RUGIDO VERDE

Levantar e levantar de novo, até que os cordeiros se tornem Leões!

Quarta-feira, Abril 24, 2024

Neste dia… em 1956, o Sporting venceu o Oriental por 3-1, com bis de Vasques.

O improvisado guarda-redes do Oriental, Capelo, defende sob ameaça de Pompeu.

O pesado domínio do Sporting não demoliu a defesa do Oriental

Por VASCO ROCHA

O Sporting dominou os orientalistas, e por vezes chegou a ser acabrunhante tal domínio. Chovia. Sobre a relva escorregadia, os leões mais pesados e com melhor domínio de bola, davam a sensação de que alcançariam, com relativa facilidade, vitória expressiva. Seria uma questão de tempo. Lá para a segunda parte. Para mais, à beira do intervalo, o guarda-redes do Oriental, Edmundo, que estava por sinal, a dar muito boa conta de si, magoou-se fortemente na mão direita, tendo de abandonar o terreno. Substituiu-o, no segundo tempo, o defesa Capelo. Tudo parecia perdido para os orientalistas. O guarda-redes Edmundo foi ocupar o posto de extremo-direito. Com todo o seu peso, o Sporting persistia, inexoravelmente, no massacre. Os orientalistas limitavam-se a uma defesa extraordinariamente valente e tenaz. A sorte, por vezes. amparava-os. Mas também não deixavam, em certos momentos, de agir com tino e sem precipitações, trocando passes com o objectivo de abrir clareiras propícias à ordenação de rápidos contra-ataques. Os «leões» massacravam, mas o intervalo chegou com o empate de 0-0.

Quantos golos marcariam os sportinguistas no segundo tempo? – Sucedeu que foram os visitantes os primeiros a violar as redes dos adversários. Num contra-ataque, a defesa «leonina» a acusar muita surpresa e evidente dificuldade em recuperar, uns quantos passos, executados com toda a presença de espírito e bola para dentro da baliza, com Carlos Gomes boquiaberto. Por muita vontade que tivesse de brilhar, o «keeper» nacional não o conseguira claramente porque a bola só raras vezes chegava até ele. De maneira que sofrer assim um golo, sendo coagido a ficar boquiaberto, custa um pouco, lá isso custa.

Houve sportinguistas que sentiram confranger-se-lhes o coração. Os rapazes continuavam a dominar em cheio, mas isso parecia não chegar. Os «pequenos» de Marvila persistiam em defender-se com unhas e dentes, formando conjunto apreciável. Todos nos seus postos. Quando eram desarmados, com mais ou menos subtileza, os «leões» caíam. Alguns faziam-no com preconcebido aparato, ajudados pela relva escorregadia. Por isso parte do publico irava-se com o árbitro, por não castigar os defensores visitantes com grandes penalidades. Mas havia outros espectadores que, desolados com o rumo dos acontecimentos, olhavam para cima ou para os lados, a ensaiarem palmas de tango.

Um lapso do guarda-redes improvisado proporcionou o tento do empate aos «verde-brancos». Pouco depois, para estes, se abria finalmente a miragem do triunfo mercê de um golo precedido de claríssimo «off-side». O árbitro desta vez não foi vaiado, alguns orientalistas, timidamente, contestaram a legitimidade do tento…

O da consolidação da vitória «leonina», marcado de cabeça por Vasques, em salto espectacular, resultou de um soberbo movimento ofensivo «made in» Sporting de saudosos tempos. Galaz-Martins-Vasques. Bola dentro das redes. Tudo muito simples em engrenagem prenhe de dificuldades e de complexidade. O melhor lance do encontro!

Como é óbvio, os sportinguistas mereceram largamente o triunfo. Dominaram. Massacraram. Por vezes fizeram jogadas apreciáveis. Mas falharam demasiadamente nos momentos capitais. Um drible ensaiado á aventura, uma desmarcação errada, um passe executado sem nexo… Tornava-se difícil romper a barreira defensiva dos adversários, constituída por jogadores voluntariosos, decididos, rápidos e argutos nas antecipações. Os lapsos dos dianteiros sportinguistas, nesses momentos capitais, facilitaram a acção dos defesas do Oriental.

