RUGIDO VERDE

Levantar e levantar de novo, até que os cordeiros se tornem Leões!

Sexta-feira, Abril 26, 2024

A Caderneta de Cromos do Sporting: Parte III – A Escumalha

Tal como prometido, aqui estou eu mais uma vez nesta épica saga que é a Caderneta de Cromos do nosso Sporting, desta vez para a terminar, com a terceira e última parte desta trilogia.

Este capítulo, no fundo, diz respeito a mim próprio, ao Rugido Verde em si e a muitos dos nossos leitores. Segundo o nosso presidente, que neste momento não o é na sua plenitude de funções, somos todos escumalha. E porquê? Porque estamos fartos da sua incompetência, da sua sobranceria, do seu autismo e do abismo para o qual empurra o clube.

Como tal não nos calamos. Nem nesta fase particularmente dramática das nossas vidas em que a prioridade é a nossa saúde e a daqueles que mais amamos. Mas também amamos o Sporting Clube de Portugal e esse neste momento, tal como muitos infetados pelo surto de Covid-19 por esse mundo fora, está também ele nos cuidados intensivos a lutar pela sua sobrevivência. Ou perto disso.

Queremos sobretudo que ultrapassada esta pandemia o Sporting não definhe nem caminhe para o seu fim. Queremos voltar a ver um Sporting pujante, lutador, dono do seu destino.

Fações

Já por mais do que uma vez aqui abordei a questão da luta de classes no clube. Por estes dias o clube divide-se em três grandes fações:

  1. A fação vulgarmente conhecida por croquette, aqueles para os quais o Sporting deve ser um clube educado, com uma forma de estar no futebol educada, com elevação e glamour. Para estes vencer não é importante, lutar contra o sistema corrupto instalado também não. O clube para eles é, no fundo, como um clube de campo ou de férias, onde se reúnem para discutir os seus negócios, em fartas almoçaradas, festas em casinos ou hotéis. Nesta fação enquadram-se, por exemplo, os “notáveis” que constituíram a primeira parte desta caderneta.
  2. A fação popular, do sócio e adepto da taberna, bairrista, que não admite perder nem a feijões, não tolera o sistema corrupto instalado e procura combatê-lo com unhas e dentes, está farto dos notáveis e das suas feiras de vaidades, das desculpas esfarrapadas típicas dos políticos. É aqui que está o Rugido e todos nós que o constituímos. É aqui que estão os milhares que se têm manifestado no Estádio e nas redes sociais. A “escumalha”.
  3. Em minha opinião a grande maioria dos sportinguistas está aqui, nesta fação. A fação dos que não são carne nem peixe, dos que não têm o mínimo de noção da guerra civil que vai no clube, que não sabem o que são os croquetes, acham que umas tacitas e uns segundos lugares de vez em quando já é bom, vão ao estádio ocasionalmente e na realidade não os afeta se o clube ganha ou perde, os maus momentos são só porque sim, porque há maus momentos na vida de vez em quando, não têm noção das más gestões, não ligam às modalidades, aos passivos e os futebolistas são todos ídolos.

Eu, neste último ponto, falo por experiência própria, durante grande parte da minha vida fiz parte desta fação. Achei extremamente positivo por exemplo as tacitas e os segundos lugares no tempo de Filipe Soares Franco. Durante muito tempo achei realmente que não tínhamos possibilidades para mais.

Ídolos

Aquela questão que menciono sobre os futebolistas serem considerados ídolos é uma das mais pertinentes quando queremos analisar o pulso social do clube. De uma maneira geral, os profissionais do futebol são considerados ídolos pela sua massa adepta e dirigentes em geral.

Mesmo que provem ser maus profissionais, mesmo que não respeitem a camisola, basta-lhes dar uns toques na bola para serem colocados num pedestal.

Os croquettes são especialistas nesta glorificação. Os que não são carne nem peixe também se deixam levar por estas publicidades enganosas.

Em minha opinião, e na opinão da escumalha, isto é um erro. Os futebolistas do clube são apenas isso, uns gajos que jogam à bola e, por acaso, a certa altura vestem a nossa camisola. Se jogarem bem não fazem mais do que a sua obrigação, têm um contrato de trabalho nesse sentido e são principescamente pagos para isso.

A escumalha jamais esquecerá a mudança de João Moutinho para um rival, as birras de João Mário, Adrien, William ou Patrício para se irem embora, as rescisões de Bruno Fernandes, Gelson Martins ou Rafael Leão. Isto não são ídolos. Todos os presentes no segundo capítulo desta caderneta não são ídolos. Ídolos são os médicos, os enfermeiros, os bombeiros e os polícias que por estes dias estão na linha da frente do combate ao covid-19.

