RUGIDO VERDE

Levantar e levantar de novo, até que os cordeiros se tornem Leões!

Sexta-feira, Dezembro 05, 2025

Entrevista a Keita: «Em Portugal o calor ajuda muito, pois parece-se com o de África»

Os ídolos na intimidade

Keita tem feito imensa falta na equipa do Sporting. O futebolista que tanto no Saint-Ettiene, como no Valência, foi sempre figura principal, também na sua actual equipa, é afinal o elemento «chave». Keita e a esposa, como africanos que são, adoram os dias de sol, e como tal, numa tarde, a fazer lembrar o «Abril em Portugal», passeamos pelos jardins do Estoril com a família Keita e conversámos.

– Você está realmente curado da lesão no joelho?
– Sim! Agora sinto que estou em condições de dar o melhor rendimento possível. Claro que isto de lesões, não vêm e voltam quando queremos, mas aparecem quando menos se espera e desaparecem quando têm mesmo que desaparecer. Creia que tenho sofrido imenso, com esta ausência dos campos de futebol, com a necessidade que sinto de estar lá dentro com os meus companheiros a procurarmos dar nova volta à tabela da classificação.

– Isso é fácil?
– Não, não é fácil. Mas o futebol é mesmo assim. Todas as equipas de futebol do mundo, conhecem momentos bons e momentos menos bons. Ora o Sporting que já passou pelo momento muito bom, está agora a passar o tal momento mau. Mas eu tenho a esperança que o período bom vai voltar, porque a minha experiência de tantos anos de futebol, diz-me que há sempre três períodos, durante uma época. E como já passamos por dois, agora vamos certamente entrar de novo no bom.

É opinião geral que a baixa da equipa se deve à sua falta!
– Por favor não digam isso! Eu sou apenas um futebolista que faz parte da equipa e nunca, um plantel como o Sporting, ou de qualquer outra equipa do mundo, pode fracassar por causa de um jogador. Tem havido é muitas lesões e precisamente no mesmo sector, como foram as do Manuel Fernandes, o Manoel e eu. Isso é que tem sido a grande causa do mau momento, muito embora, num ou noutro jogo, a má sorte também tenha estado com a equipa como foi o caso do Leixões e do Portimonense. Mas por favor, não digam que é pela minha falta que o conjunto não tem ganho jogos, e perdeu seis pontos de vantagem. Infelizmente, repito, houve muitas lesões, mas o que aconteceu foi apenas pura coincidência.

– Então se faltasse só um dos avançados por lesão, as coisas corriam melhor?
– «Bueno!» Não garanto, mas tenho que partir do princípio que sim. Agora com três baixas seguidas, tudo era francamente difícil! Veja que tanto o Manuel Fernandes como o Manoel, mesmo actuando, não o faziam a cem por cento.

– O Keita, termina no fim do campeonato o seu compromisso com o Sporting. Renova ou muda de clube?
– Em Julho termina o meu contrato com o Sporting e depois vamos ver!

– Mas não pensa continuar em Portugal?
– Depois veremos!

Diz-se que você tenciona regressar ao Mali!
– Sim! Mas para já eu sou futebolista do Sporting e não disse quando ia para o meu país. De qualquer maneira, quando for deixo o futebol. Mas não deve se antes de um dois anos!

– Quando for para o Mali deixa portanto o futebol!
– Sim. Mas enquanto estiver na Europa, jogarei futebol.

– Então temos que o Keita vai deixar muito cedo o futebol!
– Não será muito cedo, pois tenho trinta anos e já jogo há muitos. Aos trinta e dois anos será altura para viver no meu país, com a família e sem mais problemas de fins de semana e estágios e estar muitos dias longe da mulher e das filhas.

– Tem alguns empreendimentos no Mali?
– Não tenho, mas vou efectivamente tratar de me meter em negócios, abrindo algumas empresas. Mas ainda é cedo. Tenho que descansar, viver algum tempo só para a família, pois com o futebol a família sacrifica-se muito.

