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Sexta-feira, Abril 19, 2024

Em 1948… Dia de sonho para Jesus Correia, autor dos 6 golos (!) que derrotaram o At. Madrid por 6-3 em pleno Estádio Metropolitano

O SPORTING consegue uma ampla e merecida vitória sobre o At. de Madrid. Os portugueses foram superiores não só em conjunto como em figuras.

Especial para «Stadium», de RAMON MELCON

Capitães (Manuel Marques pelo Sporting) trocam galhardetes no início do jogo.

Quando uma equipa de futebol faz um jogo de perfeito enlace entre todas as suas linhas e entre os homens de cada uma delas; quando todos os seus jogadores dão provas de possuir uma excelente preparação física e praticam um sistema de jogo de estreita marcação, além de serem mais rápidos e ágeis que os seus adversários, não é de estranhar que consigam impor-se a estes. Por isso, a ninguém que haja assistido ao encontro disputado domingo último no Estádio Metropolitano entre o proprietário do campo, Atlético de Madrid, e o Sporting Clube de Portugal, causará espanto esse resultado de 6-3 favorável aos portugueses.

E talvez lhes pareça que não reflete exactamente o que aconteceu no terreno do jogo. Certamente, se os dianteiros do Sporting tivessem atirado às redes com a mesma eficácia com que o fez Jesus Correia, autor dos seis golos lusitanos, o resultado teria sido catastrófico para os madrilenos.

E, sem embargo, posto que pareça um paradoxo, o domínio territorial pertenceu mais nos atléticos que aos sportinguistas. Os espanhóis, à base de arrancadas individuais, com os seus defesas adiantados e os médios apoiando o ataque, chegaram, especialmente no primeiro tempo, mais vezes às balizas adversárias do que os portugueses. Mas faltava ligação entre os atacantes que viam sempre um homem na sua frente disposto a estorvar-lhes o passo e a Impedir que os seus perigosos remates tivessem consequências desagradáveis.

As duas equipes jogaram – ou quiseram jogar – em WM. O Sporting atrasou os seus defesas que jogaram quase sempre perto dos postes, ao passo que o Atlético os manteve fora da área da grande penalidade, com o que se estabelecia esse já referido domínio aparente.

Aparente, dizemos, porque se é certo que era um domínio territorial, não o era porque os madrilenos fossem superiores em jogo, velocidade, fundo nem combinação, ao seu adversário. Era, simplesmente, o resultado de uma táctica imposta pelos próprios portugueses, que assim sujeitavam com maior facilidade os avançados branco-encarnados nas suas arremetidas contra as redes defendidas por Dores.

Jesus Correia marcou o primeiro golo da série de 6 e não esconde a sua satisfação.

Pelo contrário, a colocação adiantada dos defesas atléticos, era a resultante da tática que seguiam os dianteiros do campeão de Portugal. Peyroteo, em vez de situar-se muito adiantado, dentro da área inimiga, mantinha uma posição afastada da área perigosa. Assim, Tinte, defesa central, que fazia nesta partida a sua apresentação como jogador atlético, via-se obrigado a sair das proximidades das suas balizas, e daí uma completa impossibilidade de conter os rápidos ataques dos restantes atacantes verde-brancos quando Peyroteo conseguia iludir a vigilância de Tinte. E este, que não tem a rapidez nem a experiência de Aparício, cuja falta se fez sentir notavelmente no quadro atlético, não podia dar largas ao famoso avançado-centro, embora este não tenha já a velocidade do passado.

Essa zona livre que se oferecia aos atacantes portugueses, tão facilmente era ultrapassada a defesa atlética, foi o que trouxe como consequência o desastre do Atlético. Os madrilenos, com outras condições físicas, com maior rapidez de movimentos, talvez pudessem cortar o passo à força de pernas, a Peyroteo e seus companheiros de linha. Mas quase todas as «escapadas» dos «leões» terminaram em golo. E não houve mais porque, uma vez conseguidos os 6-0, os portugueses confiaram em excesso, sem contar que o Atlético, mesmo jogando mal, é sempre perigoso. E assim deram azo a que os três tentos mareados por Escudero, que foram fruto de arrancadas esporádicas e de jogo pouco ligado, viessem a atenuar em parte o terrível resultado que ameaçava os proprietários do campo.

