RUGIDO VERDE

Levantar e levantar de novo, até que os cordeiros se tornem Leões!

Sexta-feira, Março 29, 2024

O Chefe da Orquestra

Tinha já transmitido aos companheiros e consócios do Rugido Verde que não faria mais trabalhos de análise dos R&C ou outros documentos publicados pelo Sporting. A razão principal prende-se com a irracionalidade dos sócios (qualquer clube), adeptos da bola que consideram mais importante a fase da bola que entra do que uma avaliação da evolução dos ativos, passivos, capitais próprios ou resultados líquidos. Assim, para as contas em 30/09/21 já não fizera qualquer análise pois seria um desperdício de energia e tempo, incapaz de vencer as amadas parangonas. 

Ao ler a recente entrevista do senhor Zenha, inicialmente e pelo resumo que a propaganda se encarregou de difundir, não li nada fora do vulgar: palavras de circunstância tentando desdramatizar a catástrofe das contas, procurando sossegar o mercado em vésperas do lançamento do novo empréstimo obrigacionista. 

Apenas mais tarde tive acesso à entrevista completa e nem queria acreditar naquilo que estava a ler, tal a gravidade e a loucura de algumas afirmações do Sr. Zenha. Uma coisa é tratar os sócios e adeptos como desmemoriados e idiotas, outra coisa bem diferente é aplicar o mesmo tratamento a acionistas, mas sobretudo a possíveis investidores que podem ver na rentabilidade do produto a possibilidade de arriscar algumas das poupanças de uma vida. 

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Perante este cenário, e até porque na comunicação social parece existir um pacto de silêncio, que só aborda este tipo de situações depois do mal já estar feito, não poderia ficar indiferente.

Como já escrevi, foram ditas coisas tão graves e tão loucas que é difícil saber por onde começar, e por isso vou direto ao assunto.

A dada altura e falando na monstruosa dívida de curto prazo, refere “com a atual normalização”. 

O senhor Zenha já esqueceu que em fevereiro de 2019, de forma a justificar o adiantamento de 70M do contrato de 515M que herdou, teve estas declarações:

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Piorou de forma drástica e dramática todos estes itens que ele classificava como gestão irresponsável, herança difícil, um all in

Mais dívida a clubes e agentes, muita mais receita antecipada, muitos mais jogadores por pagar (Porro, Ugarte, Vinagre, Virginia, e estes são aqueles que nem a dívida está reconhecida se passar para a longa lista de dívidas, estão lá quase todos os que comprou), capitais próprios negativos, maior passivo corrente, menos dinheiro em caixa, menos ativos correntes, enfim, nada melhor do que um gráfico para comparar o peso da normalidade do Sr. Zenha.

Agora em dados, para que se perceba que o problema da herança em 2018 era efetivamente o facto de não ter peso suficiente, na graduação do senhor Zenha.

Então senhor Zenha, se a outra era uma herança pesada, um all in de uma gestão irresponsável, como qualifica perante os investidores a atual normalidade … quer avançar com adjetivos ou identificar o “NHAGA” que lhe garante que agora a bola entra sempre? Seja honesto, Sr. Zenha e não engane os investidores.

Já agora e antes de avançar para o ponto seguinte, talvez o Sr. Zenha possa explicar como tendo apenas 2.138M em caixa no dia 30/09 conseguiu pagar os 4.5M em salários no dia seguinte sem adiantar receitas, provavelmente o negócio com o Porto serviu para alguma coisa, seu maroto!!!

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Entrando no tema da antecipação de receitas futuras, o senhor Zenha afirma que mesmo com a nova antecipação de 26.7M feita no dia 17/11/2021, o Sporting ainda utilizou menos de 40% do contrato com a NOS – de 515M – e perante a insistência, a ver se confirmava um valor de 300M, o senhor Zenha deve ter tanto orgulho e convicção no número que se fechou  em copas.

Acredito que, tal como eu, os investidores tenham capacidade para fazer contas; mas antes das contas, uma referência ao facto de no prospeto de 2018 a herança ser tão pesada que não houve problema nem vergonha para divulgar o valor que ainda poderia ser utilizado:  353.7M.

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Em 30/09/2018 temos então 353.7M (o valor inicial começou a ser descontado na época em que foi assinado), já descontando uma parte significativa das receitas de 18/19 e 19/20. Decorreram mais duas épocas desportivas e entretanto, em 2019, foi feito um adiantamento de mais duas épocas ( na recente AG da SAD informou que nada foi liquidado permanecendo os dois anos adiantados). É feito agora novo adiantamento que basicamente corresponde aos direitos de mais uma época, em resumo dos 10 anos, praticamente 7 anos já foram utilizados. O senhor Zenha consegue dizer sem se rir que ainda tem utilizado menos de 40%. Se não tivesse vergonha do valor, tal como fez em 2018, tinha divulgado no prospecto, a verdade é que deve ser um valor bem inferior a 100M para as próximas seis épocas desportivas. E não esqueço porque é demasiado importante que além das receitas futuras da Sporting SAD não se coibiu de adiantar também, 24M de receitas futuras da Sporting TV.

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Numa das perguntas mais assertivas é questionado porque recorreu ao adiantamento da Nós para reembolsar o EO e não ter feito o revolving atempadamente com o novo EO.

