RUGIDO VERDE

Levantar e levantar de novo, até que os cordeiros se tornem Leões!

Sexta-feira, Março 29, 2024

Neste dia… em 1984 – Baile enrola vira minhoto em Alvalade: Sporting – 8 x Braga – 1

Meia hora antológica, comandada pelo «maestro» António Oliveira, valeu ao Sporting «goleada» (por 8-1) a um Braga que estava a bater o pé aos «leões» até que o «astro» (rendendo o lesionado Litos) entrou a partir a mobília toda, a facultar três tentos ao «capitão» Manuel Fernandes, dois a Jordão, outro a Eldon e ele próprio rubricando lampejos de grande classe, culminados com dois «tiros» certeiros. Foi baile verde em Alvalade.

Baile dos demónios verdes

Não sei quanto pagaram os inteligentes espectadores que tiveram bom palpite e foram até Alvalade: mas, sem qualquer receio de não juntar uma bela maquia, bem podia o presidente sportinguista João Rocha mandar cobrar um extra às portas de saída, porque não haveria uma só alminha que não contribuísse de muito bom grado, talo magnífico «show» proporcionado a largos milhares que ainda a esta hora têm no olhar os feitos de Oliveira, Manuel Fernandes, Jordão e Oceano, mesmo de Damas, a acarretarem toda a turma verde-branca para um fabuloso e deslumbrante cair de pano.

Para tudo marcar uma curiosa etapa do nacional futebolístico, até a arbitragem do jovem algarvio Francisco Silva esteve a um breve passo de ser impecável: só aquela carga de Serra a Mário Jorge (23 minutos) em plena zona do maior rigor, é que ficou dentro do apito. Mas, na outra grande penalidade, nada, nadinha a contestar: um juiz com 35 anos e muito legítima ambição pede a passagem para os mais altos voos, especialmente quando se assiste a uma torrente de outras arbitragens que tanto ficam a desejar e nem por isso deixam de catapultar os seus autores para o galarim da fama.

Rápido como uma seta, o Sporting avançou no «placard»: Litos para Manuel Fernandes e o grande «capitão» a ceder ao pupilo dilecto (e vizinho) Mário Jorge a honra de rasgar a baliza bracarense. Verdade que tanto a um como a outro «team» havia gente ausente: Reinaldo, Festas e Spencer (entre os mandados por Quinito), Jaime Pacheco e Lito no exército que Toshack vai dirigindo, preocupado (até) em manter com os órgãos de Comunicação Social o mais impecável relacionamento. Talvez por isso a sorte tenha também andado ao lado do «lord» das Linhas de Torres, aparentemente mais flagelado que Quinito.

E foi com vantagem no marcador que o Sporting começou a segurar a turma minhota: só que aquele impressionante disparo de Fontes, que se esmagou contra a trave superior da rede à guarda de Damas, poderia dar equilíbrio à balança. Aconteceu (então) que um belo «livre» disparado por Sousa encontrou boa resposta na atenção de Hélder e, perante a lesão de Litos e os insistentes gritos de uma plateia que solicitava Oliveira, John Toschack não adiou a rendição: e a entrada do «maestro» iria resolver todos os problemas, virar de alto a baixo a estrutura do espectáculo, acorrentar para os «leões» um resultado histórico, para o que contribuíam (desde o minuto inicial) a atenção de Damas e a prodigiosa forca de um rapaz de 22 anos (evidentemente que falo de Oceano) que tem sido um aborrecido proscrito de qualquer selecção e, de há muito a esta parte, já merecia (pelo menos) um aceno de simpatia do responsável pela equipa das quinas.

Mas, meus amigos, o festival pertenceu a Oliveira: quando a coisa ainda estava tremida, afinfou um petardo teleguiado que entrou como bólide nas malhas contrárias. A bancada ergueu-se como uma mola, em uníssono, vibrantemente: o Sporting passava para o 2-0, a incógnita dos dois pontos poderia estar resolvida.

