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Sábado, Abril 27, 2024

Neste dia… em 1951, o Sporting vence nas Salésias e mantém 7 pontos de vantagem sobre o FC Porto

Nas Salésias Sporting e Belenenses sustentaram luta emotiva

Por Manuel Mota

Belenenses e Sporting defrontavam-se nas Salésias. Casa cheia, Enchente das maiores. Dia do Belenenses.

A partida teve uma primeira parte excitante. Movimento, dinamismo, acção esforçada. Os «azuis» atacaram com ímpeto logo de entrada, deixando-nos a impressão de que se dispunham a tudo para obter um bom resultado. Ataque manobrado por Marchiaro, tão diferente do Marchiaro do Domingo anterior como o dia da noite; meia – defesa firme, vigorosa, marcando impiedosamente (sem violência, acentue-se) o par de interiores leoninos, pedras básicas do «team». E a defesa inspirada, corando jogo, antecipando-se, beneficiando, afinal, do labor de Castela e Rebelo.

O Sporting sentiu a vigilância. Não se retraiu. Mas adoptou a táctica mais conveniente. Vasques e Travassos, em corridas e desmarcações, arrastavam os adversários directos, obrigando-os a viajar com eles. Fatigando-os.

A toada de parada e resposta manteve-se inalterável. O Sporting, quiçá, mais perigoso nas suas descidas. Os Belenenses, afinal, demonstravam pouca finalidade nas suas ofensivas. Sidónio, no eixo do ataque, não acercava um remate e tinha dificuldade em iludir o jovem Leandro.

Pertenceu ao grupo de Alvalade a primeira grande oportunidade. Perdeu-a ingloriamente Jesus Correia. Não tardou o golo dos «azuis», num movimento de Narciso, facilitado por mão despropositada de Caldeira e marcação do «livre» com a bola a correr. E a partir de então os rapazes das Salésias melhoraram ainda o seu jogo e até ao intervalo superiorizaram-se ao adversário. Este, todavia, não teve sorte num lance de Albano em que a barra devolveu o esférico.

Mas a marcação cerrada de Castela e Rebelo foi uma arma de dois gumes. O primeiro quarto de hora do segundo tempo, fulgurante, com quatro golos em doze minutos, abalou os belenenses. Abalou-os de nervos, sem duvida, por causa do que se passou à volta do terceiro golo leonino. Mas aconteceu que Castela e Rebelo decaíram sensivelmente, fatigados, afinal, pela utilização de uma arma que se voltou contra eles. E os interiores do Sporting, mais livres agora, afirmando uma capacidade física mais apurada, puderam manobrar e fazer manobrar todo o «team». E à retaguarda Canário, agora que o movimento do jogo era menos vivo que na primeira parte, passou a ser muitíssimo mais útil, acompanhando melhor Juca, que só pecou por teatralizar, estilizar, demasiadamente algumas das suas acções.

O Sporting passou a ser a equipa de mais clareza de jogo, patenteando a sua organização mais firme. E o resultado veio, finalmente, a ser merecido. Por aquilo, evidentemente, que a turma de Alvalade fez depois do intervalo, mormente depois do período de maior emoção de todo o desafio. Sem que os «leões» impusessem domínio absoluto, era notória a diferença de rendimento dos dois grupos.

A máquina sportinguista funcionava sem grandes atritos, por vezes com brilho. O mesmo brilho, mas com mais eficácia, que por vezes os belenenses haviam atingido na primeira parte. Futebol mais prático (o primeiro golo dos visitantes foi uma demonstração plena do sentido prático dos «leões»), mais directo, caminhando mais para as balizas. No Belenenses houve mais rendilhado, ainda que muitas vezes, no seu melhor período, se anotassem sérias tentativas para jogo de profundidade. Mas só tentativas, isto é, era uma toada sem convicção, sem continuidade.

A partida foi sempre disputada com vigor e energia. Neste sentido os blocos defensivos, pela sua própria função, salientaram-se mais. E não sabemos qual distinguir. O do Sporting manteve-se mais certo, até porque no dos «azuis» entrou a certa altura a desorientação. Nessa mesma altura tornou-se evidente a calma, a serenidade dos «leões». Estes, mesmo no «penalty» que lhes foi aplicado – e que deixou duvidas, ainda que o árbitro fosse expontâneo e estivesse perto do movimento -, mantiveram-se tranquilos. Um pouco como consequência do reconhecimento das suas possibilidades e da posição que ocupam na tabela… Isto, acredite-se é importantíssimo.

O Belenenses, talvez pela preocupação de fazerem um bom resultado, perturbaram-se demasiadamente ao ser repetido o «penalty» que originou o golo do triunfo leonino, Não contestaram o «penalty». Contestaram, sim, a repetição. Ora, não há duvida de que Sério incorreu em falta. Os belenenses só têm a atenuante (repare-se: a atenuante) do árbitro não ter sido pronto a assinalar a repetição, talvez dominado pela rapidez do lance.

Passaram-se, então, três minutos desagradáveis. E pelo tempo adiante houve períodos de concerto de apito, por vezes, jogo. feio. Ao fim e ao cabo um jogo emocionante, de arrasar os nervos e de estafar os jogadores. A equipa que melhor resistiu ao desgaste nervoso e à fadiga foi a que venceu!

Fonte: Diário de Lisboa

Ficha do jogo:

Belenenses: José Sério; António Feliciano, Henrique Silva, Serafim Neves, Pedroto, António Castela, Rebelo, Renato Marchiaro, Narciso, Mário Rui e Sidónio Silva.

Treinador: Augusto Silva

Sporting: Azevedo; Manuel Caldeira e Leandro; Veríssimo Alves, Carlos Canário e Juca; Mário Wilson, Albano Pereira, Jesus Correia, Manuel Vasques e José Travassos.

Treinador: Randolph Galloway

Golos: Narciso 26′ e Castela 48′ gp (Belenenses) ; Travassos 46′, Vasques 52′ e Albano 69′ gp (Sporting)

Data: 18/02/1951
Local: Estádio das Salésias
Evento: Belenenses (2-3) Sporting, CN - 22ª Jornada

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