artur em 1978: «Pavic detesta perder»

Artur explosivo

Artur costuma ser o «termómetro» da equipa do Sporting. Quando ele joga o time é outro. Quando ele não joga, é outro. Com ele, a equipa tem personalidade. Joga um futebol corajoso. Tem ritmo forte. Sem ele, nem sequer está preparada(?) para permitir ao adversário a abertura da contagem.

Artur é um «leader». Artur é «coração». Viu-se em vários jogos da época passada, que o ritmo do Sporting está condicionado ao que Artur possa fazer. Quando o louro joga bem, a equipa tem opções de ataque.

Artur, faz falta ao Sporting. Entretanto, claro que isso não é bom para o Sporting. Pelo contrário, principalmente, porque se sabe que o tempo é implacável e ele já não é nenhum «menino de 20 anos».

Hoje, Artur vive, talvez, os momentos finais de sua passagem brilhante pelos caminhos do futebol. Para continuar por mais tempo é preciso preservá-lo ao máximo! O Sporting, não pode depender exclusivamente de Artur.

Ele mesmo sabe disso.

– Ainda não penso parar com o futebol, mas sei que um dia irá acontecer. Afinal, não sou uma excepção à regra. Acho ridículo pensar que ainda poderei jogar por mais um, dois ou três anos. Isso depende, principalmente, de como eu me sentir… Actualmente, posso dizer que estou bem, e me considero com disposição para jogar por muito a tempo ainda. Talvez, pelo tipo de preparação, sinto que estou, este ano, mais bem disposto e preparado.

Depois:

– Pode ser que, amanhã, não tenha mais essa disposição. Então vou pensar no dia da despedida. Quando sentir que a «máquina» não dá mais, paro mesmo. Resolvo na hora e pronto. Assim será, menos penoso. Sei que não será fácil encarar essa realidade…

Artur, logo de seguida falou da época que há pouco se iniciou:

– Penso, que ainda é cedo, para analisar a actual equipa do Sporting, em relação há época transacta. Por outro lado, poderei afirmar que o plantel… melhorou bastante. Não só pelo regresso do Bastos e do Zézinho, como as aquisições do Vitor Manuel e Marinho. Todos eles, são jogadores que já deram mostras do seu valor, e que podem ser úteis ao Sporting.

Mas, por outro lado, houve a aquisição do Pavic, que eu já conhecia do Benfica, um excelente reforço, porque é um treinador com muito prestígio, com provas dadas, e que me parece, também, dentro da linha das aquisições, foi uma boa aquisição que o Sporting fez!…

Artur e o resultado negativo do Bessa:

– O Sporting, acabou por perder com uma boa equipa, daquelas que não serão favoritas à partida para o «Nacional», mas que serão daqueles times que irão discutir o tal lugar para a Europa. No entanto, penso que não é alarmante esta derrota, no Bessa. Como sabe, há uns anos a esta parte, no Bessa, os resultados não têm sido famosos. Há que trabalhar cada vez mais, porque o fruto do trabalho a que fomos submetidos, no início de época, hão-de vir ao de cima…

Artur, as digressões, os treinos, os jogos antes do «Nacional» se iniciar:

– Penso, que os jogos que se fizeram, para «rodar» foi o ideal. Uma equipa, como o Sporting, com pretensões, deve fazer antes de cada campeonato, à volta de oito a dez jogos de rodagem, e foi precisamente o que fizemos. Como sabe, o que pode ter sido uma influência, na maioria da «malta» foi a diferença dos fusos horários, de cá para lá. De resto, nada houve nada de anormal.

Artur à conversa com «Golo»

– Artur, é necessário ir para a Alemanha para se fazer uma preparação igual à do Sporting?

– É evidente que se pode fazer em Portugal, uma preparação idêntica, mas nunca igual, porque cá não existe (é pena…) um complexo desportivo que tenha um campo relvado, piscina, posto médico, etc… como o que fomos encontrar na Alemanha. O Sporting, fez o que as grandes equipas mundiais costumam fazer!… Actualmente, há uma grande quantidade de equipas que se deslocam, para fora do seu país para o estágio inicial. Penso que foi óptimo, porque os jogadores, estiveram afastados de todo o ambiente que lhes é familiar, para se dedicarem integralmente aos treinos. Na Alemanha, houve a possibilidade de se fazer três treinos diários, que aqui, em Lisboa, era impossível fazer…

E prossegue:

– Sei que estivemos afastados da família, mas como é benéfico para o futuro, penso que compensa ter feito este sacrifício…

Este Pavic do Sporting é mais exigente do que aquele que conheci no Benfica!

