Os casuais amigos do médico Varandas
Diogo Amaral (conhecido por “Tusta”) e Pedro Silveira (sua alcunha, “Barbini”), são ambos conhecidos apoiantes de Frederico Varandas. A ligação à JS por parte de Diogo Amaral é conhecida, bem como o célebre áudio de “Barbini” durante a campanha eleitoral de Frederico Varandas, em que “Barbini” acabou por ter de ser afastado da lista após essa polémica.
Além disso, “Barbini” organizou as célebres manifestações contra a direcção de Bruno de Carvalho após o ataque à Academia e antes da famosa AG destituitiva. Ambos estavam no grupo de WhattsApp dos invasores, em que “Barbini” chega a dizer “Boa sorte” aos invasores e “Tusta” manda mensagens a dizer “Saiam daí todos” mais que uma vez durante a invasão à Academia de Alcochete.
Ambos foram testumunhas do processo de Alcochete, curiosamente da defesa. A acusação pelos vistos não achou sequer relevante o depoimento, ou o que quer que seja, destes dois indivíduos.
Veremos então o que foi dito em Tribunal:
Diogo Amaral, ou “Tusta”
Diz conhecer Fernando Mendes desde os seus 13 anos, ou seja há 20 anos, e demonstra grande consideração e admiração pelo mesmo. Diz também conhecer outros arguidos, tais como Tiago Silva, embora que mais recentemente.
Após perguntas de circunstância e de percepção à sua ligação ao Sporting, jogadores, vivências, diz que é membro da JL desde 2000. É questionado sobre o grupo de WhattsApp “Academia amanhã”, no qual disse “os jogadores são pessoas iguais a nós mas que defendem uma camisola”, “envie um foguete no cú do pantufas e do William”. Diogo Amaral diz que não sabe quem era o pantufas, diz que os jogadores eram idolatrados.
Uma outra referência ao número de telefone chama à atenção da juíza, em que Diogo Amaral escreve no dia 15, às 17:31 e 17:34, o seguinte: “Saiam todos, saiam todos, bora!”. Ao perguntar a Diogo Amaral, a juíza refere que a testemunha não é obrigada a responder visto que a sua resposta poderá implicar alguma responsabilidade para a testemunha, a essa pergunta Diogo Amaral diz: “Não respondo”.
De seguida, Miguel Fonseca advogado de Bruno de Carvalho, pergunta à juíza se a, partir deste momento, é testemunha ou arguido e a Juíza diz que a testemunha não é obrigada a responder, visto que a testemunha se pode incriminar e que será feito à sua maneira, ao qual o advogado respeita.
Miguel Fonseca pergunta se pertence à JL, ao que ele responde que sim, e que paga quotas. Miguel afirma que é mentira. Diogo Amaral diz que foi membro da JL de 2000 a 2012, e regressou recentemente em 2015 ou 2016. Afirma que o seu Núcleo é a Margem Sul.
À pergunta: “qual é que era a sua posição em relação àquilo que se dizia ser litígio entre a direcção e os jogadores?” Diogo Amaral diz: “Não respondo”. Miguel Fonseca demonstra o seu desagrado, a própria juíza diz à testemunha que a sua opinião não é crime e Miguel Fonseca diz que não faz mais questões demonstrado desagrado, já que não entende se é testemunha ou arguido, usando uma expressão conhecida “isto não é carne nem é peixe”, ao qual o Diogo Amaral responde “eu sou peixe”. A própria juíza chama à atenção da testemunha, dizendo que ninguém lhe tinha faltado ao respeito.
Uma outra advogada pergunta quando foi criado o grupo “Academia amanhã”, ele diz que no dia a seguir ao jogo do Marítimo. Pergunta-se que pessoas foram convidadas a esse grupo, ao qual ele responde que havia pessoas de todos quadrantes do Sporting.
