Politiqueiros
O revisionismo e a propaganda são comuns em contextos de mudança de poder, seja na política ou no futebol. O passado é sempre terrível, o presente salvou a instituição/país da destruição, o futuro será tão ou mais radioso quanto mais rápido se ultrapassarem os problemas causados pelos antecessores. Se eventualmente algo correr mal, a “herança” servirá de bode expiatório.
Este tipo de gincana política é, portanto, natural e é com naturalidade que a generalidade das pessoas encaram estes jogos de comunicação, relativizando-os ou não.
O meu problema com esta direcção do Sporting não é, então, a tendência para a propaganda e revisionismo. É o foco absoluto na propaganda e revisionismo, principalmente quando ainda hoje colhe frutos do trabalho dos antecessores.
Foi uma época extraordinária, com o título inesperado no futebol fruto do trabalho genial do treinador, uma aposta louca e irresponsável mas é justo dizê-lo, ganha “contra tudo e todos”, novos títulos europeus no hóquei e futsal, acompanhados pelos títulos nacionais, a que se somam inúmeros outros títulos em outras modalidades (com especial ênfase no basket, A aposta desta direcção), o que diz bem do ponto de partida deste actual mandato e das bases anteriormente criadas, em contraponto com a narrativa “oficial” que pretendeu e pretende (com sucesso, diga-se), destruir a imagem do trabalho dos antecessores, trabalho que em boa parte tem servido para elevar Frederico Varandas aos píncaros.
Longe vão os tempos das vestes rasgadas pelos 20M de orçamento para as modalidades que permitiram que o clube tivesse condições para ganhar tudo em tudo. E muito tem ganho, ainda.
Não é uma questão de atribuir louros a X ou Y. O Sporting é quem ganha, quando ganha. É uma questão de se saber o que se fez bem ou mal, para lá dos soundbytes da propaganda. Já tivemos (e temos) contextos de encerramentos de modalidades, de orçamentos minimalistas e desinvestimento, como tivemos o contrário. Há razões específicas para tal, há trabalho de suporte nesse sentido, houve apostas estratégicas que nos permitem perceber a nossa história e o porquê das vitórias ou derrotas. Com uma base de 40.000 sócios pagantes e 3M em quotizações como em 2012, sem uma componente financeira importante do contrato NOS e sem A casa das modalidades, não havia “mandatos de ouro para ninguém” e mais importante, para o Sporting.
E o conhecimento do porquê, do como e por quem, para lá da espuma da propaganda, é absolutamente essencial, porque é com base nesse conhecimento e reconhecimento que os sócios decidem. E é nessas decisões que o rumo do clube é definido.
Esta época, que muitas alegrias deu aos sportinguistas, servirá também e finalmente, para o fim das narrativas à volta das heranças pesadas, “Alcochetes” e afins.
Aguardemos então por um novo ano, que no futebol falta saber se a coisa sucedeu por um alinhamento planetário feliz e nas modalidades… bem, há heranças que não duram para sempre.