RUGIDO VERDE

O «Torneio dos Quatro Melhores» quasi não merece essa honrosa designação, pois a impressão dada ontem, no estádio do Lumiar, teve qualquer coisa de doloroso. É de pôr as mãos na cabeça: se os melhores jogam assim – que conceito se deve fazer do futebol português? Como não desculpar os piores? Certo, há atenuantes. Principio de época; destreino; tudo isso. Em todo o caso era de exigir muito mais. Este torneio não conquista um só adepto – afasta muitos!

As três conclusões principais da 1.º jornada são as seguintes: a forma do Sporting; a evidência da pouca inteligência de jogo por parte de quasi todos os praticantes; a tendência para a incorrecção e brutalidade.

O Sporting foi, indiscutivelmente, o que forneceu melhor expressão, individual e em conjunto. Individual, como resultado de treino metódico, a tempo e horas. Em conjunto, pela harmonia revelada. O «team» mostrou coesão e disciplina, e por não jogar ao acaso, distinguiu-se dos outros. Porque, no geral, houve muita bola perdida, à deriva. O jogador português deixa-se influenciar não sei porque factores, pois apesar das indicações dos treinadores e da critica, teima em servir-se exclusivamente dos pés, não julgando as situações, não raciocinando, não vendo as abertas. A sua actuação impressiona, pela falta de inteligência. Há por vezes a impressão de que os homens andam em campo, a saltar e a correr, como doidos, sem terem a noção do que lhes compete fazer.

Outra coisa incompreensível consiste na tendência para a brutalidade. Ontem, pela pratica de actos violentos, foi expulso do terreno um homem. Mas houve outras cenas muito desagradáveis, discussões constantes entre os jogadores, e até outras coisas, reclamações pôr gestos e palavras desabridas aos árbitros, e empurrões, o caminho mais próximo para o desrespeito absoluto. Que indícios!

O Belenenses regressou ao sistema clássico. Isso, a experiência de dois «novos», um deles, o interior, jeitoso, e desorientação do guarda-redes, contribuíram para a fraqueza da exibição.

Tavares da Silva in Diário de Lisboa

Ficha do jogo:
Estádio: Lumiar
Árbitro: António Serrano.

Sporting: Azevedo; Octávio Barrosa (Frazão) e Álvaro Cardoso; Paciência, Gregório e Manecas; Armando Ferreira, Peyroteo, Canário, Pireza e João Cruz.
Treinador: Joseph Szabo

Belenenses: Salvador; Simões e Feliciano; Amaro, Varela Marques e Gomes; Franklin, Quaresma, Martins (Gilberto), José Pedro (Eloi) e Rafael.
Treinador: Augusto Silva

Golos: Peyroteo (27, 37 e 61′), Canário (71′) e Pireza (51 e 76′) (Sporting) ; Rafael (72′) e Varela Marques (84′) (Belenenses)