Praticamente, o tempo complementar abriu com um empurrão de Venâncio a Fontes: «penalty». Claro que Zinho não perdoou. E foi então que se viveu um período em que Serra e Fontes, Vitor Santos e Fortes, Artur e Sérgio Pinto se evidenciaram como muito bons executantes, com o açoriano (Fontes) a um breve lapso de desfeitear o símbolo verde-branco, não fora estar nas suas barbas um Damas que, elástico e veloz, foi buscar a bolinha, escamoteando um empate que poderia ser calafrio.

Mas não foi. O que aconteceu é que, de súbito, como que impulsionado por uma mola, Oliveira abriu o livro. Sousa já marcara o pontapé livre que Manuel Fernandes concluíra com o tiro à queima-roupa que deu o 3-1. Igualmente já se tinham processado mexidas nas duas turmas e Manuel Fernandes recuara para o lado do maestro para ceder a vanguarda à força de Eldon e à inteligência da gazela Jordão. Então, companheiros de leitura, foi um ver-se-te-avias: golos e jogadas para todos os gostos e paladares, especialmente notáveis a partir do instante em que Jordão lançou Oliveira e o regressado não desperdiçou. Um tento monumental. E viu-se sol ao fim da tarde: Oliveira estendeu a mão, Jordão estendeu a mão. Saudaram-se. Primeiro, ainda cortesmente mas, num ápice, caíram nos braços um do outro. Estoirou a massa associativa do Sporting, até porque também Manuel Fernandes correra a completar o cacho humano. Se algum problema de clivagem existia entre os tribunos, ele refugiava-se já no século passado.

Cedeu perante o terramoto toda a formação bracarense que, então, parecia anónima, a léguas-luz do que já tinha apresentado no pano verde. Oliveira (demónio à solta) escaqueirava toda a mobília dos contrários: faz novo golo (monumental), Manuel Fernandes e Jordão lançam outros remates com fogo no rastilho , o «capitão» molha, pela 3.º vez a sopa (à semelhança do que já acontecera numa «Super-taça», perante o mesmo Braga) e até Eldon, que tem andado divorciado da pontaria, fez o gosto à família. Oito-um será marca em excesso? Talvez, para quem não considera existir uma diferença assim notória entre os dois blocos. Mas, quem tem Oliveira (em pleno) tem tudo: Manuel Fernandes e Jordão terão de reconhecer que produzem um trabalho de infinita melhor qualidade quando estão acolitados pelo verdadeiro António Oliveira, maestro aqui e em qualquer banda em que se toque futebol da mais fina água.

Força de natureza: Oceano. Inteligência e classe: Jordão e Manuel Fernandes. Sabedoria e destreza: Vítor Damas. Aplicação e generosidade: Mário Jorge, Xavier, Litos e Venâncio. Mas, desculpem, ninguém pode, hoje, retirar do topo do aplauso o homem que veio de um longo lapso para regressar ao posto que, por inteiro direito, lhe pertence em qualquer bandeira clubista. A sorte continua a pertencer ao Sporting. Parabéns para Toshack: foi você quem emendou um erro crasso. Mas agora, como é saboroso o prato servido à mesa…

Neves de Sousa, in Diario de Lisboa

 

Com arbitragem (quase excepcional) de Francisco Silva (Faro) que esteve acompanhado (muito bem) por Alexandre Afonso e Martins Gravanita, alinharam:

SPORTING: Damas; Carlos Xavier, Zezinho, Venâncio e Mário Jorge; Oceano, Litos (Oliveira, 33), Virgílio e Sousa (Eldon, 73); Manuel Fernandes e Jordão.

BRAGA: Hélder; Dito; Artur, Nelito, João Cardoso e Vitor Santos; Sérgio Pinto, Serra (José Abrantes, 73) e Zinho, Fontes e Jorge Gomes (José Luís, 73).

Cartão amarelo para Sérgio Pinto e Fontes. Ao intervalo o Sporting vencia já por 2-0, com golos de Mário Jorge (5 minutos) e Oliveira (38). No segundo tempo, marcaram Manuel Fernandes (aos 72, 81 e 86 minutos), Oliveira (79), Jordão (84) e Eldon (88). O único golo do Braga foi apontado por Zinho, de grande penalidade, aos 47 minutos.

Data: 18/11/1984
Local: Estádio José Alvalade
Evento: Sporting - 8 x Braga -1

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