RUGIDO VERDE

Levantar e levantar de novo, até que os cordeiros se tornem Leões!

Sábado, Abril 27, 2024

Sportinguista da treta

Em primeiro lugar, gostaria de deixar aqui o meu agradecimento pelo convite para escrever sobre o nosso grande amor.

Em segundo lugar, à guisa de declaração de interesses, gostaria de deixar claro que sou um sportinguista da treta. É verdade, sou um sportinguista interesseiro, daqueles que sofre muito pelo clube e que gosta de comemorar vitórias, mas que pouco faz para melhorar as coisas, pelo menos comparando com alguns e algumas sportinguistas que vou lendo.

Sou um sportinguista da treta também porque só tardiamente, numa fase adiantada da minha vida, me fiz sócio. A distância era um obstáculo: nascido noutro país, ou trabalhando no estrangeiro, ou morando longe de Lisboa, ou contando os tostões, o facto é que só me tornei “sócio por correspondência” aos 36 anos.

A primeira vez que fui a Alvalade tinha uns 30 anos, um jogo de apresentação com o Bétis de Sevilha (salvo erro). Também o facto de estar fisicamente longe do clube, impedia-me de ver as coisas claramente e de ver o rumo errado que o clube tomou desde o tempo do Amado de Freitas. Só mais tarde, fruto do facto de ser um devorador de jornais (lia sempre os três jornais desportivos e mais um ou dois diários), me fui apercebendo do lamaçal que era o futebol português.

Ler o esterco que é o jornal A BOLA é um curso intensivo sobre a podridão que grassa no futebol e sobre as relações de poder dentro dele e, principalmente, do papel subserviente e propagandista de alguma imprensa. Foi por essa altura que, dentro de mim, começou a gerar-se um sentimento de revolta e deixei de comprar e ler A BOLA e o RECORD.

Sou ainda um sportinguista da treta, porque, ao contrário do que vejo em muitos sportinguistas, nas horas más desisto sempre. Foi por isso que deixei de ver e de “ligar” ao futebol durante um ano ou dois (ajudou o facto de em parte desse tempo ter estado no estrangeiro), quando num jogo em Alvalade, um Sporting-Porto, nos é anulado um golo por uma falta inexistente sobre o guarda-redes. Tanto quanto me lembro do lance, o Cadete (?) está 2/3 metros atrás do Vítor Baía, cabeceia para golo, mas o árbitro marcou carga ao guarda-redes. Nos jornais, nem uma linha sobre o assunto. Desisti de ver futebol durante algum tempo. Foram os anos que precederam o Apito Dourado, toda a gente sabia o que se passava, mas mau grado a imprensa lisboeta ir fazendo eco do que se via dentro das quatro linhas, a verdade é que os roubos sucediam-se e até o Benfica era prejudicado em grande estilo.

Anos mais tarde, “o sistema distraiu-se” (frase proferida por Pimenta Machado), fruto da grande pressão da opinião pública e resolveu avançar para o sorteio dos árbitros. A história é conhecida: uma conjugação de factores (sorteio dos árbitros, Inácio, contratações acertadas e cirúrgicas, Manolo Vidal, etc) permitiu quebrar o jejum e, nos 3 anos que durou o sorteio dos árbitros, fomos campeões duas vezes e o Boavista uma. Foi o suficiente para o sistema acordar e nunca mais nos dar hipóteses.

Voltei a ver futebol, mas foi sol de pouca dura, pois com o golo do Luisão em 2005, eu percebi que o sistema tinha mudado de mãos e que tudo ia recomeçar. Além disso, tinha entretanto começado a época dourada dos “croquetes” que, embalados pelos títulos supostamente possibilitados pelo Projecto Roquette, destruíram o património do clube sem conseguirem títulos.

Não sou injusto e esquecer os títulos perdidos por causa dos factores externos, mas para mim nem era isso que contava: o que me doía na alma eram os relatos contínuos sobre o fim do clube e do delapidar do património.

Aqui, abro um parêntesis para mostrar como sou um verdadeiro sportinguista da treta. Eu sempre tive muita dificuldade em acompanhar os jogos do Sporting: tenho de ouvir ou ver o jogo sozinho, mas raramente vejo ou ouço um jogo completo. Não consigo explicar o nervosismo que se apodera de mim descontroladamente. Digo palavrões, dou gritos e pontapés, fumo (fumava) uns atrás dos outros, fecho-me na casa de banho para nem ouvir os gritos vindos dos cafés ou dos outros apartamentos, enfim, um perfeito idiota. Cheguei a ir ver jogos do Sporting em camarote, mas passava o tempo no restaurante ou a andar no corredor. Há 4 ou 5 anos deram-me bilhetes para um jogo europeu e eu vim embora do estádio ainda antes de os meus amigos se juntarem a mim, 20 minutos depois do jogo começar. Sou uma vergonha enquanto adepto de futebol.

Aquando da meia-final da UEFA em Alkmaar, estava eu em trabalho numa ilha em que a estrada mais extensa é de cerca de 15km; nessa noite, meti-me no carro para não ter contacto com televisões, nem com pessoas a ver o jogo, rádio desligado (só liguei no fim do tempo regulamentar e no final do prolongamento) e fiz mais de 200km a dar voltas à ilha. No final do jogo, estive largos minutos numa praia deserta a chorar de alegria. Patético!

