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Sexta-feira, Abril 26, 2024

“Os meninos vão à luta…” – Entrevista em 1992 aos quatro campeões do Mundo sub-20 (Figo, Filipe, Peixe e Paulo Torres). Parte IV – Figo

FOOT – O que é que está a mudar no futebol português?

FIGO – Começou a mudar muita coisa desde que foi conquistado o título de Riade. Estão a aparecer em grande duas gerações (que se confundem) de bons jogadores. Os títulos vieram abrir lugares nas equipas aos jovens jogadores, não só os que participaram nessas duas provas mas todos os que têm qualidade.

FOOT – Há essa ideia formada de que os «meninos do Queirós» resolvem os problemas das equipas. É um fardo grande, que se calhar vocês vão carregar ao longo de toda a vossa carreira: serem «meninos do Queirós», da mesma forma que outra geração foi a dos «meninos do Pedroto»…

FIGO – O Paulo tem razão: se conseguirmos ganhar alguma coisa, as pessoas vão olhar-nos de maneira diferente. Agora, não vamos esquecer-nos de que tivemos a felicidade de ser treinados por ele e que com ele aprendemos muita coisa. Essa é a grande verdade e o professor vai continuar a poder demonstrar o seu valor.

SELECÇÃO

FOOT – Exceptuando os jogadores e meia dúzia de excepções entre dirigentes e técnicos, parece que toda a gente decidiu embirrar com Carlos Queirós. É fácil passar-se de bestial a besta neste país…

FIGO – Face a um plano revolucionário, há sempre divergências, porque cada um tem uma maneira própria de ver os problemas. Mas isso não pode ser impeditivo de que o deixem trabalhar descansado.

FOOT – Provavelmente, vocês os quatro vão ser mais de um terço da equipa que vai tentar a qualificação para o Mundial. Digam-nos lá três boas razões para acreditarmos que esse sonho é possível.

FIGO – Temos de acreditar nas coisas boas que o futebol português tem. Vamos acreditar no nosso futebol e demonstrá-lo no apuramento. Temos de estar concentrados em todos os jogos.

O NOVO JOGADOR PORTUGUÊS

FOOT – O vosso discurso é perfeita mente optimista, embora enquadrado pelo realismo, a que muita gente já se, habituou, vindo dos jogadores que passaram pelas mãos de Carlos Queirós. Também nisso vocês vieram dar uma nova imagem do profissional de futebol, mais culto e mais ponderado nas afirmações do que há uns anos atrás…

FIGO – O futebolista era visto de uma maneira diferente do que hoje sucede. Na generalidade, de há uns anos a esta parte os jogadores passaram a exprimir-se melhor, a dizer de uma forma ponderada aquilo que sentem. Na medida em que isso dignifica esta profissão, só há que aplaudir as melhorias…

FOOT – Agora é mesmo só com vocês os quatro: estão habituados a ganhar, mas jogam num clube que não ganha há muitos anos. Também aí pensam que podem alterar alguma coisa, isto é, ajudar o Sporting a regressar às vitórias?

FIGO – Este ano ainda não ganhámos nada, mas estamos todos motivados para mudar o curso dos acontecimentos. Para estar no Sporting é também preciso gostar muito. Acreditamos em nós e acreditamos no clube e na sua capacidade de mudar para melhor. E difícil, talvez, mas não é certamente impossível chegar ao título nacional já na próxima época.

FOOT – Marinho Peres?

FIGO – Só posso dizer bem dele, até porque foi quem me meteu na equipa sénior do Sporting. E um grande treinador e uma pessoa excelente.

FOOT – Depois destas confusões todas em torno de Marinho Peres, parece claro que ele não vai continuar no Sporting na próxima época. Era ele o homem que podia mudar a sina do clube?

FIGO – Se o Marinho Peres tem conseguido, se todos nós temos conseguido, estar na discussão do título, toda a gente diria que ele é o maior. Assim…

FOOT – Toda a gente que acompanha o futebol tem esta época um esquisito paradoxo para tentar explicar: o Sporting é tido como a equipa que melhor futebol pratica, mas em contrapartida está a quilómetros do primeiro lugar. Excesso de «romantismo» na equipa?

FIGO – Apesar de estar no futebol profissional há pouco tempo, posso dizer que o futebol não se joga só dentro das quatro linhas e há dias em que jogamos melhor e não ganhamos. Eu penso que para o Sporting ser campeão não basta ser melhor equipa que as outras ou praticar melhor futebol. As coisas que acontecem por fora ditam muito no decorrer do jogo… Também falhamos golos e também facilitamos às vezes. Talvez denotemos, em algumas ocasiões, falta de concentração e de maturidade. Mas há mais…

FOOT – Isso pode significar que estão plenamente de acordo com a profissionalização dos árbitros, tal como a FIFA preconiza, como forma de haver maior responsabilização destes?

FIGO – Acho que não há problema nenhum em eles serem profissionais. Se isso servir para aumentar o nível da arbitragem e para garantir maior isenção, não vejo porque não.

Data: 01/03/1992
Local: Revista «Foot» - Março de 1992
Evento: Entrevista a Filipe, Peixe, Paulo Torres e Figo

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