RUGIDO VERDE

Quando há oito dias vi frente a frente, no Estádio do Jamor, as equipas do Sporting e do Vasco da Gama, a memória acordou a saudade e, fechando os olhos, procurei no cofre das reminiscências um outro encontro dos mesmos clubes há 19 anos, em terras brasileiras, no Estádio de S. Januário no dia 22 de Julho de 1928.

O cenário não era tão grandioso, mas assim mesmo imponente; no alto da gradaria em forma de U, acumula-se multidão entusiástica. A arquibancada, que se estende a todo o comprimento do terreno de jogo, é inteiramente coberta por um enorme alpendre de cimento armado e ocupada por cómodas cadeiras em 32 sucessivas filas separadas, a meia altura, por uma linha de 80 camarotes. Tudo isto, sem um lugar vago, vibrando de espectativa, rompendo em aplausos ao surgir dos jogadores.

Depois das cerimónias habituais, troca de cumprimentos e oferta de vários brindes aos sportinguistas (um magnífico e enorme bronze artístico que pesava mais de trinta quilos), o prélio inicia-se com a saída pelos vascaínos.

O Sporting alinhou com alguns dos elementos de reforço que levara de Lisboa; Roquete, Carlos Alves e Jorge Vieira; João Francisco, Serra e Moura e Martinho de Oliveira; Liberto, João dos Santos, Armando Martins, Cervantes e José Manuel Martins.

A luta trava-se em ritmo de ataque e resposta, com situações de perigo para ambos os lados, destacando-se desde logo a acção brilhante do médio centro Serra e Moura, que a crítica considerava, no dia seguinte, «a maior figura da cancha, incansável e, sobretudo, um mestre dos passes, numa exibição como poucos se tem visto nos gramados cariocas».

Apesar dos esforços das linhas avançadas, nenhum ponto conseguem marcar até ao intervalo. Cervantes, magoado, cedera o lugar a Abrantes Mendes, mas o resultado não se alterou.

Quando os grupos voltaram para recomeçar o jogo, Gustavo Teixeira substituíra Armando. Aos dez minutos, José Manuel escapa-se pela esquerda, atalhando à baliza, como era seu hábito e, quando o defesa Itália se aproxima, centra rasteiro; Gustavo remata em corrida, ao canto direito da portaria e a bola entra, mau grado a desesperada estirada de Jaguaré.

O Sporting esteve cinco minutos em vencedor: o avançado centro vascaíno, Russinho, lança um remate que atira a bola contra o poste esquerdo e, colhendo-a no ressalto, o interior Pepico consegue bater Roquete.

No restante do tempo, os contendores esforçaram-se por alcançar o desempate, mas todos os esforços foram vãos. A igualdade manteve-se até final.

Salazar Carreira
In revista Stadium, 2 de Julho de 1947