RUGIDO VERDE

Levantar e levantar de novo, até que os cordeiros se tornem Leões!

Sexta-feira, Abril 26, 2024

Neste dia… em 1947, Sporting – 4 x At. Bilbao – 4, na inauguração do remodelado Stadium de Lisboa

Peyroteo marca o 4º golo dos leões.

O jogo de inauguração do remodelado Stadium de Lisboa, doravante Estádio José Alvalade, foi recheado de incidentes.

Na estreia do relvado, depois de estar a ganhar por 4-0, o Sporting deixou-se empatar, com 4 golos adversários em 15 minutos.
Perto do final (minuto 78’) e com o marcador em 4-4, um choque violento entre Bertol e Jesus Correia leva o árbitro a apitar grande penalidade contra o Atlético. Os jogadores espanhóis protestam e ameaçam abandonar o campo, havendo agressões entre as duas equipas.
Peyroteo marca a grande penalidade, que é defendida por Molinuevo seguindo-se mais agressões que foram sanadas.

Nos últimos 5 minutos de jogo o Sporting ainda fez um último forcing, mas o Atlético defendeu-se como podia e segurou o empate.

Sob a arbitragem de Canuto Gonzalez as equipas alinharam:

Sporting: Azevedo; Juvenal, Manecas e Veríssimo; Octávio Barrosa e Canário; Jesus Correia, Vasques, Peyroteo, Travassos e Albano.

Treinador: Cândido de Oliveira e Robert Kelly

Atlético Bilbao: Lezama; Fernandez, Oceja e Celava; Bertol e Nando; Iriondo, Panizo, Zarra, lraragorri e Bilbao.

Jogaram na segunda parte: Molnuevo, Aldecoa e Barrenechea nos lugares de Lezama, Oceja e Iraragorri.

Treinador: Urquizu

Atlético de Bilbao.

Golos: Peyroteo (11 e 53′), Jesus Correia (15) e Albano (31) (Sporting); Iriondo (61′), Panizo (68′) e Zarra (69 e 75′) (Bilbao)

“Depois da casa roubada, trancas na porta! Porque, no fim do encontro da inauguração oficial do Estádio Alvalade não havia uma opinião em contrário, e, claro está, do intervalo para o final, havia-se dado uma brusca reviravolta. Todos afirmavam que, se o Sporting tivesse posto mais cuidado na marcação, as coisas ter-se-iam passado de outra forma. Oh! Se teriam…

As três bolas da primeira parte fizeram mal aos sportinguistas. A facilidade iludiu os homens verde-brancos. Se o caminho não fosse desbravado com tamanha facilidade, os leões acabariam talvez por vencer, não empatando um jogo que tinham ganho…

A ideia, no intervalo, era de que os espanhóis não jogavam mesmo nada! e de que o jogo português de marcação, que muitos consideram uma espécie de varinha mágica!, dominava em absoluto o futebol viscainho, aparentemente sem ligação; pelo menos, sem a ligação a que estamos acostumados.

Ora, não basta ter um sistema, ou uma tática até porque o adversário também aplica uma combinação em campo, quando não há um método perfeito. Certamente, quando o quadro leonino, no seu conjunto, se moveu com harmonia, aplicando praticamente a lição teórica, o adversário diminuiu-se e deu até à sensação de desaparecer, de que não estava ali… Os vascos pareciam ter ficado em Bilbao… Mas, diga-se, mais do que o sistema, o que levou tudo de vencida foi a velocidade, o poder de antecipação e a precisão da passagem do futebol português.

E não nos venham, de momento, com sistemas. O Sporting da segunda parte era o mesmo da primeira, e não parecia… Faltou-lhe, na ponta final, exactamente, a rapidez e o poder de antecipação; em duas palavras: fôlego e energia.

No fundo, tudo quanto se passou faz parte do jogo da bola, que é bizarro, por vezes, e se compraz em virar o bico a prego.
Pela parte que nos toca, admirámos a equipa de Bilbao; ela tinha em seus ombros uma pesada tarefa. Competia-lhe defender um prestígio que anda abalado. Que diriam em Espanha se não se dá a recuperação!

O treinador introduziu, na segunda parte as alterações que se impunham, tirando um velho da linha de ataque e pondo um novo, e reformando na defesa o suficiente para lhe dar maior consistência. (O desastre de Lezama foi providencial!) O olho de lince de Urquizu soube preparar a reviravolta. É que jogar em terra estranha, suportando o hálito patriótico, é sempre difícil. E os viscainhos foram valentes e foram jogadores.

Foi pena que tivessem lançado mão de expedientes grosseiros, como a tentativa de abandono do campo: Tanto mais sendo a arbitragem quase modelar. Mas da parte de cá também se registaram atitudes condenáveis, devendo lamentar-se que um jogador da estirpe do interior-esquerdo pise o risco daquela maneira. O jogo feio não pode encontrar justificação na mesma prática por parte do adversário.

O Sporting tinha o pássaro na mão e deixou-o voar. Talvez que o adversário, com mais fôlego, o obrigasse a abrir a mão… Mas a lenda que envolve o Atlético de Bilbao, até conhecida do criado de café, não é uma quimera. Antes fosse!”

Tavares da Silva no Diário de Lisboa

Data: 14/09/1947
Local: Estádio do Lumiar/Estádio José Alvalade
Evento: Sporting (4-4) Atlético Bilbao

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