O BENFICA TEM ACIMA DE TUDO MUITA JUVENTUDE, MAS APENAS GOSTEI DE VER O CONJUNTO FRENTE AO SPORTING QUANDO GANHARAM NA LUZ!

Agora, O Sporting terá que contar só com a sua equipa para poder subir ao primeiro lugar, já que o Benfica tem vantagem. Que pensa do valor da equipa do Benfica?
– É verdade que temos que contar só com as nossas possibilidades. O Benfica é uma boa equipa, que tem muitos jovens, que são muito lutadores, e porque estão atravessando um momento alto, não é fácil saírem do lugar que nós ocupámos durante tanto tempo.

– Vê possibilidades de subir ao primeiro lugar de novo?
– Para ser sincero, agora vai ser muito difícil. Bem vê que já nada depende de nós, mas sim das outras equipas. Nós já não voltamos a jogar com o Benfica e a verdade é que se eles ainda podem perder pontos nós também certamente que os vamos perder, como afinal acontece com as restantes equipas. Haverá entre nós e o Benfica, uma corrida paralela, portanto, é difícil o encontro.

– Mas tudo se vai tentar?
– Certamente que sim. Até ao fim da temporada tudo pode acontecer, muito embora como já disse seja difícil acontecer O melhor para o Sporting. – Temos outra equipa que esteve muito mal e agora está jogando muito bem, ganhando os jogos e marcando muitos golos que é o Porto. O Sporting relativamente ao Porto, tem agora quatro pontos de vantagem.

Que me diz em relação à equipa portista?
– Precisamente aquilo que lhe disse de princípio. O Porto ao contrário do Sporting começou, tal como o Benfica muito mal, e agora encontraram-se e estão fazendo bons resultados. É o que acontece em todas as equipas.

Claro que o Sporting acabou por ter azar, pois baixou quando os outros subiram!
– É verdade. Mas tínhamos seis pontos de vantagem, que podiam servir para aguentar o mau momento. Mas a verdade é que os pontos se perderam. Mas que diabo isto não vai estar sempre assim.

Com o seu regresso tudo vai melhorar?
– Não! Não será pelo meu regresso. Será porque possivelmente não vamos ter mais lesões e como tal, podemos novamente apresentar o plantel normal.

EM FRANÇA O MEU MAIOR INIMIGO ERA O CLIMA, MUITO FRIO. EM ESPANHA E PORTUGAL O CALOR AJUDA MUITO POIS PARECE-SE COM O DE ÁFRICA!

Dos países onde tem vivido como profissional de futebol, ou seja França, Espanha e agora Portugal, qual o preferido?
– Sinceramente que em França, onde se fala o mesmo idioma que no Mali eu apenas tinha como inimigo o frio. Eu vivi em França muitos anos, mas a verdade é que nunca me habituei à vida francesa, precisamente por causa do clima. A minha carreira de futebolista no Saint-Ettiene, foi muito boa. Mas apenas no que se refere à vida profissional. O resto, devido ao frio, como disse foi muito mau. Em Espanha, em Valência, pois tudo era diferente, pois tal como aqui em Portugal, há muito sol e eu e minha família gostamos muito dos dias bonitos com calor. Eu não digo isto por estar agora em Portugal, mas a verdade é que eu em Saint-Ettiene, era um homem triste. Faço notar que toda a gente foi maravilhosa para comigo e minha mulher, mas a verdade é que com tanto frio, eu era um homem triste. Aqui sim! Tudo me ajuda. Até este clima tão parecido com o de África.

– O Keita, disse que só voltava ao Mali dentro de um ou dois anos. Se não renovar com o Sporting, pensa jogar noutro clube europeu, enquanto estiver na Europa?
– Talvez!

– Mas no Sporting?
– Não sei!

– Mas há outros clubes de outros países interessados nos seus serviços?
– Talvez! Pode ser que sim!

– E você pensa mudar?
– Não! Sou profissional do Sporting e como tal, só devo responder e falar com o Sporting!

