RUGIDO VERDE

A recuperação de quotas em atraso por parte desta direcção do Sporting Clube de Portugal tem sido um sucesso – um sucesso tão grande como os maiores da Europa! E tem sido tão bem sucedida que os prazos de término têm sido constantemente adiados, tal é a quantidade de dinheiro a rodos e militância com que têm sido bombardeados na sede do Campo Grande.

No entanto, e apesar do sucesso plenamente justificado e sintomático da união que se vive hoje num clube que até há pouco mais de dois anos tinha apenas médias de 15-20 mil espectadores pagantes, e hoje em dia, sabe-se bem, tem médias estrondosas e avassaladoras acima dos 40 mil para cima, eu decidi ir contra a corrente e não pagar as quotas em atraso.

Serei menos sportinguista? Não sei. Sempre me foi complicado quantificar o “sportinguismo”. É-me mais fácil definir o que não é sportinguismo. E há certos comportamentos que acho que em nada beneficiam o Sporting. Mas, lá está, são apenas interpretações pessoais e, felizmente, no Rugido Verde tenho sido banhado com sportinguismo, mesmo quando não concordo.

Quanto à decisão de não pagamento de quotas em atraso: tenho uma convicção na vida que se traduz na hesitação em “seguir a maré”, especialmente quando a maré não parece ser mais que um redemoinho de correntes a levar a nau em direcção às rochas do Adamastor.

Bem sei que os tempos financeiros também não são os mais apelativos a acertos de contas com dois anos de pendência, porém não é de todo esse o motivo mais premente para a minha decisão irrevogável – e que já estaria transitada em definitivo não fosse o tremendo sucesso que vai fazendo com que o término do prazo se vá alargando todos os dias.

Quem não conhecesse a saúde e a união que se respiram no clube até pensaria em desespero ou “fome”. Não pago por diversos motivos mas vou deixar-vos aqui alguns sob a forma de desabafo, até porque meditei nessa questão durante largos dias.

Confesso que essa ponderação ocorreu mais por respeito às minhas memórias e saudades leoninas, aos óptimos momentos que passei com família e amigos em Alvalade, aos triunfos vividos e aos insucessos que nunca minaram a minha adoração pelo Sporting, algumas vezes a
roçar mesmo o fanatismo. E acima de tudo, pelo enorme apreço que tenho pelo meu último Presidente – Bruno de Carvalho – e a quem devo os cinco anos em que mais vivi o Sporting na minha vida. Sem arrependimentos.

Bruno de Carvalho galvanizou-me desde a primeira hora em 2011. A jovialidade, o discurso, a frontalidade. Não ter papas na língua no que toca ao mundo do futebol, quando esse é tão pródigo em ter autênticos analfabetos a tentarem passar a ideia de que têm um raciocínio muito
erudito.

E os valores sportinguistas, os quais sempre admirei e nos quais me revi desde que se assumiu como candidato em 2011. De longe, o dirigente do Sporting em que mais vi sportinguismo e vontade de fazer o clube crescer e vencer – bem sei que houve mais igualmente valorosos mas eu individualizo na sua figura por ter sido a que mais deu a cara (e a que mais castigada foi por isso).

No dia 25 de Março de 2013, primeiro dia útil pós-eleitoral, assumida que estava a ruptura com o passado “croquette” ao eleger-se Bruno de Carvalho como Presidente do SCP, lá estava eu em Alvalade findo um longo dia de trabalho para me inscrever (pela 2ª vez, já me tinha divorciado no
final da presidência de Soares Franco/início de Bettencourt) como sócio do Sporting.

Convicção total, débito directo e tudo! Nos 5 anos que se seguiram, devo ter falhado apenas cinco ou seis jogos oficiais em Alvalade. Apesar de não ser um registo perfeito orgulho-me do mesmo, pois com trabalho e faculdade nem sempre era fácil ter disponibilidade. Mas era o Sporting. Novamente
leonino. E só por isso já valia a pena.

Ainda assisti a alguns jogos fora de Alvalade, dos quais o mais saboroso foi a Supertaça que abriu a época 2015/2016, vitória de 1-0 sobre o Recreativo do Toupeiral, e que tantas ilusões despertou nos sportinguistas que acreditavam que esses ratos de esgoto corruptos de Carnide estavam com estertores por hipóxia devido às mudanças que o Presidente do Sporting impunha.

