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Quinta-feira, Abril 25, 2024

Barómetro Audaz IV – Que Difícil é ser Português… e jogar no Sporting

A audácia é definida no Dicionário Priberam como um “impulso que leva a realizar atos difíceis ou perigosos”, ou um “comportamento ou atitude que contraria hábitos, costumes ou hierarquias”. Sinónimo de coragem, intrepidez e ousadia na primeira definição, e de atrevimento e insolência na segunda.

Ora, se não é um Sporting assim, audaz, que queremos, o que é que andamos aqui a fazer?


A crónica desta semana dedicar-se-á à averiguação da veracidade de um tema muito falado ao longo do tempo, que tem vindo a ser cada vez mais pertinente, dada a influência de certos indivíduos no futebol nacional.

Vou tentar, sem me alongar muito mais que o necessário, fazer uma comparação do que é preciso para um jogador do Sporting representar a Seleção Nacional, em comparação com jogadores de outros clubes, principalmente do outrora tido como maior rival. Também irei ter em conta o agenciamento dos jogadores, de forma a mostrar (a quem tenha vivido debaixo de uma rocha nos últimos anos) a influência de Jorge Mendes nas convocatórias da Seleção Nacional A. Vou focar-me nos últimos seis anos, já que Fernando Santos, atual selecionador, assumiu o cargo em 2014. Vamos a isso?

Como toda a gente sabe, as seleções são uma enorme montra para os jogadores de futebol. Dão nas vistas, muitas vezes em grandes palcos, e só o facto de serem internacionais serve para valorizar o seu passe e despertar interesse. Não é surpresa nenhuma que no futebol-negócio que experienciamos hoje, e num país como Portugal, onde até os três maiores clubes de futebol estão na mão de um super-agente, a Seleção sirva de montra para os jogadores deste empresário: Jorge Mendes.

Tem sido recorrente a convocatória de jogadores representados por Jorge Mendes, apesar de vários nem no clube nem na Seleção renderem o suficiente para justificar a convocatória. É também notório que um jogador do Sporting Clube de Portugal encontra muita maior dificuldade para entrar no “grupo” do que um jogador que faça meia-dúzia de jogos pelo benfica. Jorge Mendes e sport lisboa e benfica, são os dois tentáculos (muitas vezes fundidos num só) a que Fernando Santos tem de agradar.

O exemplo mais flagrante da discriminação dos jogadores do Sporting foi o Europeu de 2016. Sim, o Europeu de 2016, que vencemos com uma base de… jogadores do (e formados no) Sporting. Incoerente? Nem por isso. Vamos avivar memórias.

A Fase de Grupos do Euro 2016, para Portugal, ficou famosa por não termos vencido nenhum jogo (três empates). Ao contrário de Scolari, que em 2004 aproveitou o meio-campo de um F.C. Porto que vinha de uma época brutal, para beneficiar a equipa nacional com o entrosamento entre Costinha, Maniche e Deco, o selecionador Fernando Santos não quis fazer o mesmo com William Carvalho, Adrien Silva e João Mário, que vinham de uma época extraordinária no Sporting (que foi roubado do título de campeão nacional, coisa que todos os dias fica mais evidente, através das investigações que são feitas ao falso campeão dessa época).

O selecionador nacional gostava mais de colocar a jogar, por exemplo, André Gomes (Gestifute – 4 jogos a titular no Europeu). Só quando as suas opções começaram a recair nos jogadores efetivamente em forma, a Seleção conseguiu mostrar alguma coisa (e mesmo assim, sempre no limite). Relembrar que dos 13 jogadores que jogaram a Final contra a França, 4 atuavam no Sporting, e 10 (!) foram formados na Academia de Alcochete. Foi o maior manifesto anti-propaganda relativo às formações em Portugal que alguma vez existiu. Apesar de todas as capas e todas as bajulações… Fernando Santos teve de recorrer aos “Aurélios” para trazer o troféu para casa.

Os “Aurélios” – apesar de poucos serem verdadeiros Leões, a verdade é que todos devem ao Sporting a sua formação enquanto jogadores.

Isto poderia ter servido de lição ao treinador, mas não serviu. Fernando Santos, desde sempre e para sempre, dá preferência aos jogadores dos tentáculos acima referidos. São inúmeros os jogadores medíocres ou em baixo de forma a quem são dadas repetidas oportunidades por ele em detrimento de outros. Rúben Semedo, titular do Sporting de 15/16 a 16/17, teve de se juntar ao Olympiacos (clube do “carrossel”), para ser chamado à seleção. Já Rúben Dias (benfica) não precisou de esperar. Até Ferro, apesar de não ter jogado, foi já convocado para a Seleção.

São muitos os casos de jogadores com ligação a Mendes e/ou ao benfica, que pouco ou nada precisam de fazer para jogar por Portugal: Hélder Costa, Gedson Fernandes, Nélson Oliveira, Renato Sanches, que estando em forma ou não, aparece sempre na lista.

Em sentido contrário, só jogando num clube como o Sporting é que o melhor jogador e marcador do campeonato (até à data), Pedro Gonçalves, é suplente dos… sub-21. Só jogando num clube como o Sporting é que Nuno Mendes não é convocado para a Seleção A. O mesmo serve para Palhinha. Alguém tem dúvidas que se estes três jogadores representassem o clube rival, já faziam parte das opções? Fora as belas capas de jornal a que teriam direito. Rafael Leão (que desprezo como pessoa), fez figura no Sporting, no Lille e, agora, num grande AC Milan, mas quem é convocado é Paulinho. Podence (que ainda desprezo mais), só depois de entrar no “carrossel” é que começou a ser convocado.

Seria conversa de coitadinho caso fosse mentira. Não vou estender, sequer, a análise às seleções jovens (que funcionam exatamente da mesma forma), porque o artigo se tornaria demasiado extenso – mas basta pensar no exemplo que menciono acima. Pedro Gonçalves, num extraordinário momento de forma, é suplente dos sub-21, enquanto Gedson, que não calça no seu clube, é titular.

As estatísticas de Gedson Fernandes e Pedro Gonçalves, em 2020/2021

Para se ter a noção do quão poderoso é o binómio Mendes/benfica, há que mencionar que o jogador supracitado até faz, indiretamente, parte da rede de Mendes, mas é mais importante valorizar os Florentinos e os Gedsons (benfica) do que colocar os jogadores em forma a jogar. Não surpreende depois vermos uma Seleção Portuguesa “à rasca” para vencer, por exemplo, os sub-21 de Chipre.

Sempre foi assim. Até Rui Patrício, um dos melhores guarda-redes da história do país, se viu aflito para começar a jogar pela seleção. Há um sem-fim de jogadores formados e associados ao Sporting que se tivessem surgido do outro lado da Segunda Circular, seriam donos e senhores deste país.

No entanto, a história não mente. No fim de contas, quando é para obter resultados, é sempre da mesma árvore que saem os frutos da vitória.

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Comments

  1. A Martins

    A verdade pura e simples! até Rui Jorge já alinha com esta pouca vergonha.
    Além do Benfica e Jorge Mendes, também a FPF alinha com esta “trupe” mercantilista, arregimentando selecionadores alinhados, à imagem de um Fernando Santos, tão “beato”, mas tão injusto, relativamente a alguns jogadores.
    Esta questão de ser dificil aos jogadores do SCP acederem à selecção já vem de longe. Quem não se recorda das injustiças a Manuel Fernandes, Sá Pinto, João Moutinho, Adrien, entre outros?
    QUE TRISTEZA!!!

  2. Leão Comuna

    Texto escrito com bastantes evidências e audácia de facto!