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Quarta-feira, Abril 24, 2024

Se eu fosse o Mendes…

Se eu fosse o Mendes, criaria uma rede de influência em clubes através de parcerias ou da entrada de capital nas SADs. Quanto maior a rede maior seria o meu poder, e nos casos em que conseguisse a maioria do capital da SAD, fosse sozinho ou comparticipado, já podia deter passes dos jogadores através dos clubes. Com isso contornaria a proibição a terceiros de poderem deter passes partilhados.

Frente aos clubes que resistissem, aproveitaria fases de debilidade na sua vida financeira para os “ajudar” e financiar com juros elevados, criando assim uma dependência e os “obrigar” a entrar no circuito.

No meu país de origem, iria por todos os meios tentar controlar a federação local de futebol, usando todo o meu poder e influência para assim ser determinante nas convocatórias, para benefício dos meus jogadores. Quanto mais internacionalizações, maior o valor de mercado e a probabilidade de os tornar aceites pela massa adepta dos clubes receptores.

Iria também, como qualquer grande capitalista monopolista, comparticipar o financiamento das campanhas dos partidos que vão alternando a governação em Portugal, mas também de candidaturas individuais com reais possibilidades de vencer eleições à Presidência da República. É sempre bom ter o poder político do nosso lado ou, na pior das hipóteses, evitar que esteja contra nós.

Na imprensa escrita e TVs, criaria uma rede de avençados da base até ao topo para proteger os meus jogadores e o meu negócio, bem como avençarem as minhas notícias e rumores. Os bons desempenhos seriam amplificados e os maus omitidos.

Os valores das transações dos meus jogadores seriam amplamente inflacionados para gerar maiores comissões e beneficiar os clubes na cosmética das contas, aumentando o activo dos clubes compradores e a receita dos vendedores, mantendo dessa forma os seus associados felizes, calados e adormecidos. Todos ganhariam menos os clubes que são a minha fonte de financiamento.

Criava múltiplas empresas em cascata noutras áreas de investimentos, espalhadas por diversos países e paraísos fiscais, em parcerias com outros dirigentes de clubes, para usar de forma a camuflar os pagamentos e dificultar o acesso aos principais beneficiários.

Em Portugal, tentava ter o controlo absoluto do mercado de transferências. Criava várias empresas satélites com gente da minha confiança no comando ou ex-atletas já anteriormente agenciados por mim. Para que o negócio prospere é necessário dar a entender à opinião pública que o mercado funciona e é de livre acesso e concorrência, mas tudo o que aparecesse de empresários a querer trabalhar sem a minha bênção seria para “matar” à nascença.

Se eu fosse o Mendes, jamais um jogador meu ou da minha agência faria carreira num só clube por muito que gostasse de estar nesse clube. O jogador não pode estar muito tempo num clube: tem de circular forçosamente para gerar mais-valias (comissões) e fluxos, que são o meu ganha pão.

Os meus jogadores teriam 4 formas de ser transferidos:
– Por mérito desportivo (cada vez mais raro acontecer no panorama futebolístico actual);
– Após pedido de um treinador da minha agência colocado noutra equipa;
– Colocação por minha iniciativa num dos clubes da minha rede de influência;
– Quando nenhuma destas 3 situações acontecer, será necessário fabricar um incidente disciplinar do jogador com o clube ou adeptos, para obrigar o clube a libertar o jogador, e não ser prejudicado desportivamente e financeiramente.

Se eu fosse o Mendes, tentaria conjugar a rede de influência nos clubes com a colocação de treinadores, jogadores e directores desportivos. Seria um pacote completo e de maximização dos ganhos. Para além de os aprisionar a compras do meu catálogo, com esta rede de influências em clubes do mesmo campeonato e em clubes de países diferentes, mas que disputam também a mesma competição (UEFA), poderia influenciar os resultados das partidas e das competições. Faria muito dinheiro com o match fixing e com a valorização dos jogadores nos clubes vencedores das competições.

O grande desafio seria convencer jogadores a facilitarem em determinados jogos e contra determinados jogadores (mais valorizados do meu catálogo), porque os maus desempenhos desportivos poderiam hipotecar as suas carreiras. Para implementar este estratagema teria de ser criterioso na escolha dos jogadores. Jogadores medianos ou em final de carreira seriam os alvos e teriam a promessa que as suas carreiras não seriam prejudicadas, com a garantia de transferência para outro clube da minha esfera de influência, contemplando um aumento salarial, caso fossem dispensados por mau desempenho desportivo.

Em Portugal, teria de ser muito inteligente na gestão da minha relação com os três clubes grandes, porque todos querem ser campeões e têm massas associativas exigentes, que cobram as Direcções quando não vencem. De forma a não perder o controlo e relação estratégica privilegiada, teria de usar o meu poder e influência no jogo para ajudar desportivamente as Direcções parceiras em momentos eleitorais ou de grande contestação da massa associativa.

Ajudá-los para que sejam campeões de forma rotativa também seria uma boa opção que a todos deixaria satisfeitos, ou privilegiar para cada época o clube que teoricamente me pudesse dar maiores mais-valias com jogadores – mas aqui teria de ter cuidado para que nenhum clube ficasse muito tempo sem vencer.

Em Portugal, as vitórias, independentemente da forma como são obtidas, chegam para embriagar os adeptos.


Autor: Zé da Telha, Vendedor de gelados

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Comments

  1. Leão Comuna

    Muito bom mesmo. ?
    Só tenho pena mesmo que o povo não consiga ver que quem paga isto é ele próprio.
    É uma engorda à nossa pala e é só ver os gelados a baterem nas testas dos tontinhos.