RUGIDO VERDE

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Sexta-feira, Abril 19, 2024

Ensaio Sobre a Cegueira Leonina

Qualquer semelhança entre este título e a conhecida obra do nosso Nobel José Saramago não é mera coincidência.

O Ensaio Sobre a Cegueira de José Saramago, analisado sob o ponto de vista sociológico, é uma excelente metáfora para o que são as sociedades contemporâneas. A obra já tem 25 anos, foi publicada em 1995, até já há um filme, do conhecido realizador Brasileiro Fernando Meirelles (2008).

A história consiste numa personagem principal que vai gradualmente assistindo à cegueira coletiva da população mundial. Progressivamente toda a gente vai deixando de ver, a personagem principal assiste impotente ao caos e à detioração da humanidade como a conhecemos.

Isto passa-se há décadas com os Sportinguistas.

Há décadas que os Sportinguistas assistem impávidos e serenos ao declínio do clube. Desde que me lembro de existir fomos campeões nacionais de futebol duas vezes. As constantes roubalheiras que temos vindo a sofrer ao longo das épocas não explicam tudo. Uma coisa é terminar a meia dúzia de pontos do primeiro. Quantas vezes isso aconteceu? Outra é terminar a 10, 20, 30 ou até mais. Que tem sido o mais frequente.

Em meados dos nos 90 (curiosamente na mesma altura em que José Saramago publicou o seu Ensaio Sobre a Cegueira) Pedro Santana Lopes acabou com praticamente todas as modalidades no clube. Um dos pilares do Sporting Clube de Portugal caia com estrondo perante a “cegueira” dos sócios e adeptos.

Uns anos depois era a Nave de Alvalade que era demolida. O que fez com que as equipas de Andebol e Futsal do Sporting andassem com a “casa às costas” durante mais de uma década. Situação (finalmente) corrigida apenas no mandato de Bruno de Carvalho.

No futebol as coisas estão péssimas, há décadas que não há competência, não há exigência, os planteis são consecutivamente construídos em cima do joelho, contrata-se refugo que nunca mais acaba, os jovens valores são desperdiçados a eito para muitos deles posteriormente virem a dar cartas nos rivais. O refugo é pago a peso de ouro.

Os quadros dirigentes esses são também eles (auto) pagos a peso de ouro, movimentam-se nas esferas do poder leonino como se de uma monarquia dinástica se tratasse, sucedendo uns aos outros numa interminável corrente de incompetência, tachismo e autismo. Ignoram e desprezam a força popular do clube, não interessa ganhar, não interessa exigência, o que interessa são os cocktails na tribuna e os negócios a fluir. Essa maralha popular que só pensa em ganhar não passa de escumalha desestabilizadora.

E a maioria dos sócios e adeptos vai na carneirada, cega, sem nada ver, sem nada perceber, sem se revoltar ou questionar que seja se é este o caminho correto para uma instituição com a dimensão e história do Sporting Clube de Portugal.

Neste âmbito é preciso não esquecer o papel da comunicação social. A comunicação social cada vez mais tem um papel decisivo no que as pessoas (acham que) sabem, (acham que) acreditam e (acham que) vêm.

Na realidade só sabem o que essa CS, manipulada por lobbies e interesses obscuros, quer que saibam, por norma mentiras, invenções, especulações, as conhecidas fake news.

Mas as pessoas não pensam nem querem pensar, dá muito trabalho, não se questionam sequer, dão como verdade adquirida e absoluta o que as cofinas desta vida debitam, por norma meras diarreias mentais lideradas por forças malignas que pretendem sobretudo puxar o Sporting para baixo.

Eu diria que em 2013 a malta finalmente enxergou alguma coisa. Mas foi Sol de pouca dura, já que em 2018 resolveram reverter tudo e regressar ao passado.

Eu nunca tive qualquer expectativa positiva para o mandato de Frederico Varandas, mas devo confessar que está a ser pior que do que os meus receios mais pessimistas. Em tão pouco tempo Varandas & Companhia conseguiu destruir por completo o legado de competitividade, competência e exigência que herdou.

Exigir dos atletas e profissionais do clube lealdade, atitude, esforço e dedicação não pode ser, o que é preciso é “deusificar” os meninos, são ídolos, mesmo que desprezem e desrespeitem o clube. Mas a turba cega de sócios e adeptos segue religiosamente e cegamente a lógica que há que mimar os meninos, e perdoar-lhes tudo. Porque são ídolos.

