RUGIDO VERDE

Um jogo feito de tudo para leão cheio de raça

Foi o que se esperava: um jogo tão difícil como pronunciar Gençlerbirligi (os nossos amigos turcos não se vão importar que este cronista abdique do “palavrão” e os trate apenas por Gençler, que é aliás o grito de guerra da equipa). O Sporting saiu de Ancara com um empate animador após um jogo feito de tudo e no qual o leão teve força, talento, inteligência, coragem e… sorte.

A eliminatória sorri para o Sporting, mas atenção que os turcos, apesar de tudo, têm, entre outras, uma qualidade que os distingue como povo lutador que é: nunca desistem. Fica dado o recado para quem eventualmente já estará a pensar no próximo sorteio. Fernando Santos e os seus leões podem estar felizes mas não estão seguramente tranquilos.

Sem Pinto

O Sporting apresentou-se sem João Pinto. Indiscutível titular em toda a época, o “25” de Alvalade ficou fora do onze que começou a jogar em Ancara. As razões da sua ausência vão ser motivo de falatório para toda a semana. Ontem, em Ancara, a situação foi encarada com tanta surpresa como naturalidade.

Surpresa pelas razões óbvias: afinal trata-se de João Pinto. Naturalidade porque Fernando Santos é um disciplinador e o facto de um dos seus jogadores ser reincidente em faltas poderá justificar a medida, independentemente dos riscos inerentes a uma decisão deste género e, há que admiti-lo, dimensão.

É claro que também se poderia incluir nas explicações o facto
de Fernando Santos ter armado uma estratégia que visava o reforço defensivo (daí os três centrais), mantendo o equilíbrio da equipa. À partida, tínhamos um conjunto mais forte do ponto de vista físico, ágil nos flancos (Luís Filipe em vez de Mário Sérgio) e menos disperso no terreno, procurando assegurar a coesão necessária para travar o ímpeto turco. As explicações ficam então para Fernando Santos, mas é nesta que mais acreditamos.

Olha a direita!

O Sporting entrou bem. Levou o jogo para perto da área do Gençler e nos primeiros minutos tirou partido de uma evidente descompensação no meio-campo turco. Na ala direita do ataque do Sporting apenas havia a oposição de Daems pelo que Luís Filipe, Pedro Barbosa (especialmente estes), Rochemback e Liedson apareceram por ali muitas vezes. Os turcos rapidamente rectificaram a situação com o desvio de Balci para aquela zona, ficando então tudo mais arrumado e obviamente menos fácil para o Sporting.

O Glençer, apesar do evidente entusiasmo, dispensou a iniciativa do jogo e como o Sporting também não a quis por inteiro, as coisas entraram numa indefinição perigosa. A qualquer momento, um erro, um ressalto ou um lance mais construído podia ditar leis e fazer a diferença.

‘Penalty’ falso

Havia a sensação que o Sporting tinha mais argumentos
para chegar ao golo (Pedro Barbosa falhou a baliza por um triz
num cabeceamento após livre de Rochemback). Mas havia também o medo do jogo pouco pensado e trabalhado mas muito rápido dos turcos poderia criar danos maiores. Acabou no entanto por ser numa saída em falso de Ricardo que tudo se precipitou. Com a defesa do Sporting aflita, a bola foi parar aos pés de Balcin que rompeu pela direita e, antecipando o choque com Custódio, atirou-se para o chão. O árbitro romeno assinalou “penalty”. Um “penalty” falso como Judas que Ricardo defendeu, evitando assim um castigo que o Sporting não merecia.

Outra vez Ricardo

O Sporting não perdeu a calma, mas perdeu algum controlo do jogo. O leão tentou fugir ao corpo a corpo e aos poucos voltou a impor o seu futebol mais estruturado. A bola voltou a rondar a área turca, mas faltou ao Sporting o golpe de asa que marcasse a diferença.

Assim, voltou a ficar sujeito a uma surpresa desagradável. E ela aconteceu, mas uma vez mais Ricardo foi decisivo ao desviar com o pé o remate de Youla que apareceu isolado. O intervalo chegava em boa hora.

Frenético

O Glençer entrou mais determinado na segunda parte. Chegou-se à frente e pressionou mais. O Sporting recolheu os seus homens para as imediações da área mas não se encolheu. A
insistência de Liedson foi compensada com um misto de talento e sorte e o Sporting chegou ao golo quando parecia que estava a habilitar-se a sofrer um. Mas nem sempre se consegue fintar o destino, pelo que a vontade e a convicção dos turcos foi compensada cinco minutos depois num golo em que Beto ficou colado à relva.

Perigo!

Fernando Santos lançou Mário Sérgio para defender melhor e João Pinto para trazer outra dinâmica ofensiva. Nessa altura já o Glençer tinha uma frente de ataque com quatro homens e estava deliberadamente lançado para a baliza de Ricardo. Um perigo agravado pelo recuo leonino. Era urgente o Sporting libertar-se da pressão, acalmar o jogo para o ritmo que mais lhe conviesse e voltar à baliza turca. Tudo isso acabou por conseguir a meio da segunda parte, criando boas expectativas para o que ainda faltava. Um grande lance de Mário Sérgio e uma cabeçada de Tandogan foram os últimos picos de emoção de um jogo que terminou como começou: cheio de nervo e com excelentes expectativas de sucesso para o Sporting.

Árbitro

SORIN CORPODEAN (1). A equipa de arbitragem romena não inspirou confiança e poderia ter definido o destino do jogo se não fosse a intervenção providencial de Ricardo. O “penalty” assinalado por pretensa falta de Custódio foi uma invenção e uma grande maldade, pois o Sporting poderia ter “descarrilado” nesse momento. Mal auxiliado, Corpodean esteve melhor na segunda parte, servindo de atenuante para a exibição sofrível o facto de o jogo ter tido muito corpo-a-corpo.

Fonte: Jornal Record

O Sporting alinhou com: Ricardo; Luis Filipe (Mário Sergio 58′), Polga, Beto, Hugo Vieira e Rui Jorge; Custódio e Rochemback; Pedro Barbosa (Tonito 79′); Silva (João Pinto 62′) e Liedson.

Golo: Liedson (50′) (Sporting)