Neste dia… em 1946 – Poker de Peyroteo na goleada ao S.L. Elvas por 5-1.
O novo sistema ofensivo do Sporting impôs-se na segunda parte contra o Elvas, que perdeu por 5-1
Por RODRIGUES TELES
Jogaram os elvenses muito bem durante os primeiros 20 minutos do desafio. Enquanto vencedores, pelo menos. Depois do Sporting empatar, o que veio a conseguir relativamente tarde, desuniu-se o bloco defensivo visitante e toda a «equipe» chegou ao intervalo em dificuldade, embora a perder apenas por 2-1. Faltou-lhe fundo de «equipe» para resistir.
Enquanto o S. L. Elvas se manteve ao ataque, pôde ver-se que o padrão de jogo desenvolvido ontem pelo Sporting não funcionava por certo de acordo com o esquema que lhe foi apontado. Mais tarde, porém, e principalmente a partir dos primeiros 15 minutos da segunda parte, já as coisas corriam de outro modo.
O Sporting jogou contra o Elvas com o seu avançado Peyroteo completamente inclinado sobre o lado esquerdo, desempenhando Roque o papel de avançado volante e transportador do jogo da linha média para a frente. O sistema conseguiu estrangular o dispositivo da defesa adversária, dado que Peyroteo, mais bem adaptado à nova toada, conseguiu infiltrar-se facilmente, rompendo sem adversários à ilharga e marcando 4 das 5 bolas da sua «equipe». Veremos, em jogos de mais responsabilidade, contra defesas mais ágeis, como se fará a «marcação». Veremos, também, se Roque é capaz de exercer, com a mesma «velocidade» desta tarde, o papel que lhe foi distribuído.
À primeira vista, o Sporting contou 4 avançados e 4 médios. Peyroteo – avançado centro ou interior esquerdo, via-se muitas vezes substituído, ora por Sidónio ora pelo assomadiço Roque, que a evitar contra-ataques elvenses demonstrou ter aprendido a lição.
O conjunto do S. L. e Elvas, no segundo período, teve por isso dificuldade em sair da defesa para o ataque. E porque chegavam quantos avançados o Sporting tinha na luta, o poder dos intermediários veio a revelar a necessária solidez e a «valer» quando a sua defesa atravessou alguns momentos de perigo.
É cedo para formar uma opinião segura. Mas há qualquer coisa de novo na toada sportinguista, naturalmente inspirada por Cândido, e de futuro se julgará da sua eficácia – principalmente quando aparecem defesas duros e bons.
Presta-se também a actuação dos elvenses a outros comentários. O «team» agradou, como já se disse, durante certo período da primeira parte e sempre que se deu ao jogo sem provocar atritos. O seu ataque, ligeiro, a despeito de lhe faltar Patalino, caminhou bem para as balizas de Azevedo até o Sporting sair de vencido para vencedor, mas no segundo tempo perturbaram-se alguns dos seus elementos variadíssimas vezes. A defesa principalmente. Veio para fora do campo um dos jogadores da «equipe», e esta decisão do arbitro serviu para acalmar um pouco os nervos de lado a lado.
Foi principalmente quando os jogadores enveredaram pela dureza que se partiu o bom fio técnico da partida. Vários factores contribuíram para isso e nem sempre pertenceram culpas aos visitantes, embora se denunciasse mais claramente as suas «respostas» ou as suas «iniciativas».
Também vai fazendo carreira a arte de simular. Há jogadores que se queixam por tudo e por nada, mesmo quando a culpa lhes cabe inteirinha. O publico deixa-se conduzir muitas vezes pela exuberância dos gestos que vê, e do facto resultam excessos de lamentar e de reprimir, para bem dum jogo que se chama futebol.
Fonte: Diário de Lisboa
Estádio do Lumiar
Árbitro: Libertino Rodrigues
Sporting: Azevedo; Álvaro Cardoso e Octávio Barrosa; Juvenal, Veríssimo e Manecas; Fernando Peyroteo, Roque, Sidónio, Jesus Correia e Albano.
Treinador: Cândido de Oliveira
SL Elvas: Semedo; Pauz e Rana; Ameixa Fernandes e Alcobia; Rebelo, Carlos Aleixo, Massano, Quim e Alberto José Morais.
Treinador: Joaquim Alcobia
Golos: Peyroteo 30′, 37′, 76′ e 79′ e Sidónio 81′ (Sporting) ; Quim 6′ (SL Elvas)
Data: 19/05/1946
Local: Estádio do Lumiar, Lisboa
Evento: Sporting (5-1) SL Elvas, CN - 21ª Jornada
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