Aconteça o que acontecer, vamos falar dos dias 7,8 e 9 do julgamento
Tive o prazer de ser convidado a escrever um pouco sobre os eventos recentes no julgamento de Alcochete. Começo por saudar o Rugido Verde e cada um de vós, leitores.
A semana que passou trouxe diversas novidades no caso de Alcochete, as mais relevantes foram já exploradas num excelente artigo relativo às contradições e omissões de Ricardo Gonçalves. Num caso envolto numa narrativa pré-concebida, na qual as peças sistematicamente não encaixam para qualquer pessoa mais atenta, é nos detalhes que se encontram as respostas que importam.
Deparamo-nos com um desafio adicional neste processo. O que sai cá para fora nem sempre corresponde fielmente ao que é dito nas quatro paredes do tribunal e, às vezes, só uma parte chega a conhecer a luz do dia. Por exemplo, quando Ricardo Gonçalves disse “houve uma frase que me chamou a atenção: aconteça o que acontecer, vocês estão comigo?” Sucede que, originando essa frase artigos em rede imediatos, teve um complemento omitido – nada mais e nada menos que o contexto, esclarecido logo depois após ser questionado sobre o mesmo.
Essa mesma frase pode ser encontrada na carta de rescisão de Rui Patrício, onde é expressa a mesma “curiosidade”, e onde é escrita de uma maneira apenas ligeiramente diferente: “Aconteça o que acontecer, estão preparados para jogar no fim-de-semana?”
A relevância disto reside em como as frases vão sendo descontextualizadas, retocadas e usadas de forma tão repetida quanto abusiva. Como Rogério Alves disse,”beba a água da fonte”; e a fonte parecem ser as cartas de rescisão (já estas absorveram imenso da CS – lembrando as tochas na grande área – mas também servem às testemunhas para darem coerência a um enredo com tantas versões em detalhes cruciais), as quais foram elemento principal para a construção do caso da acusação por Cândida Vilar.

Por vezes parece que o que está em causa é a defesa da “justa causa”, matéria desportiva, mais do que o apuramento de factos ou da realidade num processo tão sério pela gravidade das imputações. Talvez esta seja mesmo a melhor forma de descrever a actuação muito estranha do MP debaixo da batuta de Vilar, tendo ela expressado de forma clara considerar existirem cidadãos de diferentes categorias e graus de importância.
Como foi dito inicialmente, foram já exploradas as incongruências e muitas omissões de Ricardo Gonçalves. No entanto, antes de passar aos testemunhos que se seguiram gostava de chamar a atenção para duas questões adicionais. Sem precedente a nível de serem chamados à academia, tal como foi dito por Márcio Alves (GNR), um dos membros num grupo de WhatsApp mencionou “temos 15 minutos antes da GNR chegar.” Qual a fonte de tal informação e convicção?
Ainda, apesar de Ricardo Gonçalves dizer que não sabia nada a respeito da vídeovigilância, o cabo Santos dissera o seguinte: “informou-me que duas câmaras de vídeovigilância não estavam a funcionar.”
Agora sim, vamos prosseguir.
Manuel Fernandes, no seu estilo habitualmente exagerado, acaba por fazer uma descrição dos acontecimentos menos pesada do que seria de esperar, tendo em conta o argumento predominante. Viu insultos e crispação, viu um ferido (o que todos vimos, infelizmente, estrategicamente posto a circular como “cabeça partida”; “impeditiva de jogar”) e pouco mais. Não atribuiu premeditação ao que sucedeu, quer no verificado quer no cenário dantesco habitualmente alegado.
Confirmou que a famosa frase maligna, reproduzida agora como “Amanhã vamos lá estar todos às 16h e aconteça o que acontecer, vocês estão comigo?” se referia ao despedimento de Jorge Jesus, algo lógico, e não a um plano “genial” retirado do Antigo Testamento, de acordo com o professado por verdadeiros cavaleiros cruzados da CS.
Mais, referiu “nós entendemos como… ” e não apenas “eu entendi como…”
Seguiu-se Paulo Cintrão (Comunicação da SAD), e igualmente não enveredou por teorias e exacerbações. Ficou surpreendido com a entrada dos elementos “invasores”, viu apenas uma agressão e confirmou conhecer Minicapo, Emanuel Calças (devido a um estágio), que antes se identificara como jornalista do clube a um elemento da GNR. Não viu outras marcas de agressão, algo que já fora referido por elementos da GNR nas primeiras sessões, apesar de existirem tantas versões que dariam para colocar várias pessoas em estado vegetativo se somadas.
Aguardemos por um único relatório médico forense, pois as imagens nada mostram, inclusive as captadas pela CS nessa noite no Montijo (GNR); e bem podem procurar por um edema ou pisadura visível usando uma lupa.
Novamente em julgamento, como se de um enigma da esfinge se tratasse, Cintrão foi questionado sobre a frase maligna do “aconteça o que acontecer” numa qualquer versão. “Todos pensaram que era por causa do despedimento de Jorge Jesus e que iria sair,” respondeu Cintrão.
Foi fiel na descrição dos acontecimentos da Madeira, incluindo os insultos de Battaglia e Acuña aos adeptos. Confirmou, igualmente, que Bruno de Carvalho ficara retido em Alvalade, confirmado por Nuno Saraiva, devido à capa do caso Cashball e às repercussões imediatas que geraram surpresa, cortesia de Tânia Laranjo. Um dia iremos saber se foi coincidência o lançamento do caso nesse dia, ou se foi antecipado para coincidir por informações privilegiadas a respeito da “invasão” que viria a suceder.