– Há tempos você foi visitado em Alvalade por uns emissários franceses. Tratava-se de futebol?
– Francamente que não me lembro. Mas não! Podem ter estado amigos meus, franceses em Alvalade, mas francamente que nenhum emissário do futebol francês falou comigo. Se houvesse, a minha obrigação era apresentar o assunto ao Sporting. Mas não. Não houve absolutamente nada. Sempre que haja alguma coisa eu contacto imediatamente o Presidente do meu clube. Isso para mim, como profissional não é problema, pois em qualquer altura pode aparecer um clube interessado nos meus serviços e que também pode interessar ao Sporting. Mas digo-lhe com a máxima franqueza que não há neste momento, qualquer outro clube a quem eu tenha dado qualquer resposta.

Insisto na pergunta: Vai revalidar?
– É possível, porque não? Mas depende de muitas coisas, que certamente terão que ser discutidas pelas duas partes, como deve compreender.

PORTUGAL ATÉ OUTUBRO E CONSIDERANDO A JUVENTUDE QUE HÁ NO SEU FUTEBOL PODE IR GANHAR AOS POLACOS MESMO NA POLÓNIA!

– Você é um homem do futebol. Já conhece O futebol português. Que me diz sobre as possibilidades de Portugal chegar à Argentina?
– Sabe, em futebol, sobretudo no apuramento para o campeonato do mundo, há a considerar o factor tempo. São dois anos a jogar com grandes intervalos e muita coisa pode acontecer. Portugal perdeu frente à Polónia, no Porto, e venceu a Dinamarca e o Chipre. Só em Outubro, portanto daqui a sete meses, Portugal jogará na Polónia e depois na Dinamarca. Ora neste espaço de tempo Portugal tem juventude que pode muito bem, ir à Polónia vencer os polacos, e também vencer na Dinamarca. Quando Portugal jogou com a Polónia estava em princípio de época, os jogadores não estavam rodados, faltava a rotina do futebol de competição que é afinal o melhor para arranjar forma e força, e por isso os polacos ganharam no Porto porque já vinham com força e rotina de jogo. Portugal, tem muitas possibilidades de se classificar pois como disse tem muitos jovens que são bons jogadores. Podem crer que não é por eu estar em Portugal que falo desta maneira. Digo-o pelo que vi e pelo que sei do futebol dos países que jogam na série de Portugal. O vosso país, tem muitas possibilidades de estar na Argentina. Com jovens como o Chalana, que é um excelente jogador, e o Manuel Fernandes, pois com vinte e quatro anos é também um jovem, com o Nené, Inácio, José Luis, Pietra, Cavungi, Oliveira, Gomes, e muitos outros há muitas possibilidades para Portugal ganhar os jogos que faltam. Quanto ao Chalana, ainda lhe digo que mais uma época e será um fora de série no futebol. Mas há mais jovens bons, como o José Luis e outros.

– O Sporting não tem tantos jovens como o Benfica!
– Mas tem jogadores que não são «velhos», como o Laranjeira, o Fraguito, o Baltazar, mesmo o Conhé, o José Mendes. Claro que não têm a juventude dos do Benfica, mas têm muito futebol, e são excelentes executantes. Ora estes que citei, com os jovens mencionados, e ainda jogadores do Porto, como Octávio, Taí e outros, de outros clubes, garantem um grupo muito bom de jogadores para o futebol português estar na Argentina. Vamos ver, pois também a sorte é precisa.

TODOS OS JOGOS SÃO MUITO DIFÍCEIS E NÃO SERÁ SÓ O BOAVISTA E O PORTO! O LEIXÕES FOI UM EXEMPLO!