Mas estávamos errados. Portugal é um país corrupto e com orgulho de o ser. Nem me vou alongar nesse assunto pois já os Romanos diziam há 2000 anos que na península ibérica “há um povo que não se governa nem se deixa governar”. Endémico, pois então.

Feito este pequeno contexto de paixão leonina, enumero aqui uns quantos motivos para não regularizar as quotas e manter o número de associado e direitos/deveres relativos ao mesmo:

1 – Não perdoo o que fizeram à melhor Direcção a que assisti em 30 anos de vida no Sporting Clube de Portugal; especialmente os que tudo minaram desde o primeiro minuto, os que começaram a minar depois de serem DEMITIDOS e os que se ressentiram por não terem tido direito a tachos e tachinhos.

2 – Não perdoo 71% dos votos validados numa das AGs mais mal amanhadas da história de qualquer instituição portuguesa e que devia borrar a cara de vergonha a qualquer sportinguista, pela forma como foi convocada, organizada, conduzida e concluída!

3 – Não perdoo um presidente cujas condutas militar, médica e sportinguista estão nos antípodas das minhas, e que se serviu de uma fachada organizada sabe-se lá por quem para levar avante os seus intentos de “fatia de leão”.

4 – Detesto e abomino qualquer elemento dirigente que, já tendo estado anteriormente no clube e brindado toda a massa adepta com as suas constantes incompetências e acções estranhas, regresse com pompa e circunstância para combater “heranças pesadas” de 515 milhões de
euros. E há lá muitos.

5 – Não apoio qualquer direcção ou movimento que considere aliar-se ao Recreativo de Carnide, enterrado que está em polémicas criminais e judiciais, ainda mais com argumentos do género “camelo do Dubai” em que se defende que para sermos melhores, temos é que destruir os outros
e não sermos melhores simplesmente.

6 – Perdi completamente a ingenuidade no que toca a Sporting – não vai mudar! Grande parte da gentalha que lá está julga que a instituição é uma quinta, a deles, e que eles são os iluminados/escolhidos por eles próprios e eles é que sabem o que é melhor para o clube! Mesmo que com eles o clube se afunde em dívidas nos seus mandatos, seja humilhado por rivais, não tenha resultados ou exibições consistentes com o estatuto de Grande, ou que vença troféus enquanto não estiver completamente depauperado o trabalho anterior.

7 – Rogério Alves.

8 – Estou farto de partilhar o clube com gente como a que tem participado no “Sporting com (?) rumo”; Poiares Maduro? Carlos Anjos? Barbosa da Cruz? Salema Garção? Henrique Monteiro? Dias Ferreira? Proença de Carvalho? Ferro Rodrigues? Diogo “Camelo”? Rui do Tinder? Epah
não me fodam. Já chega.

9 – Não dou dinheiro a causas corruptas ou falidas, seja do ponto de vista de valores financeiros ou de valores éticos.

10 – Prefiro guardar o dinheiro e a saúde para a eventualidade de poder ajudar numa refundação. Que acredito que já devia ter sido realizada e que seria bem mais proveitosa para a restauração do Sportinguismo e dos seus valores no panorama desportivo português e europeu.

Bem sei que o próprio Bruno de Carvalho exortou os sportinguistas a pagarem as quotas e a poderem fazer com os seus votos aquilo que o impedem de fazer. Bem sei que sugeriu que o poder fazê-lo é um privilégio.

Mas eis aqui mais uma das poucas vezes em que até discordo do
meu/nosso saudoso Presidente. Não é nem nunca será, para mim, um privilégio poder participar em votações marteladas, “churrasquinhos” ou qualquer outro tipo de eventos organizados por gente absolutamente nojenta e com as quais nunca me identifiquei ou identificarei.

Não é nem nunca será, para mim, um privilégio poder participar num “filme” que já todos percebemos onde é que vai parar desde 2018 mas que lá bem no fundo ainda acreditamos ser possível inverter.

Mas eu deixei de acreditar. Não nos valores originais do Sportinguismo, isso será parte de mim até à morte. Deixei de acreditar nos sportinguistas. Especialmente nos que põem e dispõem do clube e assim continuarão.

Não pago!

Há coisas que por mais que tentemos nunca conseguiremos salvar. E eu até tenho uma tendência para admirar essa abnegação e mentalidade de que a esperança é a última a morrer. Mas chegou ao fim a minha inocência por paixão.