Outro assunto:

– Pavic é exigente ou não, Artur?

– Como sabe, já conhecia o Pavic do Benfica, e ele como treinador exige o máximo. Ele detesta perder!… O «mister» não ficou nada contente com a «malta», depois da nossa derrota no Bessa. Penso, que teremos que trabalhar mais e mais, para podermos levar a «nave a bom porto».

Artur prossegue. Quase sem interrupção:

– Pelo que tenho notado, o Pavic, no Sporting, tem sido mais exigente do que era no Benfica. Quando ao serviço do clube «encarnado», o início, também, foi diferente. Lá também fizemos o tal estágio inicial, para depois partirmos para a digressão. No Sporting, fizemos o tal estágio, mas com jogos de permeio. Parece-me, no entanto, que a coisa foi mais difícil, do que na Serra da Estrela, quando lá estive com o Benfica.

NACIONAL

Mudando de tema:

– Penso que o «Nacional» em curso vai ser muito mais difícil do que a época passada. Além do Benfica, Sporting e Porto, há um lote de equipas que se reforçaram muito bem, e nessas posso incluir: Boavista, V. Guimarães, V. Setúbal, Braga e o «crónico» Belenenses. O Belenenses, é e será sempre um candidato a um lugar na Europa!… Até, nunca se sabe, se algumas destas equipas, aparecerão a discutir o título, como aconteceu há anos a um Boavista e a uma Académica. Este campeonato vai ser terrivelmente difícil!…

O Sporting, dentro de poucos dias, volta à alta roda europeia. Até onde pode chegar? Essa é uma das muitas interrogações que põem os sócios e simpatizantes do clube leonino. Mas, quem melhor que Artur, para nos falar da participação do seu clube nesta prova.

Ouvimos:

– Sei que o futebol checoslovaco é difícil. Essa dificuldade já vem de há muitos anos. Não conheço a equipa, mas parece-me que é um time com certo «peso, e sempre a temer…  O Sporting, tem que resolver o problema em Alvalade, pois o primeiro jogo da primeira «mão» é em «casa». Temos que vencer por margem folgada, para que em Ostrava, não sejamos surpreendidos, como fomos, o ano passado, com o Bastia.

A nossa conversa termina com Artur a analisar o trabalho que o Sindicato dos Jogadores de Futebol tem feito até agora, e o que propõe fazer para o futuro. Eis o que nos disse a este respeito:

– No Sindicato, estamos sempre a trabalhar! Só é pena que sejamos sempre os mesmos a fazer qualquer coisa.

Neste momento, há problemas prementes que continuam a ser tratados, como o caso do seguro para os jogadores de futebol. Seguro esse, que visa a incapacidade profissional, tanto temporária como definitiva. O caso, está a ser estudado, e se tudo correr bem, este ano, ainda, teremos já em vigor o seguro… Está tudo muito avançado, agora, só esperamos a contribuição do Totobola, que é uma maneira bonita de contribuir, para nós jogadores de futebol que ao fim e ao cabo, estamos na primeira linha de intervenientes na receita do Totobola.

Artur posa com a Taça de Portugal conquistada na época 1977/78.

Prossegue:

– A única maneira de motivar a classe, será nós os directores fazermos qualquer coisa, para mostrarmos que não pensamos só em nós, e que estamos a fazer algo por TODOS os profissionais da bola.

Actualmente, temos mais algumas ideias em estudo, com relevo para a previdência. Ainda, não se conseguiu arranjar uma plataforma de entendimento, e infelizmente para nós, os Governos têm mudado, e isso parecendo que não, tem prejudicado imenso o andamento do processo.

E recorda:

– Também, como você sabe, estamos a tratar conjuntamente com o CNID. (Clube Nacional da Imprensa Desportiva), de um jogo entre o Campeão Nacional e o Campeão da «Taça». Haverá uma taça em disputa que se intitulará «Super-Taça».

Penso, que já existe o «agreemant» total do F. C. Porto, aliás o treinador dos «azuis e brancos», depois de perder a «Taça», previu a «Super-Taça», para uma desforra. Parece que já existe, também acordo com o Sporting para que a «Super» seja um êxito!…

Acho que é uma iniciativa gira, onde iríamos conjuntamente com o CNID, arranjar um fundo de maneio, para fortalecer as posições de cada um. Isto é em traços largos os pontos prementes que o Sindicato dos Jogadores de Futebol, tem em marcha…

Data: 05/09/1978
Local: Revista «Golo»
Evento: Entrevista a Artur

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