Eu costumava dizer a outros sportinguistas que, para mim, mais importante que os títulos era a estabilidade financeira do clube, porque eu sempre me convenci que essa estabilidade era incompatível com a luta pelos títulos. Eu não percebia que o que estava a esmagar o clube era precisamente a incompetência dos famosos gestore,s que colocaram o passivo do clube em valores estratosféricos. Gente para quem o clube era um brinquedo de gente graúda, um símbolo de status, o seu hobby de meninos ricos, o seu country club, o seu iate na marina, o seu campo de golfe.

Só percebi verdadeiramente quem eles eram, porque houve um homem que me abriu os olhos (e certamente a mais sportinguistas idiotas como eu), que me levou a ser sócio “normal” pela primeira vez e mostrou que, para gerir o clube, não tem de se ser um gestor famoso, não tem de ser rico nem ser mecenas: é preciso é ser verdadeiramente sportinguista, pois esse amor ao clube leva a que ele seja tratado como um filho e nada se faça para o prejudicar, onde o presidente confere facturas de 80€ antes de pagar, porque o dinheiro e o clube são dos sócios.

Mas o meu ódio aos croquetes ficará para outra ocasião, porque hoje queria aproveitar a oportunidade para simplesmente prestar homenagem aos verdadeiros sportinguistas. Queria agradecer a todos os que, dia após dia, vão desmontando as mentiras da imprensa, as mentiras dos falsos sportinguistas, as mentiras dos fazedores de opinião e esclarecendo os menos avisados sobre certas matérias.

Queria louvar a paciência dos que nos vêm ajudar a compreender os complicados relatórios e contas, participações à CMVM, VMOCs, empréstimos obrigacionistas, enfim, todos esses assuntos que passavam, e passam ainda, ao lado da grande maioria dos adeptos. É difícil de compreender, a alguém que nem consegue aguentar o nervosismo de um jogo do clube que adora, o facto de haver gente com a capacidade organizativa e a persistência para recolha de elementos, ano após ano, para elaborar “artigos” e fazer demonstrações e comparações com uma dedicação que não vejo em mais nenhum clube, pois esses têm
a papinha toda feita e os títulos caem-lhes no colo de pára-quedas.

É notável a dedicação e tempo que despendem a escrever sobre o Sporting, a fazer podcasts e programas, a escrever autênticos artigos em blogs e, com isso, informando os sportinguistas da treta, como eu, acerca da realidade do clube. É importantíssimo o conhecimento que têm dos bastidores e dos actores que andam pelo nosso clube e do papel que desempenham.

Graças à dedicação destes e destas sportinguistas, aprendi mais sobre o clube e as relações de poder dentro dele nos últimos 10 anos (graças, claro, ao contributo inestimável das redes sociais), do que no resto da minha vida. Não vou dizer nomes para não ser inconveniente ou injusto, caso me esquecesse de algum, mas eles são conhecidos de todos os que são leais ao Sporting, pois são aqueles que não andam ao sabor do vento nem se regem por avenças ou interesses pessoais e nem dessa actividade tiram qualquer dividendo.

Os sportinguistas da treta, como eu, o mais que fazem para mudar o rumo da situação é proferir insultos soezes contra croquetes, jornalistas e comentadores. Alivia a alma mas não esclarece ninguém que me leia. E para me envergonhar ainda mais e realçar a minha inutilidade, aparece um grupo de jovens corajosos com pêlo na venta e sem medo de afrontar quem quer que seja, que apresentam as assinaturas necessárias para uma assembleia geral destitutiva. Sacanas dos putos! Admiro-vos, nem tudo está perdido.

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Comments

  1. Paulo Vieira

    Meu Caro, você não gosta de croquetes, nunca se serviu do Sporting em proveito próprio, nunca ouviu um relato em Kandahar, anda aqui pela “Dark Web” em vez de usar os canais da Cofina que são os órgãos oficiais do clube e ainda tem a distinta lata de vir aqui elogiar um presidente destituído que geria o clube e a SAD com honestidade e transparência? Então, desculpe que lhe diga, mas você não é um sportinguista da treta, você é escumalha!… mas não desespere, eu também sou e com muito orgulho.

  2. Como me revejo neste post…. Não, não és um sportinguista da treta. Das me esperança que mais acordem!

  3. Green Marquis

    Não me caro, não és da treta.
    Da treta são os que vivem das aparências, os que preferem um clube “de bem” do que um clube ganhador, os que ligam ao futebol e cagam nas modalidades, os que tiraram de la uns dos melhores Presidentes da história porque não gostavam do homem (mesmo reconhecendo que estava a fazer um bom trabalho).
    Tu serás apenas um adepto atipico.

    Da treta são so que perante o que já se sabe continuam a dar o beneficio da confianca ao gang do fivelas, os que perante o que se sabe não se manifestam contra toda a destruicão levada a cabo por essa cambada.

      1. Green Marquis

        Obrigado, mas eu não me chamo jorge mendes