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Inacreditável a resposta, só uma mente delirante se lembraria de dizer que não necessita de empréstimos obrigacionistas para cumprir com responsabilidades, isto dito precisamente no mesmo dia que lança um novo empréstimo e se comunica o incumprimento com obrigações pecuniárias com os credores. Mas não fica por aqui, é preciso descaramento para assumir que o adiantamento de receitas futuras tem custos e é de muito curto prazo. Tem custos e não serão pequenos e se acreditássemos que é por um prazo curto, completamente desnecessários. Mas não é ele que paga o almoço. Por outro lado, ainda nos lembramos que em 2019 adianta dois anos de receitas futuras com a justificação de pagar dívidas aos fornecedores e essas dívidas nunca pararam de aumentar e com isto fica tudo dito sobre a credibilidade do senhor Zenha.

Com sorriso e servindo um enorme gelado, justifica incumprimentos com os bancos com as dificuldades provocadas pelo choque pandêmico global.

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Será que ele pensa mesmo, que tal como os sócios também os acionistas e investidores esqueceram que durante o choque pandêmico comprou o jogador mais caro da história do clube e já nem vou mencionar o gasto no treinador e ou os milhões das vendas de atletas que andam bem acima da média dos últimos anos.

Mas a melhor tirada ainda estava para chegar quando questionado pela pressão do prazo para regularizar os incumprimentos.

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Quando se esperava uma resposta diplomática e de acordo com a importância e da responsabilidade da situação. Uma resposta que deveria ser aproveitada para mostrar vontade e empenho em manter a situação regularizada, pois, trata-se de salvaguardar o direito de preferência sobre vmocs, manter um bom plano de amortização de dívida e sobretudo justificar a utilização abusiva de capital que estava reservado. 

Tivemos uma brincadeira fantástica, pois assegura que o prazo não vale de nada e que vai argumentar com o bom senso. Por esta altura, acho que  já temos sorte em não ter dito  que tinha marcado uma reunião com os credores para resolver o incumprimento com a apresentação do título de campeão. É tão bom solver compromissos financeiros com bom senso, José Sócrates é que não se lembrou disso quando dias antes da entrada da troika teve a seguinte declaração.

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Acredito que os bancos vão conceder novo “waiver” mas estando a 4 anos do prazo de conversão das vmocs em ações, sabendo da vontade dos bancos em desfazerem-se do “problema”, sabendo também do apetite dos “abutres” , abordar o assunto com esta superficialidade é algo que só lembraria ao perito em enganar ingleses, talvez esteja a descobrir uma nova vocação, arte para enganar credores.

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Por esta altura o ridículo e a falta de noção são de tal ordem, que já vale tudo, incluindo o argumento para justificar, na atual normalidade, o brutal aumento das dívidas no clube. É que há clubes que também não nos pagam!

Quando temos uma dívida corrente a clubes de 24.187M e há clubes que nos devem 4.5M é preciso mesmo muita lata para recorrer a este argumento.

Uma boa parte da entrevista, foi utilizada para promover a enorme vontade que tem para impedir a venda da SAD recomprando as VMOCs e provavelmente antes do fim do prazo. Nada diz sobre o que estão a fazer quanto a isso apenas que existe uma enorme vontade. Deve ser parecida com a vontade que tenho em ganhar o euro milhões, o problema é que nunca aposto … resumindo, pouco importa a vontade que tem, nesta altura, importa saber o que estão a fazer quanto isso … e olhando para as contas e para a entrevista, a ideia que fica, é que nada fizeram ou estão a fazer para a impedir, antes pelo contrário.

Zero ideias, zero estratégia, uma nulidade completa ou como diz o Zenha, apenas um apelo ao bom senso.

Um apontamento final, sabendo a quantidade de obrigações, que em 2018, depois deste telefonema, de apelo ao sentimento e emoção, o pobre doutor Frederico e o senhor Zenha subscreveram.

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Espero que desta vez não tenham o descaramento de telefonar aos sócios, pois, mesmo sabendo que estou a falar para um gravador, palhaços, será o insulto mais suave. Telefone ou melhor nem precisa de telefonar, os donos do capital dos fundos parasitas, de certeza que garantem a subscrição total do Empréstimo Obrigacionista, pois, para além de marcarem território para os próximos negócios, nesta altura e olhando para as dívidas a pagar aos agentes, tem muito a perder com o eventual insucesso.

Depois de ler a entrevista toda, posso assegurar que a imagem que permanece é a do chefe de orquestra do Titanic, que perante o enorme ruído do barco a partir-se, pede aos adeptos, sócios, acionistas e investidores que continuem a bailar.

PS: Já depois de ter este artigo pronto, surgiram notícias que o fundo Apollo, está interessado em “ajudar” o Sporting na compra da dívida bancária incluindo as VMOCs. Sabendo que a Apollo é especialista em “ajudar” empresas em dificuldades, desmantelando-as e ainda que o contrato da Nós que poderia ser dado como garantia, já se esfumou, quais serão as garantias de uma operação desta envergadura … Agora pensem! Mas pensem, sobretudo, se acham que a Apollo pode ter a flexibilidade em termos de prazos dos atuais credores e ou que estão receptivos ao pagamento com bom senso.

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Comments

  1. Ricardo Jorge das Neves Martins Pereira

    Excelente!!!

    A síntese do drama que se vive no Clube.

    Varandas Out, queremos o Clube dos Sócios e não dos acionistas…

    L SL

  2. Neca Pinto

    Brilhante análise da falaciosa entrevista do Sr Zenha ?

  3. Rui Barbosa

    A realidade é inversamente proporcional à bola a entrar na baliza. Infelizmente os sócios do SCP, na sua generalidade, são um género de, digamos gente, que “mama” tudo o que lhe põem à frente sem questionar nada. Poucos são aqueles, que alertam para a fantochada que se tornou este clube, desde a garraiada de 2018, que com o alto patrocínio do MP, governo e tribunais, decidiram arruinar este clube secular.