– Serão o Boavista e o Porto, as equipas mais difíceis para o Sporting?
– Não! Todas as equipas, tanto em Alvalade, como em sua casa, são muito difíceis. O Leixões, foi um exemplo. Esta fase do campeonato é sempre a mais dura. Para os que querem o título, é difícil, porque têm que defrontar os que não querem sair da divisão principal. Ora isto é um problema que não permite que se pensem em jogos fáceis. Veja que o Sporting perdeu pontos, em Portimão e em Alvalade, com duas equipas que estão no fundo da tabela. Isto é apenas um exemplo. Em Alvalade, o Sporting teve muitas dificuldades para ganhar ao Guimarães, outro exemplo. Portanto não é só o Boavista e o Porto, mas todos os adversários, por cada jornada. Por isso temos que estar preparados para ter muitas dificuldades e claro esperar também que o Porto não se aproxime mais e o Benfica pelo menos não fuja mais.

– A equipa fisicamente está bem?
– Temos que estar bem. Temos que arranjar as melhores condições físicas para fazer esta parte da corrida para o título, pois não podemos estar à espera que os outros percam. O Sporting é que tem que ganhar. E eu estou esperançado que as lesões acabaram e vamos todos juntos procurar fazer sempre o melhor, para O campeonato durar até ao fim!

É a primeira vez que o Keita é treinado por um técnico inglês?
– Sim! Tive treinadores, franceses, argentino, paraguaio, jugoslavo e espanhol. Treinador inglês é realmente Jimmy Hagan o primeiro.

Qual a sua opinião sobre os métodos de Jimmy Hagan?
– Não notei nenhuma diferença entre o sistema de treinos de Jimmy Hagan e dos muitos outros com que tenho trabalhado, tanto em Espanha como em França. Eu estou absolutamente de acordo com a maneira de trabalhar do meu actual treinador, pois que eu saiba não há melhor para que um futebolista profissional renda o máximo dentro do campo. Quero mesmo dizer que Jimmy Hagan, nada tem que ver com o mau momento que a equipa está vivendo, pois ele não arranja nem cura as lesões e não pode fazer milagres, quando as lesões aparecem.

– Enquanto esteve em França e Espanha teve algumas lesões no joelho?
– Em França não, mas em Valência tive. Aliás, tive que ser operado ao músculo rotor e estive inactivo oito meses. Eu estava lesionado, mas havia necessidade de eu jogar e andava a jogar a quarenta ou cinquenta por cento, mas mesmo assim tinha que jogar. Claro que depois foi pior e acabei por ser operado e como disse estar inactivo oito meses. Foi a única maneira de me curar de vez. O que se passou agora com o joelho, onde nunca tinha tido qualquer lesão, foi apenas pouca sorte. Eu senti num treino, quando um companheiro caiu encima do joelho uma pequena dor. Depois veio o jogo frente ao Belenenses em que eu não devia jogar, pois não estava totalmente recuperado da pequena lesão no joelho e tive tanto azar que um jogador do Belenenses, também me caiu precisamente em cima do joelho e então agravou-se a lesão. Foi altura para eu mesmo verificar que o melhor era parar porque entrar em campo lesionado para não poder render o meu melhor, e agravar a lesão seria sempre e cada vez pior. Por isso parei e me tratei com todos os cuidados e agora já me sinto melhor. Não há nada a apontar a Jimmy Hagan, pois quando eu disse que realmente não podia ele não forçou a minha presença e aceitou que o melhor era eu parar. Eu, repito, estou muito satisfeito por trabalhar com o Jimmy Hagan que é um excelente treinador.

– Agora o joelho está mesmo bom?
– Sim. Não sinto qualquer dor e já chuto e faço força na perna e estou de novo em condições de dar todo o meu rendimento à equipa. Espero é que não surjam mais lesões em outros jogadores e em mim claro.

EU EM FRANÇA JOGAVA DOMINGO APÓS DOMINGO EM CAMPOS COM NEVE. EU NÃO GOSTO DE JOGAR EM CAMPOS COM ÁGUA, O QUE É DIFERENTE DE CAMPOS PESADOS!