Nem pretendemos tirar méritos ao Sporting pelo seu magnifico e merecidíssimo triunfo, mas é justo dizer que o Atlético de domingo não foi o Atlético. E não queremos referir-nos à ausência de Aparício e de Silva, duas das suas melhores figuras, mas no facto de terem jogado mal, estrategicamente mal.

Certamente que, quando um conjunto joga bem, é lógico que o outro esteja mal. E aqui se nos depara o problema do ovo e da galinha. Jogou mal o Atlético porque o Sporting não o deixou jogar melhor? Ou jogou o Sporting, assim, porque o seu inimigo lhe facilitou a tarefa? Quedamo-nos no termo médio: o Atlético deu ao Sporting toda classe de facilidades para desenvolver o seu jogo brilhantíssimo, por vezes, e terrivelmente eficaz, outras. Mas os portugueses, com a sua desconcertante velocidade e domínio de colocação, de passe e de desmarcação, como corresponde a um grupo inteligentemente preparado há alguns anos, impediram que o Atlético recompusesse as suas fileiras, e conseguisse jogo ligado e prático.

Dores, magistralmente, desvia para canto um tiro de Escudero.

Ficamos, pois, nisto. Ninguém poderá negar que de tudo houve neste encontro de tão desagradável resultado para os do Metropolitano. Há que ter em conta a soberba actuação dos sportinguistas, que conquistaram o aplauso unânime dos milhares de espectadores, na sua maioria partidários do Atlético, graças ao seu bom jogo e à sua correção, pois é de justiça, dizer que, se, algumas – poucas – jogadas perigosas e ilegais houve no encontro, quase todas ocorreram a cargo de determinados elementos do Atlético.

Já na primeira parte, conseguiu o Sporting quatro golos, obra todos eles, como os que haviam de vir depois, de Jesus Correia, velocíssimo, decidido e grande rematador. Certo que Vasques, talvez o melhor homem da equipa portuguesa, lhe serviu, magníficas bolas e o ajudou muito. Vasques foi a antítese do Vasques que jogou contra a Espanha em Chamartin há uns meses. Veio atrás, adiantou-se, passou e atirou às balizas… tudo com admirável inteligência. Também Travassos, durante a 1.º parte, a única que jogou, foi um excelente interior. Albano, magnífico nas suas fugas, velozes e de dribles, brilhou muito. Peyroteo, menos acertado, mas decidido e sempre disposto ao ataque. Lançou um «tiro» enorme que a trave devolveu. Esta jogado, e a de Vasques, que deu lugar ao 6.º golo, foram as melhores do encontro.

Na linha médio, Canário, excelente, inteligente e dominador. Veríssimo foi tenaz e batalhador, Juvenal, esteve bem. Manuel Marques completíssimo; com a sua experiência e anteconhecimento dirigia às maravilhas o trabalho defensivo. Passos e Moreira, um em cada tempo, secundaram-no bem, sem chegar à sua altura. Martins, que jogou no 2.º tempo, de ponta-esquerda, não destoou. Enquanto ao guarda-redes, Dores, esteve bem, e não teve culpa em nenhum dos três golos que lhe marcaram.

RM.

A valorosa equipa do Sporting que jogou na segunda parte. No 1.º plano: Jesus Correia, Vasques, Peyroteo, Albano e Martins. No 2º plano: Canário, Manuel Marques, Veríssimo, Juvenal e Dores.
A equipa do At. Madrid que perdeu por 6-3 contra o Sporting. No 1.º plano: Juncosa, Valdivieso, Escudero, Farias e Basabe. No 2.º plano: Vidal, Mencia, Torres, Domingo, Tinte e Riera.

Data: 05/09/1948
Local: Estádio Metropolitano em Madrid
Evento: Atlético de Madrid (3-6) Sporting

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