Bruno de Carvalho

Em 2013 apareceu um maluco que pegou no clube em cacos, que nem para as competições europeias se tinha qualificado e que tinha acabado de vender um jogador por cinco milhões de euros para pagar despesa corrente. O maluco em causa em 2014 qualificou a equipa de futebol para a liga dos campeões, em 2015 ganhou uma Taça de Portugal e em 2016 lutou pelo título até ao fim. Título esse que só não foi conquistado por fatores extra futebol – malas, vouchers, etc.

Desde então a questão que sempre me paira no espírito, e no de todos nós que somos escumalha, é porque não é isso feito regularmente. É possível, já vimos que sim. Já vimos que é possível haver mais militância, mais paixão, mais investimento, que a exigência resulta, que podemos e devemos ser exigentes, devemos fazer frente ao sistema corrupto instalado, às elites parasitas que só se querem servir do clube para os seus propósitos pessoais.

Bruno de Carvalho mostrou ao universo Sportinguista que é possível. Deu trabalho? Certamente que sim. Foi difícil? Obviamente. Mas é o caminho a seguir por uma direção que efetivamente esteja interessada na grandeza e glória do Sporting Clube de Portugal.

O que pretendemos então?

Um clube que detenha a maioria do capital social da sua SAD, exigente com os seus profissionais sejam eles atletas ou administrativos, mas também com os sócios e adeptos. Um clube que lute contra o sistema corrupto instalado controlado por Benfica e Porto.

Um clube eclético, com uma panóplia de modalidades que enriqueça a sua história. Um clube que lute por títulos, sempre, até ao fim e ao último suspiro. Com um património vasto que não só orgulhe os seus sócios e adeptos como ajude a enriquecer a sociedade civil e a comunidade.

É irrelevante quem seja a pessoa à frente dos destinos do clube desde que siga convictamente estas premissas. Não é pedir muito, face à dimensão e capacidade do clube é o mínimo exigível.

Tanto faz que seja Bruno de Carvalho ou Frederico Varandas. O problema deste último é que já se percebeu que não vai fazer nada daquilo, porque no tempo de mandato que já leva tem feito sempre tudo no sentido inverso. Tem seguido o mesmo caminho, por exemplo, de Godinho Lopes.

Há quem defenda uma purga total no clube, que enquanto as duas fações coexistirem nunca haverá paz nem o clube conseguirá a estabilidade necessária para o sucesso.

Pessoalmente acho que nunca nenhuma das fações vai conseguir eliminar por completo a outra. É algo que já faz parte do ADN do clube, sempre foi assim, desde os primórdios da história leonina.

Cisão

Existe a expectativa dentro de alguns quadrantes sportinguistas que a solução terá, inevitavelmente, de passar por uma cisão no clube, aqui a venda da SAD poderia ser uma solução, ficando a fação croquette na SAD e a fação popular, bairrista e escumalha no clube. Foi aproximadamente isto que aconteceu no Belenenses.

Sinceramente acho isto pouco provável de acontecer. Os croquettes quando e se venderem a SAD, o que em minha opinão é uma inevitabilidade mas a esperança é sempre a última a morrer, irão fazer as coisas de forma a que o clube fique amarrado e resumido à SAD. Fundar todo um novo clube de raiz com outro nome não será a mesma coisa.

Seja como for, de uma maneira ou de outra, estamos cá para ver como vai ser. De momento em standby é certo, por toda esta pandemia que nos virou a vida do avesso. Espero que todos nós consigamos superar este momento difícil como verdadeiros Leões que somos. E desta forma continuarmos aqui na luta pelo nosso Sporting, porque somos todos escumalha e não nos calaremos! A esperança é a última a morrer, sempre, até ao último suspiro.

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Comments

  1. Leão Comuna

    Boa análise!

    Deixo uma medida para ser implementada para o próximo presidente.
    Em cada cadeira, das 50 000 existentes, criar um sistema de alçapão. Ao mínimo ruído de um catavento, este desparece como que por magia e vai parar imediatamente ao outro lado da 2ª Circular, o seu lugar. . .

  2. Rui Pereira

    Muito bom , uma análise perfeita. A solução esta então , a meu ver, nas mãos do terceiro grupo, os “maria vai com as outras”, os “go with the flow”, os q vão ao sabor da corrente e q ficam a ver os navios a passar.
    E penso que passa muito pela força e potencia da comunicação social que tolda a mente destas massas, que penso serem a tal maioria, mas silenciosa.
    Os blogues têm um papel muito importante, se ao menos houvesse maneira de fazer com que pelo menos um canal vendesse a verdade. Se houvesse algum jornalista serio do nosso lado…
    Saudações meu caros, saudações felinas… : (

  3. HULK VERDE

    Boa conclusão para a trilogia da Caderneta de Cromos do Sporting, que a Panini gostaria de ter publicado, mas não teve tempo nem know how.

  4. jorge mendes

    É de facto uma luta de classes, onde a burguesia sempre detestou o povo e sempre o rebaixou e infelizmente num país corrompido pela maçonaria, o golpe foi dado com mestria e o SCP nunca mais será nosso. LSL