Diz-se que você não gosta de jogar em campos molhados, com muita lama!
– Isso dá-me vontade de rir! Durante seis anos em Saint-Ettiene, onde há neve de Novembro a Março e a neve também está nos campos de futebol. Ora a neve deixa os campos, molhados, pesados, e eu gosto imenso de jogar com os campos assim. Do que eu, e penso que qualquer jogador com as minhas características não gosta é de jogar em charcos de água. Pois é evidente que o futebol em terrenos, pesados é mais viril, a bola corre menos, e eu gosto de jogar assim. Mas não se confunda relvados pesados, com terrenos cheios de água, onde a bola não corre e onde os jogadores não se podem mexer. Pergunto mesmo: Que profissional de futebol! gosta de jogar dentro de água? O futebol é um desporto de inverno e portanto um futebolista sabe que joga debaixo de chuva mas isso não importa. As poças de água é que estragam o espectáculo. Para jogar com água então vamos para uma piscina!

– Quando regressar ao Mali, pensa voltar um dia a Portugal para férias?
– Creio que sim. Será mesmo o pais na Europa que eu vou escolher sempre para as minhas férias pois adoro aqui o Estoril e o Algarve. Gosto muito de estar em Portugal e para fazer férias é uma maravilha, com este sol e boas praias.

– Quando não está jogando que costuma fazer?
– Estou sempre com a minha mulher e as minhas filhas. Gosto muito de passear com elas, pois só para elas vivo. Todo o tempo livre, que é pouco é para compensar os momentos que são muitos, dedicado ao futebol, para estar sempre com a mulher e as filhas. É agora aqui, como era em França, onde nasceu a Raki e em Valência onde nasceu a Séré. Não fumo, não bebo, nunca perdi uma noite. Não saio sozinho a não ser para a minha vida profissional. Adoro a minha mulher e as minhas filhas e logo que o futebol termine viverei só para a família.

O MEU MARIDO É UM HOMEM VERDADEIRAMENTE EXCEPCIONAL. NÃO CREIO QUE HAJA OUTRO HOMEM QUE GOSTE MAIS DA MULHER E DAS FILHAS!

Extremamente simpática, a linda esposa do futebolista Keita. Com ela trocámos também algumas impressões, acerca da vida do famoso futebolista.

– Gosta que o seu marido jogue futebol?
– Sim! Sempre o conheci como jogador de futebol e como tal, gosto que ele jogue, muito embora compreenda que é uma vida de muito sacrifício para mim.

– Quando conheceu o Keita no Mali ele já tinha fama?
– Sim! Por ter fama no nosso país é que foi para a Europa como profissional,

– Dos países em que tem estado, França, Espanha e agora Portugal, qual o que mais gosta?
– Não me importo o lugar onde estou, desde que esteja com o meu marido e as filhas e a equipa em que ele joga esteja a jogar bem, e ele também claro! Já que não estou no Mali, francamente que não me importo de estar neste ou naquele pais.

– Significa portanto que para si, o melhor é o Mali?
– Sim, com toda a sinceridade, isso posso assegurar-lhe! Adoro o meu país.

– Quando o seu regresso ao ao Mali? Vai antes ou espera pelo seu marido?
– Nunca sozinha. O Keita e eu nunca nos separámos a não ser nos momentos em que ele está a trabalhar. Nunca nem um minuto sequer desde que nos casámos.

– Há quantos anos estão casados?
– Há cinco anos!

– Quanto tempo de namoro?
– Cerca de dois anos.

Quantos anos tem a senhora?
– Menos sete que Keita. Ele trinta e eu vinte e três anos. Estou velha!

Não diga isso nem a brincar!
– Eu estava brincando, pois tanto eu como meu marido ainda somos muito jovens! Eu tinha dezoito anos quando me casei e o Keita vinte e cinco. Idade bonita para um casamento, não acha?

– Certamente que sim! Só que eu casei mais cedo! Onde nasceram as vossas filhas?
– A Raki nasceu em Marselha e a Séré em Valência.

Entre França e Espanha, qual o país que mais lhe agradou para viver?
– Gostava mais de estar em Espanha, porque há sol, e como sou africana o calor é para mim uma alegria. Em Marselha não estava muito mau, mas em Saint-Ettiene, era horrível com muito frio. No que se refere a futebol, pois gostava mais da equipa francesa que da espanhola.

