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Quinta-feira, Maio 02, 2024

Neste dia… entrevista a Douglas em 2016: «O meu estilo? Era para ser diferenciado. Quando olhavam para o campo já sabiam que era eu».

Douglas: «Sousa Cintra entrou no balneário a pedir para eu jogar»

«Destino: 80’s»: brasileiro das meias em baixo recorda os anos que viveu em Alvalade. Da «guerra» que o desviou do Torino ao lugar tapado por Oceano até à fazenda que gere, atualmente, em Minas Gerais

Por João Tiago Figueiredo 

DESTINO: 80’s é uma rubrica do Maisfutebol: recupera personagens e memórias dessa década marcante do futebol. Viagens carregadas de nostalgia e saudosismo, sempre com bom humor e imagens inesquecíveis. DESTINO: 80’s.

DOUGLAS: Sporting (1988 a 1991)

«O meu estilo? Era para ser diferenciado. Quando olhavam para o campo já sabiam que era eu».

É assim que Douglas, médio de qualidade que representou o Sporting na viragem da década de 80 e que deixou saudades em Alvalade, define a forma como, invariavelmente, se apresentava em campo. Um rebelde, no fundo, de camisola por fora dos calções e meias descidas.

Durante três temporadas e meia foi um dos talentos do plantel leonino. Sempre de meias em baixo, claro está. «Só joguei com as meias em cima no final de carreira porque aí já era obrigatório usar as caneleiras», atira entre risos. «A imprensa implicava um pouco mas não me atrapalhava porque eu dava tudo pelo Sporting: era sempre o primeiro a chegar e o último a sair. Ninguém tinha nada a dizer de mim», garante.

Mas, claro está, Douglas foi muito mais do que estilo de leão ao peito. E por isso o Maisfutebol quis conversar com ele. Encontrou-o na sua fazenda, perto de Belo Horizonte.

«Trabalho nas carnes. Vendo gado suíno e bovino. Tenho uma fazenda de criação e um frigorífico para o abate», diz.

Assume as saudades do futebol, mas há muito que desistiu de uma ligação mais efetiva. Ainda trabalhou como treinador, mas foi experiência curta. «Já tinha o meu negócio e não havia tempo para tudo. E, depois, o que ganhava aqui perdia no futebol e fartei-me logo…», desabafa.

Por isso, hoje em dia, Douglas só sente o futebol como adepto. Vai muitas vezes ao estádio do Cruzeiro, com os filhos. «Está agora até com um treinador português, não é?», questiona, referindo-se a Paulo Bento. «Sei que esteve ligado ao Sporting e vou torcer para que faça um bom trabalho», promete.

O Cruzeiro é, a par do Sporting, o clube do coração de Douglas. «Eles aqui têm uma política de aproximação muito grande aos seus ex-jogadores. Eu tenho um cartão do programa ‘Ídolo Eterno’, que me permite ir ver os jogos. Era algo que o Sporting também poderia fazer», sugere.

Quando Jorge Gonçalves «fez uma guerra» para ter Douglas»

Douglas chegou ao Sporting em 1988. Mas o destino esteve quase, quase a ser outro. «Na época tinha tudo acertado para ir para o Torino através do Juan Figger. Ia eu e o Míner. E o Silas e o Edu iam para o Sporting», explica.

O que mudou, então? A vontade do treinador. «Disse ao bigodudo, o Jorge Gonçalves, que queria era o Douglas e ele fez uma guerra para que eu viesse», atira, entre risos. Refere-se a Manuel José, embora o primeiro técnico que apanha em Alvalade seja o uruguaio Pedro Rocha.

Seja como for, a verdade é que Douglas veio mesmo para Alvalade: «Lá conseguiram convencer o Figger e o Torino e fez-se a troca: fui eu para o Sporting e o Edu para o Torino.»

Pela sua parte, o brasileiro garante que foi fácil convence-lo a mudar a rota. E explica porquê: «Eu sabia que o Torino dificilmente ia conquistar títulos e no Sporting tinha mais possibilidades. Era uma equipa grande, como o Cruzeiro.»

