RUGIDO VERDE

Levantar e levantar de novo, até que os cordeiros se tornem Leões!

Sábado, Maio 04, 2024

Neste dia… em 1967: Estreia de Damas com a equipa principal, frente ao Porto em Alvalade (2-2)

Damas bloca. Estilo e segurança do guarda-redes leonino.

MORAIS (BRASILEIRO), O OÁSIS DO SPORTING… Morais…

Por Fernando Soromenho

O chamariz do jogo, não obstante se tratar de um «clássico» do nosso futebol, e a principal figura da figura que o Sporting acabou por fazer, quando na atmosfera pairava o espectro de jornada negativa, foi o brasileiro Morais. Discutido por causa de transferência disputadíssima, a sua presença ontem no «onze» do Sporting, em estreia de natural expectativa, constituiu motivo de inegável interesse. Na controvérsia provocada pelas actuações dos dois grupos, ele é o tema central.

Se o brasileiro não produziu exibição de relevante tecnicismo em constância (há quatro meses que não intervém em jogos de campeonato), pelo menos deve render-se-lhe homenagem por, ter sido a razão de ser da sensacional recuperação do seu novo clube, ao marcar dois golos de excelente factura, a fundamentarem a reviravolta no marcador de 0-2 para 2-2. Para além da virtude da execução, o duplo êxito equacionou vigoroso impulso rumo à forte determinação que a equipa «leonina» alardeou no último quarto de hora. Morais, enfim, foi um oásis, a surgir, de súbito, no deserto que o inconsequente e esmaecido labor do Sporting estava a sugerir.

Duas partes diametralmente opostas

A primeira com sumo futebolístico, por virtude do acerto dos portuenses ao desenharem esquemas singelos, impregnados de cunho objectivo, com frequentes assomos de ameaça para Damas e companheiros. E a segunda com predomínio de paralisações e de discussões, além de aspereza em certos lances. No total, um jogo de feição competitiva, com o senão da fealdade do segundo tempo.

O crescendo dos «leões», acicatado pelo 2-1 (22 m.), fez regressar o arrastado e desagradável despique (depois da expulsão de Carlitos) a plano de interesse e de emoção, conquanto sobre o relvado, então batido por forte chuvada, transbordasse mais energia e entusiasmo do que lucidez de jogo e «temple» de execução.

O F. C. Porto marcou os seus dois golos em momentos propícios a canalizarem a equipa para a exibição capaz de ofuscar, por completo, o adversário. Depois do rompante inicial dos «leões», a durar cinco minutos a intencionalidade dos portuenses definiu-se em dose substancial para não surpreender o registo do 1-0 (18 m.), na sequência de «livre» a beneficiar o infractor. Damas ainda deu a sapatada a afastar a bola, mas Bernardo da Velha, atento ao lance, não perdoou. O F. C. Porto aproximou-se de 2-0 (Armando agiu como pronto-socorro), logo a seguir, e exceptuando um deslize de Américo, que Rolando emendou, e um «tiro» de José Carlos que fez a bola rasar a trave, chamou a si o comando das acções e a primazia nas iniciativas ofensivas, de teor persistente.

O segundo tento aconteceu no dealbar do segundo tempo (3 m.), como expressão do contra-ataque electrizante, bola de grande área para a outra grande área. Djalma assemelhou-se à lebre em louca correria…
A vantagem, tão substancial, tornou tímida a réplica do Sporting que, aos poucos, reflectia atabalhoamento e descrença, com base num individualismo decepcionante. E, concomitantemente, gerou um exagerado optimismo entre os homens do F. C. Porto ainda mais convencidos quanto a facilidades diante da expulsão de Carlitos (10 m.) por motivos invisíveis ou inaudiveis no exterior do rectângulo.

Depois foi o virar da folha para se começar a ter outra história. Morais transformou um «livre», com a bola vizinha da meia-lua (os jogadores do F. C. Porto desfazendo a barreira antes de tempo fundamentaram a repetição do castigo), no 2-1 (22 m.) e, outra vez, o brasileiro logrou o 2-2, em golpe espectacular, de vincada classe. Aliás, o lance foi belo.

