RUGIDO VERDE

Levantar e levantar de novo, até que os cordeiros se tornem Leões!

Domingo, Abril 28, 2024

Neste dia.. em 1986 – Sporting eliminado ao cair do pano por Roberto, numa exibição memorável contra o Barcelona

Meade não merecia…

Por Eugénio Alves

Tira-se-lhe o e final e Mead(e) significará «vinho temperado com mel». Pois é: o negrão forte, combativo e generoso de quem o Arsenal abdicou há dois anos, a favor do Sporting leonino, «temperou», a noite de ontem, em Alvalade, com uma exibição memorável. Faltou o «mel» da passagem da eliminatória. Meade não merecia a tremenda injustiça daquele golo cínico, frio e irreparável do nº10 catalão (Roberto). Não o mereceram também outros seus brilhantes companheiros da noite injusta, como o Fernando Mendes das lágrimas finais, o Negrete pés de veludo, o furacão Oceano, e Zinho, Venâncio, Mário Jorge e mesmo Virgílio, que «secou» o milionário britânico Lineker.

A invasão dos jornalistas catalães levou-me para a bancada do lado nascente, para a molhada dos «tiffosi» leoninos. Foi um ver se te avias de levanta-senta e senta-levanta, que os fervorosos adeptos não aguentavam tranquilos a avalanche de emoções.

Plantam-se os adversários no terreno, com Lineker e Amarilla destacados no ataque, ora apoiados por Marcos e Roberto, e passando com facilidade do 4-2-4 para o 4-4-2. Ouvem-se palpites pessimistas. «Os gajos querem jogar ao ataque», comenta assustado, a meu lado, um desses adeptos que vai atrás dos «leões» a todo o lado. Era justo o pressentimento.

Todavia, decorridos os primeiros cinco minutos, a equipa de Manuel José agarrou o terreno, ocupou o «miolo» e, com lances em profundidade, a aproveitar inteligentemente a velocidade de Meade, desatinou o frio líder do campeonato espanhol. Miguel e Mortalha, os altos centrais do «Barça», não se entendiam com Meade, que lhes aparecia num e noutro flanco, batendo-os na corrida, disputando-lhes o espaço aéreo, rematando, passando, produzindo oportunidades de golo.

Acontece aos 17 minutos: escapadela pelo lado esquerdo e disparo que Zubizarreta desviou para canto. Oito minutos depois, é a fuga pelo flanco direito com atraso para Virgílio que desvia para Zinho e pontapé forte bem defendido de novo. Aos 33 m Fernando Mendes cruza do lado esquerdo, Meade recolhe o esférico mas falha incrivelmente. E, sete minutos depois, novo cruzamento do defesa esquerdino: os centrais visitantes juntam-se temerosos à volta do solitário Meade, a bola sobra para Negrete e o ladino mexicano só tem que, calmamente, a empurrar para o lado contrário de Zubizarreta.

Aquele golo paraquedista…

Confiante, descontraído, o onze leonino voltou ao relvado com a disposição inicial. Um senão: Manuel Fernandes já não tem pernas para apoiar Meade. O veterano capitão fica-se pelo meio campo na ajuda à manobra da equipa e Meade tem que se desdobrar, de novo, em todas as frentes do ataque. Valerá, então, a subida de Mário Jorge, a combinar bem com Fernando Mendes e a superar igualmente a menor rapidez de Zinho (magnífico na primeira parte com as suas descidas pelo corredor direito).

E aos 15 m, um lance envolvente dos dois bons esquerdinos do Sporting é concluído pelo cruzamento rigoroso do defesa e Meade surge bem alto, entre os latagões do «Barça» a cabecear para o sítio certo. É o delírio entre os setenta mil das bancadas. Crescem mais os «leões» e Fernando Mendes perde, infantilmente, a oportunidade da noite quando, isolado frente a Zubizarreta e tendo Meade e Mário Jorge em melhor posição para o golo, opta por um falhado «chapéu».

É o período decisivo do jogo. Manuel José opta, sabiamente, pelo reforço da defesa, trocando Manuel Fernandes por Gabriel. E quando já ninguém acreditava, nem mesmo os forasteiros (entretanto reforçados com as entradas de Esteban e Urrutia), acontece o golo frio, paraquedista, a derrubar o sonho lindo de uma equipa soberba, tão diferente do tímido onze, quase estragado três dias antes pelo Porto.

Foi pena. Meade não o merecia!..

Sob a direcção do árbitro italiano Luigi Agnolin as equipas alinharam:

Sporting: Damas; Virgílio (McDonald, 87), Venâncio, Duílio e Fernando Mendes; Zinho, Oceano, Mário Jorge e Manuel Fernandes (Gabriel, 70); Negrete e Meade.

Barcelona: Zubizarreta; Gerardo, Miguelli, Júlio Alberto e Urbano; Muratalla, Pedraza (Esteban, 72), Lineker e Amarilla; Roberto, Marcos (Rojo, 72).

Acção disciplinar: cartões amarelos para Júlio Alberto (42), Pedraza (58), Fernando Mendes (67) e Roberto (68).

Golos: Negrete (40′) e Meade (60′) (Sporting); Roberto (84′) (Barcelona)

Fonte: Diário de Lisboa

Data: 05/11/1986
Local: Estádio José Alvalade
Evento: Sporting (2-1) Barcelona, Taça Uefa, 2ª Eliminatória - 2ª Mão

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Comments

  1. alfredo dias

    lembro me muito bem dese jogo foi dos melhores jogos que alguma vez vi o sporting fazer… mas começamos foi uma opurtunidade de ouro perdida por um pontape a 40 mt da baliza mas tudo começou num falhanço de baliza aberta ainda em barcelona pelo negrete e pela infeliz substituiçao de maneul fernandes pelo gabriel que fez nos recuar muito …

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