Pois mas para mim não são ídolos nenhuns, o único ídolo que eu sigo é o símbolo. O resto são profissionais pagos a peso de ouro que não fazem mais do que a sua obrigação representar o clube de forma séria, profissional e competitiva.

Outra coisa que me mete muita confusão aos dias de hoje é a aproximação a Jorge Mendes. Um dos maiores cancros do futebol mundial, um especialista em fraude e evasão fiscal, um chulo futebolístico.

Mas Varandas & Companhia acharam por bem iniciar uma parceria com ele. Mesmo depois de nos ter prejudicado em milhões ao conduzir Rui Patrício e Daniel Podence a rescindir unilateralmente com o clube. E provavelmente tendo estado também nas restantes rescisões que se seguiram.

E não só iniciaram uma parceira com esse senhor como ainda lhe pagaram chorudas comissões. Algo que tinha sido abolido no mandato de Bruno de Carvalho. Mais uma vez se regressa ao passado com a total cegueira e cumplicidade dos sócios e adeptos do Sporting Clube de Portugal.

O facto desse Jorge Mendes ser parceiro do nosso corrupto rival nada diz aos Sportinguistas? Mas os Sportinguistas acham mesmo que alguma coisa de bom pode vir de Jorge Mendes? Alguma vez veio? Os interesses do Sport Lisboa e Benfica são opostos aos nossos, essa agremiação chefiada por um autêntico bando de malfeitores pretende a aniquilação do Sporting, jamais nos deixarão meter a cabeça fora de água.

O que torna completamente incompreensível a aparente aliança com o nosso maior rival. Por estes dias ouve-se falar em posições concertadas no que à presidência da Liga Portuguesa de Futebol diz respeito.

Mas se o nosso rival já nos deu recentemente provas mais do que suficientes de que só nos pretende afundar, qual é a lógica dessa aproximação? Achará Varandas que Luis Filipe Vieira lhe vai dar alguma coisa? Quanta ingenuidade senhor Varandas, quanta ingenuidade…

Ainda em relação a Jorge Mendes houve algo em que fiquei a pensar aquando da sua mais recente entrevista, a dada ao canal 11. Varandas referiu orgulhosamente que em breve Ruben Amorim estará num grande da Europa. Terá Varandas a promessa de Mendes de transferir Ruben Amorim para um grande do seu carrocel? É que se for pelos resultados almejados no futebol português não prevejo grande transferência a Rubem Amorim. Só mesmo um padrinho de excelência para sacar esse coelho da cartola.

E que a transferência de Matheus Nunes ia pagar Ruben Amorim. Mais uma promessa de Jorge Mendes? E a venda de Palhinha para Inglaterra? Mas a formação de Alcochete está toda hipotecada a Jorge Mendes? Não acordem não…

Mas acredito que haja uma grande maioria de Sportinguistas, completamente cegos, que acreditam nisto e ainda se babam todos com estas gigantescas expectativas. Que, lá está, com esta casta no poder nunca se materializaram, mas se há coisa que o Sportinguista é pródigo é na esperança, no acreditar, “para o ano é que é”, “desta é que é, “agora é que é”.

Outra questão para a qual os Sportinguistas teimam em não acordar é para a questão da maioria do capital social da SAD.

Bruno de Carvalho tinha idealizado um plano no qual o clube se preparava para ficar com cerca de 90% da SAD através da (re)compra das VMOCs. A atual direção adiou essa possibilidade até 2026, ou seja as VMOCs continuam na posse dos bancos. Que podem optar a qualquer momento por as vender a uma entidade externa, mesmo o clube tendo prioridade na obtenção das mesmas.

Ou seja, a qualquer momento a SAD pode ser “vendida” ou simplesmente alienada sem que os sócios tenham algo a dizer ou possam impedir. Para além das VMOCs há ainda o facto da Sporting SGPS deter cerca de 30% de ações da SAD e não ser claro neste momento se as pode vender à revelia dos sócios/AG ou não.

Eu diria que com Rogério Alves no clube qualquer questão jurídica é de se ter muito medo. Já se percebeu que Rogério Alves faz o que quer, interpreta as leis à sua maneira e arranja sempre maneira de dar a volta ao texto. É daqueles advogados que conseguiria, se quisesse, “provar” numa sessão de julgamento que o céu é amarelo, o mar roxo ou a terra quadrada.

