RUGIDO VERDE

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Terça-feira, Outubro 15, 2024

Adeus Sporting

Todos temos estes momentos nas nossas vidas: quando escolhemos o curso superior porque julgamos que nos dará a profissão dos nossos sonhos. Quando encontramos a rapariga que corresponde a todas as nossas expectativas. O carro que sempre ambicionámos ter. Aquela viagem de férias especial para um destino deslumbrante. E o clube vitorioso de qual nos queremos orgulhar e celebrar cada conquista.

Durante a vida criamos constantemente expectativas relativamente às pessoas de quem gostamos e às coisas que apoiamos ou ambicionamos ter. Criamos uma imagem ideal que se torna, bastas vezes, mais forte do que a própria realidade.

Quando a profissão idealizada não corresponde às expectativas, quando a mulher dos nossos sonhos tem um carácter incompatível com o nosso, quando o clube que idealizamos se transforma numa pálida imagem do que sempre apoiámos, a natureza humana tende a negar a realidade dos factos. Agarramo-nos à utopia e, quais D.Quixotes, lutamos contra os moinhos de vento para atingir algo de inalcançável: que a utopia substitua o mundo real.

Negamos que o trabalho nos causa frustração. Aguentamos uma relação porque ela é a mulher que sonhamos ter. Insistimos no apoio ao nosso clube porque acreditamos que a maioria pensa como nós. A realidade diária dos factos, o alarme constante dos nossos sentimentos, a evidência de que o ideal se extingue, tudo isso é colocado em segundo plano porque nos recusamos a deixar que as nossas expectativas, as nossas ilusões, se desvaneçam perante os nossos olhos.

No caso do Sporting, mais do que um clima de contestação vive-se, acima de tudo, um ambiente de desintegração do Sportinguismo. Existe uma faixa enorme de adeptos que se identifica cada vez menos com aquilo em que a instituição se tornou. Muitos desistem, outros tornam-se indiferentes às constantes peripécias da vida do clube.

A paixão morre porque a ilusão tambem se desvanece. O associativismo esvai-se, estrangulado por uma direção do clube que, voluntariamente, o asfixia. O coração do clube, a razão da sua existência, parece conformado, a mirrar dolorosamente.

“Como chegámos aqui?” questionam-se alguns. Se calhar não chegámos… fomos sempre assim. Quando o fundador do clube revelou o seu  desejo de que o Sporting fosse “tão grande como os maiores da Europa”, devia ter-se questionado se os seus sócios e adeptos também aspiravam ao mesmo.

Tendo em conta os acontecimentos dos últimos dois anos… parece que não. Somos cada vez mais um clube de serviços mínimos, conformado, emplastro de um dos nossos rivais, resignado a um destino de migalhas. Consumidos por lutas internas, os outros grandes sorriem perante a autofagia de um clube grande… que se diminui constantemente.

Refém de uma casta que teima em iludir os adeptos menos informados (ou desinformados), o Sporting cada vez ambiciona menos e se queixa mais. O clube transformou-se no fado do coitadinho. Ou se calhar, sempre foi assim (salvo raros períodos de excepção).

Quem sofre são aqueles sportinguistas que idealizaram o Sporting à imagem das aspirações do seu fundador. Aqueles que vivem o clube com tamanha paixão que não conseguem conceber o mesmo numa versão diminuída e engelhada. Não percebem o conformismo, o fechar de olhos ao espoliar da instituição, o amordaçar da vontade dos associados. Confundidos, questionam-se: “Mas é “este” Sporting que a maioria quer?”

A resposta é, bastas vezes, um silêncio ensurdecedor. Os ideais sportinguistas são, cada vez mais, verbo de encher. A militância de alguns é esmagada pela inércia e indiferença de muitos. No Sporting os criminosos são elevados ao poder e as vítimas vilipendiadas. Um clube ao contrário, onde qualquer aspecto positivo é espremido e saboreado com sofreguidão, tão grande é a falta de exigência. O Sportinguismo é isto?

Todos temos estes momentos nas nossas vidas: algo em que apaixonadamente acreditamos ou queremos, não corresponde à realidade nua e crua dos factos. Ao olhar para o clube nos dias de hoje, atormenta-me a dúvida: “ Estarei a dizer adeus ao Sporting? Ao clube que idealizei? Ou esse mesmo clube nunca existiu?”

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Comments

  1. Rui Barbosa

    Nem mais. Sinto isso mesmo há mais de 2 anos.

  2. A croquetada está em delírio com a presença na final da taça da carica se ganharmos , farão uma festa de dimensão igual a uma final da LCE , se perdermos será a confirmação que o BRAGA do trolha é o 3º grande e que a nós nos resta, pastar pela que resta da liga e sonhar com uma ida a pré da LCE porque a exigência é nula e valha a verdade , o plantel bastante limitado a entrada para a 2ª volta desesperam por um banal Paulinho do clube do trolha como se não houvesse mais avançados no mundo .

  3. Leão do Nordeste

    Eu nunca direi adeus ao Sporting Clube de Portugal. Nem quando morrer.

    É uma relação eterna.

    Nunca desistirei do SCP.

    Há que lutar e mudar o que está errado neste momento na vida do Clube.

    Desistir, não.

    Dos fracos não reza a história.