RUGIDO VERDE

Levantar e levantar de novo, até que os cordeiros se tornem Leões!

Sábado, Dezembro 13, 2025

Neste dia… em 1983, boas entradas em Alvalade. Golo de Jordão interrompe invencibilidade do rival no campeonato.

O onze que alinhou de início. Em cima, da esquerda para a direita: Meszaros, Jordão, Venâncio, Kikas, Virgílio e Oliveira. Em baixo pela mesma ordem: Ademar, Kostov, Manuel Fernandes, Lito e Marinho.

Fatal como o destino: Sporting – 1, Benfica – 0

Por Neves de Sousa

Foi o lance que marcou o embate Sporting-Benfica mais rodeado de multidão de todos os tempos: Alvalade erguia-se como uma mola, quando o árbitro bejense Rosa Santos assinalava o inexorável «penalty» cometido por Humberto Coelho sobre Jordão, que o angolano iria cobrar sem apelo nem agravo, fazendo o resultado tangencial (1-0) que significou a perda da invencibilidade benfiquista na era-Eriksson (ao 29º jogo) e o revigoramento sportinguista, ampliado pelo desaire dos portistas na Amora. No parque do «leão», nasceu matéria vasta para discussão durante a semana, especialmente em redor dos jogos tácticos que, ontem (pelo menos) deram sinal verde exclusivamente para António Oliveira.

Benfica perde invencibilidade em Alvalade: Táctica: Oliveira, 1 – Eriksson, 0

Que me desculpe o mestre sueco do Benfica: cá para mim, foi no seu banco que se perdeu o jogo, a invencibilidade, o orgulho de caminhar sem peias no «Nacional» cá do burgo. Porque, ao fazer render Diamantino (um avançado) por Frederico (um defesa), mais pareceu estar a defender a derrota tangencial que a procurar arriscar um milímetro num César que sempre poderia fazer um golito ou em Shéu que, certamente, e mesmo a meio tom, meteria mais respeito no centro do campo que um Veloso todo cheio de fibra mas ainda sem a soberana classe do escurinho que não chegou a ser nomeado para trabalho activo. E, logo aqui, surgem dois casos para alongada meditação: estando Carlos Manuel com um golpe na perna direita (teve de ir ao hospital fazer uma suturação) e quase a funcionar em meio gás impunha-se retorquir à bela escalação da juventude de Mário Jorge a render Kostov (que tinha feito bons 45 minutos, mas já não podia com as botas quando veio o intervalo) e, sobretudo, evitar que o possante Festas, mal entrasse em palco, desse o tom de cilindro calcando todas as investidas rubras, reduzindo-as à expressão mais simples, jogando com o físico quando a técnica não conseguia a travagem.

Portanto, fico nesta: o jogo foi ganho por Oliveira e perdido (tacticamente) no banco benfiquista.

Jordão prepara-se para marcar o golo da vitória.

Foi um belíssimo tempo de abertura, com as duas formações a transitarem do estudo mútuo para o contra-ataque brusco: o Benfica a aproveitar a má forma de Ademar (que era um corredor aberto para Chalana e Carlos Manuel), o Sporting a tentar enrolar Humberto e Bastos Lopes que, realmente, estiveram muito aquém do talento do professor e da vocação do aluno. E foi por falha defensiva da sua cortina que o Benfica foi obrigado a duas estupendas paradas, logo prontamente imitadas por Meszaros que, ao longo da hora e meia, seria intransponível obstáculo, barreira de aço com braços como polvos, sempre que o perigo surgia por aquelas bandas: o único erro (deixar um cruzamento de Humberto viajar de poste a poste) terá de levar-se apenas a descrédito de uma defensiva que preferia, sempre, receber a bola pelo ar a vê-la colada ao chão. E, aí, foi outra crassa asneira rubra: apenas João Alves tentou os endosses longos, para as pontas, rasteirinhos. Todos os demais benfiquistas foram para Alvalade mentalizados de que só a cabeça de Filipovic poderia resolver a questão e, abdicando da ciência de Nené, entregaram os trunfos à dupla de centrais verdes, que estavam como peixe na água quando o couro vinha dos céus.

