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Sexta-feira, Abril 19, 2024

Neste dia… em 1958, vitória do Sporting por (2-1) sobre os holandeses do DOS Utrecht

Meia hora de bom futebol chegou para o Sporting confirmar a sua passagem aos oitavos de final

Por Henrique Parreirão

Em relação à jornada anterior, ambos os grupos apresentaram uma ligeira alteração. Os campeões da Holanda fizeram alinhar um novo extremo-direito, e o Sporting estreou, oficialmente, a sua nova vedeta internacional, o uruguaio Caraballo, rapaz de boa pinta.

Inevitavelmente as atenções gerais recaíram na nova aquisição do Sporting, tanto mais que logo nos primeiros minutos (e pelo tempo adiante) o uruguaio deu nas vistas pelo seu fácil pontapé e bom domínio de bola, quer quando se mostrou em acção para o assalto às balizas dos visitantes, quer quando actuou recuado no jeito de bom colaborador na organização dos lances ofensivos.

O Sporting esteve menos certo na primeira parte, precisamente porque lhe faltou naquele período o verdadeira ordenador de jogo a meio campo. Só quando Vasques subiu, a partir do minuto 1º da segunda parte, juntamente com Caraballo, também recuado a colaborar com ele, deixando a Ivson a verdadeira missão de avançado-centro, é que a equipa começou a jogar de forma a justificar a vitória.

Antes disso, como dizíamos, não! O Sporting não convenceu na primeira parte, deixando-se arrastar na toada imposta pelos Holandeses, em vez de impor a sua toada mais incisiva.

Mostrando boa capacidade atlética, os homens do D.O.S. deixaram, pois, a melhor impressão nos primeiro quarenta e cinco minutos de jogo, concluídos sem golos, se bem que ambas as equipas tivessem tido oportunidades para marcar, a principal de Morais que ficou isolado frente à baliza…

Os Holandeses, mostrando boa desenvoltura a meio campo, proporcionaram uma partida bastante movimentada, mas não criaram muitas situações de embaraço junto de Octávio de Sá. Este teve, apenas, em todo o desafio três intervenções verdadeiramente difíceis: duas aos pés dos n.º 7 e 9 da Holanda e uma a forte remate do extremo-direito, já no segundo tempo, quando aquele interceptou um passe de Sá a Pacheco e correu com o esférico na direcção das balizas do Sporting.

De facto, os visitantes só impressionaram verdadeiramente no jogo a meio campo, tornando-se difíceis pela resistência física e pelo melhor sentido de unidade, interpretado por um conjunto muito sólido. Certa morosidade na execução das jogadas foi muito bem disfarçada pelo sentido colectivo da equipa, que atacou e defendeu sempre em bloco.

Como dizíamos, o Sporting só foi verdadeiramente superior ao adversário no período a seguir ao intervalo. A subida de Vasques, com o apoio de Caraballo na linha da retaguarda, contribuiu essencialmente para a melhoria de toda a equipa «leonina».

Maior improvisação de lances, mais rapidez, passes cruzados nos dois sentidos, em passada larga a provocar profundos «distúrbios» nas hostes defensivas contrárias, deram à actuação dos campeões nacionais, no segundo tempo, um sentido de maior profundeza, E os golos apareceram inevitavelmente. Ambos pelo mesmo marcador (Ivson) e com igual figurino. O primeiro, aos quatro minutos, saiu de um passe de Hugo para Ivson, ficando este, sem qualquer opositor, com a bola nos pés e o caminho livre para as balizas. Correu calmamente, chamou a si o guarda-redes rematando certeiro, quando aquele saiu atentar a defesa. O segundo aos 31m foi executado precisamente da mesma maneira, apenas com a diferença de se ter desenvolvido pelo lado esquerdo, sendo o passe a Ivson feito por Morais.

Os dois tentos abalaram o grupo visitante, que pareceu depois, com menos força, acusando cansaço e desanimo. O atraso em relação aos dois jogos era de três bolas. Ninguém pensava em recuperação…

Em todo o caso os campeões da Holanda ainda conseguiram marcar um «canto», que o médio-direito Temming apontou com um toque atrasado para Krommert, rematando este sem deixar bater a bola, obtendo assim o ponto de honra.

É curioso registar, nos últimos minutos, novo alento da equipa visitante, que retomou as suas forças para fazer, ainda, estremecer a defesa do Sporting.