Pergunta-se sobre a reunião na casinha em que Bruno de Carvalho esteve presente, Diogo Amaral afirma que não esteve presente e que não sabe o que foi dito na mesma. Visto que era do Núcleo da Margem Sul, perguntam-lhe se havia algumas indicações após essa reunião e que indicações eram essas, ao qual ele responde havia indicações de apoio incondicional até ao final de época. Perguntaram-lhe se esteve presente na visita à Academia em Dezembro de 2017, afirma que sim e diz que esperaram na entrada e que esperaram pelos capitães de equipa, em que tudo correu bem e que até tinha sido noticiado na altura. Comenta outros episódios do passado, como a porta 10A, em que os jogadores eram abordados, entre outros episódios.
É questionado sobre se havia intenções de ir à Academia antes do jogo do Marítimo, ao que responde “que eu saiba não”. Miguel Fonseca coloca à juíza 2 temas de conversa, um deles “porque Bruno de Carvalho tinha de ser morto” e que “aquilo ia ser o Iraque” a juíza não quis perguntar à testemunha.
Perguntou-se se conhecia Bruno Jacinto, afirma que sim, desde 2000 e diz que tinha uma relação positiva com o mesmo. Pergunta-se qual foi a reacção da JL sobre estes eventos, diz que de tristeza porque acredita na inocência dos arguidos. A juíza diz que são inocentes até prova em contrário, ao que a testemunha diz exactamente o mesmo.
Pedro Silveira, ou “Barbini”
Diz que é empresário em entretenimento e que conhece praticamente todos os arguidos. Afirma que é da JL, ou que foi da JL, durante muitos anos. A advogada de Fernando Mendes pede para falar acerca de Fernando Mendes. Barbini diz que o conhece desde 1990, em que Fernando Mendes era líder da JL, que diz que se revê em muito nele, sobre como vê o Sporting, como defende o Sporting. Ele afirma que não era Presidente da JL em 2018 mas que era um líder, chama-lhe de “o maior ultra português” e “há-de ser sempre um lider da JL”. Fala no movimento ultra de apoio ao Sporting em que o Fernando Mendes é um símbolo. Afirma que Fernando Mendes jamais tem intenções em fazer mal ao Sporting. Diz que nunca falou com ele sobre o ataque a Academia, mas que falou com ele sobre o seu estado de saúde.
O advogado mandatado pelo SCP pede-lhe para explicar o grupo de WhattsApp “Academia amanhã”, ao que “Barbini” responde que foi adicionado ao grupo no dia a seguir ao Marítimo, que não ligou muito e diz que não pôde ir por ter outros compromissos. Diz que pensou que seria uma ida para protesto devido ao mau resultado na Madeira. Recusa a ideia de ir à Academia antes do jogo com o Marítimo. É-lhe pedido para falar sobre Bruno Jacinto. Diz que era uma pessoa conhecida, dos maiores impulsionadores de apoio na JL e que se tornou OLA por Bruno de Carvalho. Diz que é uma pessoa boa, que gerava consenso junto de todos e bem vista dentro da JL.
Perguntam-lhe se era sócio da JL, afirma que é membro desde 1990, afirma que seria sócio sem número, sócio velha guarda. Com isto não afirma que realmente pagava quotas da JL. Perguntam-lhe se fez parte da estrutura do Sporting após os factos, em que ele diz que pertenceu e foi fundador do Sporting E-sports (uma modalidade) e que depois foi convidado para uma candidatura em que acabou por abdicar. Essa candidatura foi a de Frederico Varandas, que acabou por ganhar as eleições, sem “Barbini” presente nessa estrutura.
Miguel Fonseca pergunta a razão pela qual não foi a votos, a juíza não deixa a pergunta ser feita por achar irrelevante. Miguel Fonseca pergunta se falou com Frederico Varandas no dia do Ataque antes, durante, ou depois do ataque, “Barbini” diz que não e que só falou com Varandas dia 20 de Junho. É questionado por uma outra advogada sobre de onde conhece os arguidos. “Barbini” diz que uns da JL, outros do Sporting, por acompanharem a equipa.
Miguel Fonseca pergunta à testemunha se esteve em manifestações públicas contra Bruno de Carvalho após o ataque, a que ele responde “Estive”.
Ao despedir-se da testemunha, a juíza diz, “vá descansado”.
