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Sexta-feira, Abril 26, 2024

Neste dia… em 1965, o Sporting vence a Taça de Honra frente ao Benfica

Os leões deram um ar da sua graça: Ganharam o meio campo e o jogo

Com um vento muito forte, que terá influenciado profundamente a factura do jogo, a final da Taça de Honra entre o Benfica e o Sporting apenas teve interesse no que se referiu ao resultado, já que o lado espectacular acusou um débito apreciável.

Começaram os «leões» a favor do vento, tiveram dez minutos de superioridade, fazendo correr a bola mas não encontrando espaço para o remate (deficiência que seria muito nítida mais tarde), vendo-se depois o Benfica, em golpes rápidos, a dar a sensação de ser capaz de se esquivar de sofrer golos. Embora recuada, a turma benfiquista saía facilmente para o ataque, fazendo com singeleza o que o Sporting tentava fazer da maneira mais complicada. Assim, embora o peso do jogo caísse sobre o meio campo do Benfica, as oportunidades de golo repartiam-se pelos dois lados, porque faltava disparo pronto aos «leões», muito entretidos a fazer um futebol de dois toques antes de passar e a não aproveitar o vento com os tiros de longe que este estava a pedir.

As surtidas do Benfica, ora forjadas pela astúcia de Santana, ora pelos movimentos de Nelson e de Pedras, tinham maior acutilância, porque era maior o desembaraço destes jogadores na área de remate. Do lado «leonino», Osvaldo prendia muito a bola, Lourenço não ganhava um lance a Calado e mesmo a «asa» Peres-Oliveira Duarte fazia um jogo embrulhado, incapaz de dominar a ventania, quanto mais de saber aproveitá-la.

No último minuto da primeira parte, o Sporting deu o flanco de maneira um pouco inesperada. Um lance por alto levou a bola a cair entre Alfredo e Lino, exactamente no sítio onde Pedras estava. Este agachou-se, meteu a cabeça à bola e colocou-a no canto direito da baliza «leonina», enquanto Carvalho gatinhava em vez de mergulhar. Cada jogador «leonino» dos três a que nos referimos teve a sua parte de responsabilidade no golo, os dois primeiros por marcação solta e hesitação, o guarda-redes por falta de reflexos. Quanto a Pedras, sintetizou a habilidade que o Benfica, na circunstância, estava a exibir. Entretanto, já os «encarnados» estavam privados de Nelson, que saíra do terreno magoado devido a carga de Alfredo e que já não voltaria ao jogo.

A segunda parte teve um aspecto totalmente diferente, o Sporting apoderou-se do jogo de maneira decisiva, defrontando o vento com a arma mais aguda: um futebol rasteiro, de passes curtos e movimentação constante. Para isto concorreu a acção de Peres, a «armar» recuado, sem sentinela próxima, fazendo boas triangulações com Oliveira Duarte (este também recuado) e Osvaldo (a sair muito da ponta direita para apoiar os companheiros na toada de passe curto). Não fora a excelente cobertura de Calado na zona frontal e a lentidão evidente de Lourenço, o Sporting teria ganho a «Taça» nesta segunda parte, pois foi o único grupo capaz de dar dera de organização, perante um adversário sem velocidade e com um sentido de marcação muito primitivo, fornecendo a sensação de que a falta de uma «pedra» (Nelson) desarrumara completamente o conjunto. O Sporting empatou com um excelente remate de Ferreira Pinto, recarga oportuna e muito forte dirigida à baliza, que Melo abandonara momentaneamente.

Chegou-se ao final do tempo regulamentar com o empate a um golo, claramente imerecido para o Sporting, se levarmos em consideração a sua melhor disposição táctica, poderemos mesmo dizer a imposição do seu figurino. Mas não podemos esquecer que o Benfica soube evitar as oportunidades de remate, excepto num momento flagrante perdido por Lourenço com um tiro alto. Foi necessário fazer mais meia hora, na qual os «verde-brancos» continuaram a impor-se, primeiro contra o vento, depois a favor. A poucos minutos do final, quando a pressão «leonina» era intensa e o Benfica parecia limitar-se a esperar que o jogo acabasse sem perder, Peres concluiu com um grande remate uma jogada muito laboriosa, arrancando assim a «Taça de Honra» para quem a mereceu.

Os últimos momentos da partida foram «passeados» pelo Sporting num ar de baile despropositado, que tanto poderia dar a ideia de segurar o resultado como de amarfanhar o adversário. Ficamos na dúvida, mas não gostámos do baile, que permite sempre duas interpretações e é recurso menor.

Os jogadores que mais nos agradaram: Hilário, com a presença e a segurança habituais, embora defrontasse a «verduras de Afonso; Alfredo, bem no desarme e na entrega, embora nem sempre rápido nas dobras; Dani a dar um tom esclarecido na saído da defesa para o ataque; Ferreira Pinto, a fazer um futebol fluente, embora por vezes desnecessariamente estilizado; e Peres, pedra-chave na manobra do meio-campo, sabendo aproveitar bem o terreno livre que o Benfica lhe ofereceu e marcando o golo da vitória. Ainda no Sporting, Carvalho esteve regular, apenas pouco rápido no golo; Lino, muito batido por Guerreiro, embora melhorasse à medida que o tempo decorria; Lourenço, surpreendentemente preso de movimentos; Carlitos, alegre a jogar mas muito frágil; e Osvaldo, apenas útil no passe miúdo que a equipa soube instalar, mas refreando muito um jogo que precisava de espontaneidade.

No Benfica, Calado foi a figura, com imensos cortes, bem acompanhado por Cruz. Augusto Silva foi muitas vezes à frente, mas o seu esforço foi desordenado. Pedras apenas se viu na primeira parte, assim como Santana, enquanto Guerreiro, pelo que batalhou e correu, pode considerar-se sem favor o melhor avançado do seu grupo. Nelson estava a jogar bem quando saiu, pelo que é muito provável que o Benfica acusasse profundamente a sua falta. Os restantes, muito dispersos, misturaram coisas boas com más, sendo de assinalar a José Ferreira Pinto o seu bom toque de bola e, simultaneamente, a culpa que lhe cabe na liberdade de Peres, «pivot» de toda a movimentação verde-branca.

Arbitragem aceitável, contemporizando com certa rudeza. Jacinto e Alfredo poderiam ter sido expulsos por cargas violentas, perante um árbitro com critério mais rigoroso. Felizmente, a toada nunca se adulterou ao ponto de se ter lamentado que os referidos jogadores ficassem no terreno. E podemos dizer que no plano disciplinar não ficou qualquer nódoa das que não se possam esquecer e que não pudessem ser consideradas como consequência lógica do calor da luta. Teoricamente, o trabalho do árbitro não foi assinalado por erros de vulto, antes por pequenas falhas divididas pelos dois grupos em doses sensivelmente iguais.

Dinis Machado in Diário de Lisboa

O Sporting alinhou com: Carvalho; Mário Lino, Alfredo e Hilário; Dani; Carlitos, Osvaldo Silva, Peres e Oliveira Duarte; João Lourenço e Fernando Ferreira Pinto.

Treinador: Anselmo Fernandez.

Golos do Sporting: Ferreira Pinto e Peres.

Data: 05/09/1965
Local: Estádio do Restelo
Evento: Sporting (2-1 ap) Benfica, Final da Taça de Honra AFL

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