Outra tremenda falha benfiquista residiu no inacreditável «penalty» cometido por Humberto, que já deveria saber de cor e salteado que Jordão é homem de mil ardis e apenas espera um toque mais aparatoso para provocar vistosa grande penalidade. Verdade que, daí a pouco, o árbitro perdoou outro castigo irreparável a Pietra, por golpe quase a papel químico, mas o «capitão» benfiquista tem sempre de fazer aflorar ao subconsciente as qualidades histriónicas de Jordão e o modo (sumptuosamente dramático) como o angolano sabe provocar o «penalty»: e, depois, convertê-lo, sem apelo nem agravo. Em suma: os erros são a fortuna dos advogados. Humberto fez falta, Jordão cobrou, daí a pouco esteve a um passo de se repetir a história, mas, também do lado de lá, na tentativa de recepção de um pontapé de canto (apontado por Chalana), Humberto foi bem desviadinho da bola, acabando estatelado sobre a fofa relvinha e a falar sozinho. O mal dividido pelas duas aldeias.

Um pequeno cãozinho e o árbitro Rosa Santos acabariam por ganhar também direito a história. O bobyzito porque andou a passear por cima do placo como se fosse dono daquilo tudo e só o António Capela, estrategicamente colocado junto a Bento como que à espera do «boneco» que lhe faltava, conseguiu deitar-lhe a luva já quando se preparava a chamada para fuzileiros e caçadores especiais. Um intermédio cómico que depois seria convertido em instante a puxar para o trágico, quando da tremenda dessincronização entre juiz e fiscais, cada qual a mais acelerar nas falhas a solo ou em trio.

Jordão e Manuel Fernandes causam mais uma vez pânico na defesa encarnada

Pior, só o descontrolado «forcing» benfiquista, a que se opôs a serena capacidade de análise do senhor António de Oliveira, ontem (pelo menos) a mostrar que pode jogar e treinar, brilhar e comandar. Verdade que teve a seu lado uma legião de boas-vontades (Meszaros, Venâncio, Kikas, Kostov, Marinho, Lito, Mário Jorge, Jordão, em plano muito especial o estupendo Festas) mas também não poderá esquecer-se que o Benfica dá não sei quantas figuras para qualquer selecção e ontem, em Alvalade, ficou num colete de forças, espartilhado, esvaída a última pinga de sangue, sem qualquer solução a erguer-se do banco, anonimamente resolvido a virar a página e a esperar o futuro. Foi pena: gostávamos de ter visto Eriksson esgotar todas as possibilidades, alterar as pedras que impunham mutação, jogando com os treze artistas que poderia colocar em acção. Restringindo-se a si próprio, passou atestado de fraco valor a quem ficou dentro do fato de treino.

Ficha do jogo:

Arbitro: Rosa Santos de Beja (ajudado por Joaquim Rosa e Francisco Lobo)

Sporting: Meszaros; Ademar, Kikas, Venâncio e Virgílio; Lito (Festas aos 76 m), Marinho, Oliveira e Kostov (Mário Jorge, após o intervalo); Manuel Fernandes e Jordão.

Benfica: Bento; Pietra, Humberto Coelho, Bastos Lopes I e Veloso; Diamantino (Frederico, aos 76 m). Carlos Manuel, Alves e Chalana; Filipovic e Nené.

Cartão amarelo a Venâncio (aos 39’m), (Chalana, aos 57 m), Mário Jorge (aos 68 m) e Marinho (aos 69’m).

Golo: Jordão (aos 49 minutos, de grande penalidade) (Sporting)

Fonte: Jornal Diário de Lisboa

Data: 02/01/1983
Local: Estádio José Alvalade
Evento: Sporting (1-0) Benfica, CN - 14 Jornada

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