RUGIDO VERDE

Levantar e levantar de novo, até que os cordeiros se tornem Leões!

Sexta-feira, Abril 26, 2024

Sonhos de Seda, Realidade de Serapilheira

Viva, LEÕES!

Desculpe quem pensava que o texto era sobre mandar mais uma(s) ferroada(s) sobre o que está mal no Sporting. São muitas, são tantas… Hoje não. Estou demasiado cansado de malhar nesse ferro a tentar forjar algo dele que valha a pena, mas todos os que leem estas palavras sabem que nada virá dali. A qualidade do “aço” é tal que a maior esperança dele é mesmo ser a fina flor do entulho num qualquer ferro velho. Hoje não.

Certo dia desta semana, acordei cedo – 5h da manhã para vocês é cedo?! – e um pensamento assaltou a minha cabeça: Para onde vai o meu Sportinguismo? Acreditem ou não, esta pergunta perturba-me. Saltei da cama e comecei a escrever o texto que vos apresento aqui.

Quando me vi compelido a viver o meu Sportinguismo, vivi-o de uma forma muito intensa, muito minha.

Começou numa certa cidade, na Venezuela, do outro lado do Atlântico, ainda muito novo. Imaginem-se um miúdo a pescar numa manhã de verão, num clima tropical, com uma camisola dum tecido irritante em contacto com a vossa pele, que só vos traz comichão, ainda por cima, debaixo dum sol insistente. A sensação será muito próxima de vestir um daqueles sacos de serapilheira com que se ia às pinhas (não sei se alguma vez tiveram esse privilégio…). Sim, eu, miúdo com uns 10 anos fui à pesca com essa camisola que de confortável tinha zero. Sim, era uma daquelas camisolas do SCP que se compravam na feira e que o meu pai um dia trouxera de Portugal. Não sei porque, mesmo com aquele incómodo toque, eu queria vesti-la. Mal sabia eu que a pele de Sportinguista era tão difícil de carregar na vida real e o que implicava ter a convicção de a vestir.

Estamos a falar dum tempo em que eu só sabia o que era o Sporting através dos relatos da bola que ouvia nos finais de manhã de Domingo, na arrecadação dum “tasco” (lá chamavam de arepera), por entre grades de refrigerantes e cervejas, de chouriças assadas, bifanas, arepas e outros que tais. Nem sabia bem o que era. Sabia que comecei a gostar a partir daí.

Entretanto, com 13 anos, voltei a Portugal dada a situação conturbada em que começara a mergulhar o país. 13 anos, numa nova realidade, numa então pequena vila da Bairrada, com o Buçaco como pano de fundo, que todos os dias estava lá ao abrir da janela.

Esta volta a Portugal trouxe-me o Sporting como eu não o conhecia. Pude aprender o que era, pude absorver o que me trazia, o que conseguia beber dele e que se entranharia por baixo da minha pele. Aquilo que a fazia arrepiar quando ouves certos “gatilhos”… Tu, como Sportinguista, sabes do que falo.

Aprendi que ser Sportinguista era muito parecido com o toque daquela camisola de serapilheira. É duro ser Sportinguista. É um banho de realidade e uma metáfora da vida. Tu sabes. Mas não deixas de a viver, certo? Está-te na massa do sangue, sabes que o teu caminho é esse. Tens essa rebeldia, porque percebes que nem toda a gente aguenta esse “fardo” pesado. Sabes que ser Sportinguista é muito mais que ser apenas adepto dum clube, apenas gostar de futebol e dizer umas patacoadas no café.

Claro que este sentimento é muito pessoal. Não é à toa que o chamo de MEU Sportinguismo. E com o passar dos anos, percebo que sempre foi mais MEU que NOSSO. Então nestes últimos 3 anos… ufff. Levei com uma bofetada de realidade, um wake up call a bater de frente, que cada vez sou mais saudosista desse MEU Sportinguismo.

O MEU Sportinguismo rege-se por valores, convicções, certezas. Sobre o que é PARA MIM o Sporting, e sobre O QUE NÃO É PARA MIM o Sporting.

Mas qual o porquê de tudo isto, perguntarás tu. Simples, respondo-te eu. Porque na vida, o simples facto de estares ocasionalmente a ganhar não pode ser motivo para te arredares das tuas convicções. Por isso se chamam convicções e não… conveniências.

Sei o que muitos “sportinguistas” fizeram naquele verão passado. Sei e foi ali que fizeram quebrar o cristal que era até então o meu Sportinguismo. Já o tinham tentado em 2011, mas tinham sido apenas alguns. Não tinham conseguido, mesmo depois daquela madrugada medonha que ensombrou os meus sentimentos e convicções. O MEU Sportinguismo “estalou” nesse dia de verão. Como um cristal que quebra. Todos sabem a sensação que tem ao olhar para um cristal quebrado, estalado, como quiserem. Perde-se a unidade, a integralidade, deixa de ser algo uno e indivisível.

Hoje vejo uma vitória e não a consigo ver MINHA, percebes? Foi-me roubado isso. O sentimento de pertença, aquela sensação que tinha de ser, de facto, diferente. Como eu achava que era. Como hoje tenho a CERTEZA de que, de facto, SOU DIFERENTE de uma massa anónima que sentia como também sendo minha. Um destes dias ouvi “já alguma vez viste uma multidão a pensar?”. Pensei eu: Perfeito, isso mesmo!

Não vendo as minhas convicções a vãs glórias. Podem vir pintados de ouro e diamantes, podem-se cobrir das glórias todas e colocá-las em grandes parangonas de seda… Não são o MEU Sporting.

Hoje devia estar alegre, mesmo com tudo o que se passa à nossa volta. Mas não estou. Porque não vendo a minha convicção e os meus valores. Porque não lhes vendo por tão pouco aquela camisola de serapilheira que trago entranhada na pele. Essa é minha e só eu a visto. Essa, não tiram eles. Vivam os anos que viverem, não serão capazes de me tirar essa camisola.

Porque o estado d’alma também se canta, deixo-vos com esta:

This been the road so far

Até Breve!

Texto por: No Rules, Great Saké!

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