Os derradeiros minutos escaldaram, quando Américo disse não a um «livre» de Morais, o brasileiro, e Hilário e Bernardo substituíram os respectivos guarda-redes, «in-extremis», sobre o risco das balizas.

O Sporting optou pelo dispositivo táctico 4-3-3, colocando Morais entre Gonçalves e Sitoe e deixando na frente, para largas deambulações, Carlitos, Manuel Duarte e Peres. O F. C. Porto respondeu também com idêntica «chave», fazendo recuar o hábil Gomes para o plano formado por Pinto e Ernesto. Na vanguarda, ficaram Bernardo, Djalma e Nóbrega.

A interpretação dos nortenhos convenceu mais do que a dos lisboetas, os quais acusaram débito no rendimento do trio ofensivo e lacunas no meio-campo, quando o cansaço se apossou do brasileiro Morais. Notou-se, aliás, carência de intimidade entre o novo recruta e os companheiros, o que não é para estranhar. Acresce ainda a solidez (e rispidez) do quarteto defensivo dos visitantes, nada propício a permitir infiltrações ou namoros da bola.

Morais vai marcar o 1º golo do Sporting.

O segundo fôlego de Morais, quando os lances se arrastavam e os forasteiros rarearam nos lances para a frente, representou a relativa reabilitação dos «leões», que poderão ser glosados com a síntese: querer é poder. Ele foi a inspiração salvadora. E, simultaneamente, o castigo da presunção dos nortenhos, que tiveram de contentar-se com um ponto quando julgavam ter dois bem agarrados na mão…

O F. C. Porto, com o senão apontado, deixou a impressão de formar um «onze» homogéneo, duro na defesa, persistente no meio campo, imaginativo e acutilante na vanguarda. O Sporting demonstrou os defeitos conhecidos, agravados quando prevalece a demasiada retenção da bola e se insiste no floreio individual.

Américo, em boa forma, e Rolando salientaram-se no compartimento atrasado, não deixando a grande distância Almeida, Atraca e Valdemar, estes dois últimos «laterais» práticos e ríspidos. Pinto, Ernesto e Gomes agiram com desenvoltura no meio-campo, tendo o primeiro actuado em posição relevante. Nos dianteiros, há a referir ainda a vivacidade e mobilidade de Djalma e a pujança física de Bernardo da Velha. Nóbrega forneceu a sensação de estar ao nível do seu melhor.

No «onze» sportinguista, Armando, Hilário (foi muitas vezes à frente, fornecer perigo) foram, a seguir ao brasileiro Morais, as unidades pendulares, surgindo, depois, Gonçalves e José Carlos.

Os jogadores não facilitaram a tarefa do árbitro, sr. Virgílio Baptista, o qual consentiu muitas discussões e gestos reveladoras de desrespeito. De parte a parte. Fora isso, a arbitragem não constituiu um trabalho infeliz, embora sportinguistas e portuenses não hajam ficado satisfeitos.

Fonte: Diário de Lisboa

Ficha do Jogo

Sporting CP: Vitor Damas; Morais, José Carlos, Armando Manhiça e Hilário; Fernando Peres, Gonçalves e José Morais; Lourenço Sitoe, Manuel Duarte e Carlitos.

Treinador: Fernando Argila

FC Porto: Américo; Valdemar, João de Almeida, Bernardo da Velha, João Atraca, José Rolando, Eduardo Gomes, Ernesto Pereira, Custódio Pinto, Francisco Nóbrega e Djalma.

Treinador: José Maria Pedroto

Golos: José Morais 67’ e 76’ (Sporting) ; Bernardo da Velha 18’ e Djalma 48’ (Porto)

Data: 12/02/1967
Local: Estádio José Alvalade
Evento: Sporting (2-2) Porto, CN - 15ª Jornada

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