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Quinta-feira, Março 28, 2024

Lúcio (Sporting). Este é que foi o primeiro luso-brasileiro na selecção


Há precisamente 50 anos, Portugal convocou o defesa-central nascido em Belo Horizonte que marcou 35 golos em 103 jogos pelo Sporting

Portugal descobriu o Brasil em Abril de 1500, mas o Brasil só chegou a Portugal 460 anos depois. Muito antes de Celso (1976), Deco (2003), Pepe (2007) e Liedson (2009). Mais precisamente a 16 de Abril de 1960, quando Lúcio, nascido em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, foi convocado para a selecção nacional. Assim se abriu o precedente de que também fez parte David Julius, um sul-africano de Joanesburgo posteriormente conhecido como David Júlio.

Os dois jogavam no Sporting e foram chamados pela dupla José Maria Antunes (seleccionador) e Bela Guttmann (treinador de campo), numa altura em que o cargo do primeiro era mais pomposo que o segundo, embora este é que desse o treino e a táctica, além de falar aos jornalistas, como realmente aconteceu antes e depois deste jogo histórico na então RFA, em que a selecção jogou com nove portugueses, um brasileiro e um sul-africano.

De pais portugueses, Lúcio era brasileiro (mineiro) de nascimento e veio para Portugal muito cedo. Tinha dupla nacionalidade, o que lhe permitiu jogar pela selecção nacional, embora naquele tempo ainda não houvesse problema em jogar por duas ou mesmo três selecções (Di Stéfano, por exemplo, foi internacional por Argentina, Colômbia e Espanha.) No dia 16 de Abril de 1960, há 50 anos portanto, Lúcio recebeu a convocatória. Com a alegria que as declarações documentam: “Nem me pergunte se isso me dá prazer. Estou feliz e honrado, mas sei que não sou o único. Lá longe, numa casinha em Niterói [arredores do Rio de Janeiro] onde deixei parte do meu coração, um homem e uma mulher devem ter chorado de alegria e de orgulho quando souberam que o filho tinha sido chamado para defender as cores de Portugal. Nasci no Brasil, sim, mas sou português de direito e de sangue. Sabe, é que eu não sou estrangeiro, não”, exprimiu-se Lúcio num português abrasileirado perfeito.

Naquela altura, Lúcio era um dos destaques do Sporting. Porque era baixo e mesmo assim ganhava bolas de cabeça a José Águas, o temível capitão/goleador do Benfica. E porque marcava golos como um avançado. Na sua época de estreia, que coincidiu com a primeira internacionalização na selecção nacional, Lúcio marcou nada mais, nada menos que dez golos (sete no campeonato e três na Taça de Portugal), sete deles de grande penalidade. Aliás, este lance era a sua especialidade, de tão infalível que era (ao que parece, era uma espécie de fura-redes: bola para o meio e fé em Deus). Ao todo, entre 1959 e 1964, Lúcio somou a impressionante marca de 35 golos em 105 partidas.

No tal jogo particular com a RFA, em Ludwigshafen (onde Portugal chegou de autocarro via Frankfurt, depois de voar Lisboa-Paris e Paris-Frankfurt, a bordo da TAP), o húngaro Bela Guttmann – convidado pela Federação Portuguesa de Futebol a desempenhar a tal função de treinador de campo depois de se ter sagrado campeão nacional pelo FC Porto em 1958-59 – alinhou com Acúrsio (FC Porto) na baliza, Virgílio (FC Porto, capitão), Lúcio (Sporting) e Ângelo (Benfica) na defesa, Fernando Mendes e David Júlio (ambos Sporting) no meio-campo, Matateu (Belenenses), José Augusto, José Águas, Coluna e Cavém (todos do Benfica).

Portugal perdeu 2-1 perante 70 mil espectadores (número recorde para alemães e portugueses), com golos de Uwe Seeler (vice-campeão mundial de selecções em 1966) aos 34′, Helmut Rahn (campeão mundial de selecções em 1954) aos 62′ e Cavém (bicampeão europeu de clubes em 1961 e 1962) aos 70′.

Lúcio jogou os 90 minutos e não se ficou por aí. Ainda fez mais quatro jogos pela selecção, o último deles curiosamente no Brasil (vitória canarinha por 2-1), em Maio de 1962.

Fonte: Jornal i

Data: 19/04/2010
Local: Jornal i

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