Douglas (terceiro em pé a contar da direita) no Sporting

Os números de Douglas em Portugal:

1988/89: Sporting, 28 jogos (3 golos)

1989/90: Sporting, 30 jogos (6 golos)

1990/91: Sporting, 39 jogos (4 golos)

1991/92: Sporting: 27 jogos (1 golo)

Não ia jogar porque havia Oceano. «E não podemos jogar os dois?»

A adaptação a Portugal foi simples, garante. «Na altura diziam que o brasileiro tinha de esperar passar o inverno», diz, entre risos. Mas para si não foi problema. Queria era jogar e mostrar as suas maiores qualidades: «Era um jogador de muita marcação e obediência tática.»

Apesar disso, rapidamente lhe traçaram um vaticínio: vai jogar pouco em Alvalade. Douglas ouviu e não compreendeu. Depois explicaram-lhe: havia Oceano. «E eu dizia: está certo, mas e não podemos jogar os dois?», sorri.

«E acabamos por jogar juntos muitas vezes. Era uma grande pessoa, tenho muitas saudades dele. O que é que ele faz?», questiona.

Aqui, a conversa muda de figurino e entrevistado e entrevistador de papéis. Há muita curiosidade em Douglas. «Carlos Manuel, Carlos Xavier, Mário Jorge, Litos…Eram os meus grandes amigos. Continuam ligados ao futebol? E o Sporting como está? Ganhou a Taça no ano passado não foi? Isso eu vi», conta.

«Vamos torcer para que ganhe o campeonato já para o ano! O Sporting é uma equipa muito grande. Tenho muitas saudades daquela torcida maravilhosa», assume.

As saudades explicam-se porque, desde que deixou Alvalade, em 1991, para voltar ao Cruzeiro, só por uma vez veio a Portugal.

«O meu trabalho absorve muito do meu tempo, ainda por cima numa altura em que o Brasil passa uma recessão. Sempre gostei de trabalhar e não tem como parar. Só quando me aposentar. Aí, como os meus filhos já não precisam de mim, vou pegar na mulher e vamos curtir a vida», promete.

O cartão de jogador de Douglas

«Então como é que é? O Douglas é que era bom e agora não joga?»

Contratado por Jorge Gonçalves, demorou apenas um ano para Douglas conhecer outro presidente. Nada menos do que o carismático Sousa Cintra.

«Ele era muito engraçado», comenta. «Ainda é vivo?».

«Lembro-me que houve um jogo, algum tempo depois de ele chegar, num torneio de Amesterdão em que eu fiquei no banco, com o Manuel José. Ao intervalo estávamos a perder 1-0 e o Sousa Cintra entra no balneário disparado: ‘Então como é que é? O Douglas é que era bom e agora não joga?’. O Manuel José disse-lhe para ter calma. Mas lá me meteu e até fiz o golo do empate. E ganhámos nos penaltis. Mas pedi desculpa à equipa por aquele momento mesmo que eu não tivesse responsabilidade nenhuma», recorda.

Foi um dos jogos que o marcaram na passagem por Alvalade. Houve outros.

«Houve um jogo com o Vitesse, em que marquei dois golos. Mas também ao Benfica marquei, por exemplo. Houve um golo ao Chaves, de calcanhar, que acho que ganhou o prémio de golo mais bonito do ano», lembra.

«Tenho muitas saudades do Sporting. Aquele clube faz parte da minha vida. Muitos amigos meus quando vão a Lisboa passam nas lojas do Sporting e depois mandam-me fotos…Tenho uma ligação muito grande. Em Belo Horizonte há muitos sportinguistas, sabe? Ainda há dias passei na rua por uma pessoa que usava uma camisola do Sporting. Eu fui lá ter com ele e disse-lhe: ‘Sporting? Sabia que eu joguei lá?’. Fez alta festa. Aqui há muitos descendentes de portugueses e então se o avô era sportinguista, por exemplo, fica sempre aquela paixão», explica.

As memórias do futebol alimentam um pouco da vida de Douglas, que, agora, só joga por prazer. «Vou jogando cá na fazenda. Costumamos fazer uma pelada de futebol de sete», conta.

«Gosto porque é aquele futebol sem compromisso que a gente busca depois de deixar de jogar a sério. E como sou o dono do campo e da bola corre sempre bem…», completa, entre risos.

Não há como negar.

Fonte: maisfutebl.iol.pt

Data: 26/05/2016
Local: Maisfutebol
Evento: Entrevista a Douglas

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