Os «leões» caíam em peso sobre os contendores, mas raramente ordenavam lances com a inteligência e a visão necessárias para as derrotar mais facilmente. Um domínio pesado, cheio de irreflexões, de contrariedades, de comprometedoras hesitações.

Osvaldinho, recuado, parecia divertir-se em imitar um interior-esquerdo «tipo armador de jogo», o fagueiro sonho do sr. Picabêa. Vasques, com toda a sua experiência e todo o seu virtuosismo, em vários lances fornecia a ideia de que conhecia pela primeira vez a formação dianteira. Martins isolava-se, corria e centrava. O ex-impopular Hugo, ora em magnífica forma, galgava os adversários, galgava o terreno, lutava generosamente e centrava. Os extremos centravam quase sempre em direcção às cabeças dos adversários. Osvaldinho «picava» a bola por alto, sobre as redes. Vasques andava de nariz no ar. Pompeu, o mais perigoso no remate, também. Os defesas adversários não lhes davam tréguas. Além disso, viam, como é natural, a sua tarefa muito facilitada. Os avançados «leoninos» trocavam passes, Evolucionavam no terreno, por vezes, com brilho. Mas nada de lances de imaginação, de inteligência, de classe individual a provocar o conjunto exigido pelas circunstancias, com o objectivo de atingir o alvo pelo caminho mais curto, sem necessidade de entrar a miude ao choque, de disparar à figura dos antagonistas, de falhar, em suma, nos instantes decisivos. Apenas falta de imaginação e de visão intrinsecamente ligadas aos conjuntos reais e poderosos. Um domínio pesadão, triste, monótono, deselegante, quase sempre igual, como igualzinhos eram os malogros verificados na suprema altura em que se tornavam inevitáveis os disparos às redes.

Mais um lance de perigo junto da baliza do Oriental que o «keeper» resolve nas alturas.

À defesa, tendo embora a tarefa facilitada, os orientalistas deram noção exacta de que merecem a posição de que desfrutam. Noutras circunstancias mais favoráveis, em ambiente menos impressionante e menos impressionável, já não falando do seu, os Marvilenses poderão exibir conjunto apreciável, um fio de jogo consciente, com sentido exacto dos lances ofensivos. Não contando com os defesas, os «heróis» da contenda, Rogério, Leitão, Hidalgo, Moreira e Martinho mostraram-se hábeis no domínio de bola e com a predisposição de a levar até às balizas sem complicação de maior.

Decerto porque também contribuíram em peso nos lances de ataque, os defesas sportinguistas, embora tranquilos, resolutos e experientes, não deram a sensação de rapidez sempre indispensável para desfazer, com limpidez e frescura, situações de apuro, mesmo que estas se verifiquem na zona central do terreno.

Pérides e Juca trabalharam incansavelmente no apoio firme à linha da frente e fizeram-no, por vezes, com assinalado brilho. Os avançados é que complicaram por demais a sua acção, repetindo-se com frequência, não fornecendo vida, alegria e clarividência ao conjunto e às iniciativas de natureza individual. A começar por Hugo, o jogador mais festejado, realmente em boa forma, que prodigalizava a miude generosas energias e se creditava de rasgos brilhantes, para deitar tudo a perder, mergulhando de chofre na mediocridade, ao centrar sobre as balizas, para o monte, ao Deus-dará… Nos instantes capitais do ataque, é que se observam melhor os primores de um conjunto e os rasgos de categoria. Repisemos um lugar comum: os avanços do Sporting, muitas vezes, quase sempre, tiveram princípio e meio, mas ficaram assaz distantes do fim… Não havia remate aplicado nas melhores condições de êxito, nem poderia haver!

Fonte: Jornal Diário de Lisboa

Estádio: José Alvalade. Árbitro: Abel Pires (Lisboa)

Sporting: Carlos Gomes; Caldeira, Passos (cap) e Galaz; Pérides e Juca; Hugo, Vasques, Pompeu, Osvaldinho e João Martins.

Oriental: Edmundo; Morais, Luz, Capelo, Cordeiro, Fernandes, Moreira, Leitão, Hidalgo, Rogério e Martinho

Golos: Pompeu (52′), Vasques (67′ e 75′) (Sporting) ; Moreira (51′) (Oriental)

Data: 18/11/1956
Local: Estádio José Alvalade
Evento: Sporting (3-1) Oriental, CN - 10ª Jornada

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