No último dia de audições da semana foi a vez de Miguel Quaresma, Raul José e Nelson Pereira. Falarei de Nelson no fim.
Os dois primeiros chegaram a ver objectos inexistentes, como bastões e outras armas brancas, admitindo mais tarde ter sido “apenas impressão”. O fundamental e relevante é que admitiram a hora do treino ter sido marcada por Jorge Jesus, apesar de adicionarem que primeiro existiu uma “sugestão de adiamento” do Presidente do CD. No entanto, qualquer dúvida fica encerrada.
Foi uma questão que também teve início na carta de rescisão de Rui Patrício – ou melhor, quem a escreveu – da qual Cândida Vilar absorveu a convicção de que o treino fora antecipado (quarta-feira para terça-feira). Ao cair essa versão, seguiu-se a da mudança da manhã para a tarde; por fim, culminando na última versão da acusação: terá definido a hora. Os testemunhos foram inequívocos e finais.
Ao contrário de Manuel Fernandes, ambos viram más intenções nos “invasores” desde o primeiro momento. Queriam agredir, não queriam falar, viram objectos inexistentes e tratou-se do Apocalipse com “20, 30, ou 40” cavalos. As descrições de agressões são diversas e criativas. Como referido, quase nunca batem certo se vistas ao detalhe e comparadas com outros testemunhos que as afirmaram (ex. unificando testemunhos, desde Montijo até este dia no tribunal, Jesus foi agredido em todos os espaços da Academia, de todas as formas, bem como em todas as zonas do corpo, excluindo os pés).
No entanto, nenhum dos dois viu a agressão a Bas Dost, a única sobre a qual existe algo de materialmente palpável (fotografia).
Quanto aos distúrbios no aeroporto da Madeira, ambos foram vagos, com Raul José a descrever razoavelmente o que pode ser visto em imagens, mas quando questionado sobre se o sucedido poderia ter resultado na “invasão”, apenas respondeu “talvez, não sei…”.
Miguel Quaresma não se lembrava de nada, possivelmente por trauma. Muito menos se recordava do que o amigo Jorge Jesus ouviu de Fernando Mendes: “falamos na academia.”
Finalmente, Nelson Pereira. Foi de longe o mais realista das testemunhas do dia. Em lugar de um cenário de guerra terrorífico, descreveu a “invasão” como algo que a certo momento se descontrolou um pouco (mencionando um elemento em particular: o indivíduo do cinto), o que levou à saída rápida e palavras nesse sentido. Não viu intencionalidade na tocha que atingiu Mário Monteiro (“casual”), descrevendo uma outra que despejou no lixo, ambas no início da entrada no balneário e uma à saída no corredor sem relevância.
Relembro que num testemunho no DIAP, Frederico Varandas, o qual quase ninguém viu pelos vistos, afirmou que a tocha foi dirigida à sua pessoa com intencionalidade, tendo com grande habilidade evadido o petardo, acabando o engenho explosivo por embater no não-tão-talentoso Mário. Noutro testemunho, Ludovico disse que tal tocha fora direccionada aos jogadores. A descrição de Nelson é provavelmente a verdadeira, mas por diversão prefiro a versão “Herói de Kandahar.”
De realçar que Nelson apenas viu uma agressão, a Misic, com um cinto (ou seja, o mesmo indivíduo de Bas Dost, pois como anteriormente fora dito em tribunal “apenas havia um cinto”). Confirmou existirem ocasionalmente reuniões com claques, incluindo Jorge Jesus.
Tal como relativizou um pouco as (más) intenções na “invasão”, fez o mesmo em relação ao confronto e palavras de parte a parte no aeroporto da Madeira, após a perda do segundo lugar na classificação e acesso à Champions League.
Recebeu o horário de treino pelas vias habituais e confirmou que a tal frase terrível e raríssima do “aconteça (…) ” foi entendida como um iminente despedimento do treinador.
Por último, foi questionado a respeito do vídeo gravado no balneário da academia que foi posto a circular, encabeçado por Frederico Varandas. Respondeu apenas que a frase “filma a fivela” lhe era familiar, mas não sabia quem a tinha dito, nem quem tinha filmado. Algo que é muito, muito duvidoso.
O julgamento continua. A narrativa também. Muitos detalhes são deixados de fora, sobretudo relativos a questões colocadas por advogados e respostas nas quais o detalhe importa, tendo Cândida Vilar fiel eco na CS com todas as ênfases e repetições que entende fazer. Vende-se um cenário em lugar de averiguar factos. Resta desconstruir para construir a realidade.
A vida de várias pessoas está em causa e não é uma mera metáfora.
a montagem de uma cabala juridica, que a vilar construiu, para destruir BdC a mando do seu amigo “intimo” gordinho lopes, uma rameira dos tribunais do grupo do rangel.
Seria interessante ter um resumo diário do que acontece no julgamento (sem ser filtrado pela CS), mas se não é possivel que seja através destes artigos aqui de uma forma mais regular.
O que se pode tirar do julgamento até ao momento é que existiram vários ataques com vários integrantes e várias histórias. Uns contam o que viveram, outros o que imaginaram.
E já agora, o ratazana fernandes que descreveu suores frios e acordar aterrorizado porque estava a levar chapadas, descreveu no tribunal que não levou porrada e que foram apenas os colegas. Essa parte deve ter escapado aos jornalistas.
É isto. Este tipo de artigo é (ou devia ser) muito útil para quem não está por dentro de todos os detalhes. O problema é que nem sempre as pessoas se querem informar, para não verem a sua narrativa de eleição cair por terra.