– E Portugal?
– Fui surpreendida! Não contava com tanta chuva, neste Inverno. Mas com este sol maravilhoso, que me permite andar a passear com as crianças enquanto o meu marido está a trabalhar é maravilhoso. Tem um sol lindo o vosso pais. Este Estoril é lindo e eu gosto imenso de cá estar. Nas férias, quando estivermos mo Mali, vou pedir ao Keita para virmos cá passar sempre uns dias.

Gosta que o seu marido tenha tanta popularidade?
Gosto. Não me importo aliás.

– Não há problemas com outras mulheres?
– Não. Garanto que não. Não sou vaidosa, mas tenho a certeza que o meu marido com a família que tem não perde tempo com outras mulheres. Ele não bebe nem fuma, não frequenta lugares nocturnos e nunca, tenho a certeza, teve problemas com mulheres. Se ele bebesse, se gostasse de sair, se procurasse companhias, pois como homem talvez acontecesse. Mas assim como ele é, tão meu amigo e louco pelas filhas, estando sempre, sempre junto de nós quando não tem futebol, tenho a certeza que o Keita não dá oportunidades para haver esses problemas. Gostamos muito um do outro para que isso aconteça.

– Vai ao futebol?
– Não! E o meu marido até se podia aproveitar dessas ocasiões. Mas ele mesmo tem pressa de se despachar para ir para junto de mim e das filhas. É um marido e pai excepcional.

– Quando Keita abandonar o futebol, vai ficar satisfeita?
– Ficarei louca de alegria, porque então tenho a certeza que o meu marido só passará a viver para mim e para as filhas, já que agora há também o futebol. Não posso continuar a aceitar esta vida, pois aos fins de semana quando todas as esposas têm os seus maridos e os filhos todos reunidos, eu sinto-me só e estou sempre ansiosa que os jogos terminem em bem para o Keita e para a equipa. Quando isso acabar ainda serei mais feliz. Claro que não será agora que o Keita deixa o futebol mas talvez dentro de dois anos.

Mas seu marido quando deixar o futebol vai ficar triste!
– Sim! Mas se ficasse na Europa. Mas como vamos para o Mali, ele tem lá os seus amigos, companheiros de infância e como tal mesmo que lá continue ligado ao futebol, mas sem ser como profissional tudo será melhor. Eu sei que lhe vai custar, mas a verdade é que ele adora estar em casa e como tal uma coisa compensa a outra. E depois lá no Mali, joga a brincar e até vai achar graça. Sabe que mais? Até acredito que ele nem vai ficar triste. Somos ainda jovens e temos ainda a vida para gozar na companhia das filhas.

– Acha que o dinheiro que o seu marido ganhou com o futebol garante o vosso futuro e o das filhas?
– Francamente que sim. Meu marido não gasta dinheiro praticamente, pois não tem vício e anda sempre comigo e o dinheiro que ganhou durante todos estes anos chegará para o resto da nossa vida, sem qualquer problema. Graças a Deus e ao futebol, repito estamos seguro para o futuro. Claro que, houve sacrifícios, mas a verdade é que não se pode ter tudo na vida e o sacrifícios feitos estão compensa dos. Até ao final da vida não haverá se Deus quiser problemas de dinheiro.

– Como é o Keita com as filhas?
– Meu Deus! É demais! Uma filha doente para o meu marido é um drama na vida. Digo-lhe que ele como pai, sofre e vive mais que eu que as tive, que sou mãe. Ele é um louco com as filhas e vamos lá, com a mulher. Somos muito felizes. Digo mesmo: para o Keita, o futebol está depois de mim e das filhas, e o resto para ele não conta. É um homem admirável o meu marido.

Fonte: Revista «Golo»

Data: 09/03/1977
Local: Revista «Golo»
Evento: Entrevista a Keita

Artigos relacionados

Comments

Leave a Reply

You must be logged in to post a comment.