RUGIDO VERDE

Levantar e levantar de novo, até que os cordeiros se tornem Leões!

Sexta-feira, Abril 19, 2024

Em dia de aniversário, entrevista a Freire na sua época de estreia (76/77) na equipa principal


FREIRE – Mais um júnior lançado entre os grandes do futebol Português

Chama-se CARLOS MANUEL DA SILVA FREIRE, tem dezassete anos. Já é titular da equipa principal do Sporting Clube de Portugal. Internacional júnior, e sem dúvida uma das revelações do futebol português, a juntar-se, aos Chalanas, Alberto, Diamantino, Formosinho, Cavungi e tantos outros, que, mercê de um olhar para o futuro do futebol português, em boa hora, os técnicos, resolveram integrar nos conjuntos principais. Em dezoito de Abril, Freire fará dezoito anos.

– Quando começou a praticar o futebol?

– Comecei no MTBA, que é um clube que era formado por jovens de quatro povoações, e que foi criado há cerca de quatro anos.

– Porquê o nome de MTBA?

Porque as terras são Magoito, Tujeira, Bolembre e Arneiros! Aproveitámos portanto as quatro primeiras letras dos nomes das terras para formar o nome do clube. As terras ficam perto de Sintra. Foi ali que eu «nasci» para o futebol.

– Em que época começou a ser jogador do Sporting?

– Em 1974, há portanto três anos. Comecei nos juvenis do Sporting.

– Como encarou a sua chamada, ainda com dezassete anos, ao primeiro time do Sporting e numa altura em que a equipa joga francamente para o título de Campeão Nacional e também para a Taça de Portugal?

– Reagi como penso que qualquer jovem futebolista como eu reagiria. Fiquei francamente satisfeito, por me ver integrado no lote dos melhores jogadores do Sporting. Claro que a minha maior preocupação foi a de não desiludir os que confiavam em mim. Julgo que realmente isso aconteceu, tanto mais que a entrada no primeiro time se verificou num jogo difícil, pois era contra o Benfica. Claro que tudo correu bem, pois ganhámos e eu assim o julgo, cumpri.

– Ficou afectado com o problema que a Federação lhe levantou por ter jogado contra o Benfica?

– Em minha opinião, tanto o Sporting como a Federação, ambos tiveram razão. A verdade é que o prejudicado fui eu, porque logo que subo ao primeiro time, se me depara um problema para o qual não contribui. O Sporting é a entidade patronal e eu tenho que cumprir ordens. A Federação é a entidade máxima do futebol e eu estava seleccionado, portanto, estava no meio! Felizmente que tudo se resolveu da melhor maneira e depois tudo foi esquecido!

– Mas no jogo frente à Áustria, você parecia afectado a ponto de não ter convertido uma grande penalidade que nos garantia a passagem à fase seguinte!

– Francamente que não me senti afectado durante o jogo, pois o pior já tinha passado. Aconteceu apenas que o jogo não me correu bem. Quanto ao ter falhado a grande penalidade, isso acontece a qualquer jogador! Fiquei, tal como todos companheiros de equipa imensamente triste por as coisas nos terem corrido tão mal, que fomos eliminados, quando tivemos imensas oportunidades de marcar. Mas a verdade é que o futebol é mesmo assim. Nem sempre ganham os que mais jogam!

– Sentiu a diferença de ambiente que possa existir entre os juniores e os seniores?

– Não sinto qualquer diferença. Tenho sido muito acarinhado pelos titulares do primeiro time e o ambiente que se vive no primeiro time é igual ao que se vive em todas as outras categorias dentro do Sporting. Muita camaradagem e espírito de equipa. Aliás, tenho em cada jogador do clube um amigo e isso ajuda muito, principalmente quando as coisas não estão a correr pelo melhor.

– O mau resultado feito nas Antas certamente que não o afectou?

– Claro que não! Mas nem sei como é que aquilo aconteceu. Fala-se de táctica, mas a verdade é que se o Senhor Hagan a mandou utilizar é porque era a indicada. Não surtiu? mas isso são coisas do futebol. Houve alguns erros que o Porto aproveitou muito bem e acabou por marcar quatro golos, enquanto nós marcámos um. Quando acontecem estas coisas, francamente que não há tácticas que as resolvam. Foi uma tarde boa para o Porto e má para o Sporting!

– Onde nasceu?

– Em São João das Lampas-Sintra.

– Depois da selecção de juniores, certamente que você já pensa na promoção a «Esperança»!

– Claro que sim! Ainda que não seja para titular, gostava de ser chamado para Os treinos, e digo-lhe que estou com muitas eperanças de ser…«Esperança»

CHEGAR AO TÍTULO FRANCAMENTE QUE VAI SER MUITO DIFÍCIL, MAS NÃO É IMPOSSÍVEL!

– Como encara a possibilidade de ainda chegarem ao primeiro lugar e vencer o Nacional?

– Agora é muito difícil, ainda que não seja impossível. Bem vê, que tanto o Porto, como o Benfica ou nós, alternamos agora os jogos fora e casa e isso tem influência. É certo que os outros vão ainda perder pontos, mas nós possivelmente também os perderemos e como tal, a tarefa é mais difícil para o segundo e para o terceiro que para o primeiro. E precisamente por isso que eu vejo poucas possibilidades de chegarmos-ao titulo. Claro que se o Benfica perder jogos e nós não perdermos mais nenhum, seremos campeões. Mas é difícil!

– Se lhe aparecesse uma proposta tentadora, e porque você está sendo mais um caso de valor no futebol português, como reagia?

– Tudo depende. Eu sou ainda muito novo e tenho muito tempo para pensar em transferências. Para já, o meu ideal é ser mesmo jogador profissional do Sporting. Não gostava francamente de mudar de clube. Mas bem vê a vida dá tantas voltas e eu ainda sou tão novo que é cedo para pensar nessas coisas. Claro que lá mais para diante se houvesse propostas com condições muito favoráveis para mim e para o Sporting, certamente que teriam que ser estudadas. A verdade é que ser futebolista é uma profissão e quem melhor paga, é que é servido. Mas para já, repito, quero ser profissional do Sporting.

Fonte: Revista «Golo»

Data: 06/04/1977
Local: Revista «Golo»
Evento: Entrevista de Freire

Artigos relacionados

Comments

Leave a Reply

XHTML: You can use these tags: <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <s> <strike> <strong>