Considerações finais
Como foi constatado em Tribunal, o ataque foi sobretudo organizado pelos Casuals, amigos próximos, e não pela JL. Será que “Barbini” e “Tusta”, devido a estas ligações aos Casuals, avisaram alguém do ataque (nomeadamente Varandas)? Os indícios, só por si, seriam suficientes para ambos terem sido investigados, e seguindo outros exemplos, terem sido constituídos como arguidos. Em lugar disso, usufruíram de um estranho estatuto preventivo de excepção.
Ambos estiveram no grupo de WhatsApp que combinou a invasão à Academia e, pelas suas participações, foram coniventes com o dito ataque. “Barbini” chega a dizer “Boa sorte” aos invasores, enquanto que “Tusta” diz mais que uma vez “saiam, saiam todos” durante o ataque à Academia. São intervenções de quem estava a par do que estava a suceder, bem como da monitorização da acção do evento.
Ambos dizem somente que pertencem à Juve Leo. Será? Ou será que serão ambos, sobretudo, Casuals, considerados como os principais responsáveis das acções mais gravosas e com tanta ênfase no processo? Pelo que nos chegou de várias fontes conhecedoras, a segunda hipótese é a verdadeira, inclusive Bruno de Carvalho também referiu isso mesmo no seu depoimento.
Esta informação suscita questões pertinentes. Varandas tem feito um ataque cerrado à JL, apelidando a associação de fonte de todos os males, quando não extrapola para todos os adeptos que não o apoiam com termos como “escumalha”, e já demonstrou o seu desagrado de quem lidera a mesma de forma legitimada por eleições. Porque será? Será que pretende alguém da sua confiança para liderar a JL? Que promessas foram feitas?
Há um outro elemento dos Casuals que suscita questões, Flávio “Jusko” Neves, que estava no referido grupo de WhatsApp, que incita à violência e que alega que não foi ao referido ataque porque ficou a cuidar da filha. Este elemento é próximo de “Barbini” e foi ele que solicitou do seu amigo o referido áudio, o tal em que “Barbini” diz ser o “braço-direito” de Varandas.
Não se entende o porquê do Ministério Público não ter investigado estas pessoas, e certamente que o afastamento da PJ por Cândida Vilar foi determinante. Será que algum deles (ou ambos) avisou alguém do ataque?
Após o ataque demonstraram enorme proximidade, sobretudo “Barbini”, que chegou formalmente a fazer parte da lista eleitoral, só saindo da referida lista após um áudio em que refere que é o “braço-direito” de Varandas, que “ele me ouve” e que “no dia que ele me afastar, cai”. Cai porque razão? Que motivo forte seria esse que levaria à queda de um inimputável Frederico Varandas?
Acresce a isso a informação que o próprio Varandas tinha consultas para esse dia e que as cancelou. Será que foi esse o motivo de as cancelar? Será que sabia do que iria suceder? Toda a gente viu as imagens do balneário e o próprio Varandas a rir e a liderar a gravação das ditas imagens, tal como a autorização das fotografias a Bas Dost (estando o paciente a cargo de Virgílio Abreu, funcionário da clínica do então médico) e a sua difusão. Seria essa a sua intervenção essencial para depois concorrer à presidência do Sporting, com tudo a arder na máxima intensidade possível?
O que é certo é que estas pessoas não foram investigadas por vontade da própria Cândida Vilar e, por consequência constituídas, arguidas. Têm o direito à presunção de inocência, ao contrário de muitos outros que viram esse direito negado, não obstante, solidificada num regime de excepção que deixa demasiadas dúvidas e questões sérias no ar.
É incompreensível como estes dois não foram constituídos arguidos.
Claramente estes dois sabem mais, muito mais, que a maioria dos arguidos.
No entanto não sei se agora poderemos fazer algo, pois o processo está no final e quem está no clube foi cumplice dos mesmos.
https://www.facebook.com/jorge.torres.12720/posts/3291896317505620
Grande artigo para a compilação. Muitas questões que MP e Tribunal preferiram não investigar.