Nos últimos tempos têm sido muitas as figuras “ilustres” do universo Sportinguista a fazer publicidade nos media à venda da SAD: José Roquette, José Eduardo, Henrique Monteiro, Pedro Baltasar, Carlos Barbosa da Cruz, Tomás Froes, Soares Franco ou Diogo Leitão.

Eu diria que toda esta campanha de marketing a esse caminho faz parte duma estratégia concertada tendo em vista a “privatização” do Sporting. A lavagem cerebral à massa adepta está em marcha e a corrente cega limita-se a seguir o rebanho e as narrativas construídas pelos media sem questionar, sem pensar, sem opinar, sem decidir. As pessoas pura e simplesmente escusam-se a querer pensar, a querer abrir os olhos. Um dia que o venham a fazer pode já ser tarde.

Perdida a maioria da SAD já não dará para a recuperar, o Sporting ficará para sempre refém do ou dos compradores, que tanto poderão ser mafiosos Russos, Chineses, Árabes ou Africanos. Duma coisa eu tenho a certeza, gente séria não será certamente, ficaremos entregues a interesses obscuros que nos levarão por caminhos de lavagem de capital e tráfico de jogadores.

É este o caminho pretendido pela casta de notáveis que “raptou” o clube. Para isso contrataram os serviços duma comunicação social pouco neutra, pouco imparcial, que se limita a seguir e servir interesses de lobbys. Lobbys estes que estão muito pouco interessados num Sporting vencedor, num Sporting lutador e num Sporting que conte, que exista e que seja forte, dentro do campo e fora dele.

E já se sabe como é o rebanho cego, pouco lucido, surdo e mudo: leva a sério e acredita piamente em tudo o que as cofinas desta vida lhe debitam. Se amanhã o Correio da Manhã escrever na primeira página que a Torre Eiffel é na China ou o Taj Mahal no México toda a gente acredita e vai para as redes sociais partilhar estes disparates como se fossem verdade absoluta do universo.

Por acaso estou bastante curioso para ver como vai reagir a opinião pública à absolvição de Bruno de Carvalho. Os cartilheiros e opinadores da praxe já vieram dizer que absolvição não significa inocência, apenas não foram reunidas provas, não quer dizer que Bruno de Carvalho seja realmente inocente.

Pessoalmente sempre tive a convicção que Bruno de Carvalho nada teve a ver com aquilo. Sempre achei que tinha sido algo a partir apenas das claques com Fernando Mendes à cabeça.

Sendo que, em julgamento, o tribunal deu como provado isto mesmo. E apenas isto. Tudo o resto são especulações e teorias da conspiração.

Será que os sócios e adeptos do Sporting vão finalmente acordar da cegueira coletiva que os levou a condenar praticamente em uníssono o ex presidente? A priori, sem provas, sem julgamento, sem nada? Será que vão procurar dar uma segunda oportunidade a alguém que tanto fez pelo Sporting enquanto foi presidente? Não podemos ter memória curta, temos de reconhecer o mérito na recuperação económica do clube à beira de fechar portas em 2013 e o trabalho hercúleo feito ao nível das modalidades por exemplo.

Este é o meu último texto antes de a bola voltar a rolar. Será que com a catástrofe que se prevê em termos de exibições e resultados futebolísticos o Sportinguista vai continuar mansinho, impávido, sereno e cegamente a assistir ao definhar do clube? Ou será que vão acordar, rugir e fazer barulho? É que é preciso um 25 de Abril no Sporting atual, é preciso correr urgentemente com a escumalha croquette que teima em tomar conta do clube como se fosse seu por direito e fazer dele a sua casa de pasto, a sua tertúlia, o seu clube de campo privado ignorando a nossa história, a nossa tradição, a nossa ambição.

Toca a abrir os olhos Sportinguistas, se estiverem a ver mal, comprem uns óculos, o negócio em questão agradece, eu percebo que no contexto atual seja algo difícil usar óculos pois embaciam com as máscaras, podem sempre optar por uma cirurgia ocular, o que é preciso mesmo é acordar o Sportinguista da letargia em que caiu, da cegueira em que vive. Antes que seja demasiado tarde.

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Comments

  1. Henrique Morais

    Bruno de Carvalho não caiu por Alcochete mas sim pelas asneira que veio fazendo. Cabe aos associados decidirem. E Carneiros há e tem havido muitos.