Era, porém, tarde. E o final chegou com o resultado mais justo da partida. O triunfo do Sporting – inteiramente justificado pela sua melhor actuação no período imediatamente a seguir ao descanso. Meia hora de bom futebol chegou para confirmar o apuramento do representante português para os oitavos de final da Taça dos Campeões Europeus – proeza digna de realce.

Opiniões:

J. KELLY (árbitro) – O jogo foi muito correcto, pelo que o meu trabalho não deparou com dificuldades. O publico, simplesmente admirável. O Sporting mereceu a vitória porque rematou mais.

KRAAY (defesa-central) – Os Portugueses formam uma grande equipa, mas o D.O.S. merecia o empate. No Sporting, destaco Ivson, Vasques, Caraballo e Hugo.

FERNANDEZ (treinador) – O Sporting quebrou na segunda parte devido a cansaço, provocado por quatro jogos sucessivos. A partida foi muito bem disputada. Os Holandeses formam um bom conjunto, com realce para os dois interiores e defesa-central.

VASQUES – A vitória podia ter sido mais expressiva, no entanto, ganhou-se e isso é o que interessa. Defrontaremos agora o Royal Standard, de Liege, com ânimo redobrado. Os Holandeses perderam com dignidade.

Pacheco, Mendes e Caldeira brilharam no conjunto leonino

Por Fernando Soromenho

A equipa dos campeões nacionais ofereceu dois contrastes: defesa sólida, atenta e rápida, e linha avançada algo desarticulada, devido à má recepção da bola e aos passes, sem precisão, 4) conjunto não primou por uma: actuação uniforme, mas o motivo terá que se buscar na maneira como os visitantes se comportaram – autênticos dínamos de energia e velocidade. Raras vezes, os sportinguistas beneficiaram de folgas para gizar os lances. A barreira adversária constituía uni estorvo constante.

Octávio de Sá mostrou-se em forma. Não teve trabalho aturado, mas o que fez foi com acerto, pelo que deve ser apontado como um dos melhores elementos da equipa. Caldeira, cada vez mais rápido, deu a nota da vivacidade. Antecipou-se, o que se regista particularmente, lutou com ardor juvenil, e teve «cortes» admiráveis, em dobras tão oportunas como espectaculares. Galaz, tendo de enfrentar um avançado centro difícil, cotou-se numa bitola regular. Incorreu em duas ou três hesitações que podiam ser comprometedoras, mas os companheiros souberam ajudar. Pacheco demonstrou personalidade. Está num dos seus grandes momentos. A velocidade do extremo-direito foi superiormente controlada pelo macaista que caprichou ainda em servir bem os seus colegas da frente, principalmente em cruzamentos.

Dos dois médios-alas, o jovem Mendes realizou porventura a sua melhor exibição. Andou numa roda viva, mas nunca cedeu. Incansável e brilhante. Diego Arizaga procurou ser útil, mas a sua condição física parece não ser ainda a melhor.

A linha da frente acusou a ausência de uma toada certa, pelas razões atrás apontadas: demora na entrega da bola, algum individualismo e remates (foram desferidos muitos) tortos.

Hugo foi o elemento batalhador, característica que lhe é tradicional. Ivson, tardio no arranque, não deu por isso seguimento a muitos lances. Todavia foi o autor dos dois golos, proeza sempre digna de elogio, quando os mesmos justificam o triunfo.

O uruguaio Caraballo teve estreia auspiciosa, apesar de desconhecer a toada da equipa. Tecnicamente, mostrou bons cabedais, Domina, passa e remata, com a marca da confiança. Mais ambientado poderá vir a ser uma «vedeta. Vasques andou, a princípio, deslocado, mas no segundo tempo, no bom período da equipa, teve acção preponderante na manobra, no que foi, aliás, secundado – e bem – por Caraballo. Morais, se a sorte o tivesse acompanhado, poderia ter atingido invulgar plano, mas acabou por ser apenas esforçado, o que é pouco para as suas reais qualidades.

A equipa do D. O. S., cuja condição física é notável (aliás, tecnicamente os Holandeses deixaram boa impressão), primou por um modelar desportivismo. O jogo, no capítulo da correcção forneceu um magnífico exemplo. Os seus mais destacados elementos foram Kraay, Temming, Lammers e Krommert.

O inglês, J. Kelly, bem secundado pelos seus auxiliares, deu uma lição de arbitragem. Alguns protestos não tiveram o mínimo cabimento.

Ficha do jogo:

Estádio: Estádio José Alvalade. Público: 40000. Arbitro: John Kelly (Inglaterra)

Sporting: Octávio de Sá; Caldeira e Galaz; Joaquim Pacheco, Diego e Fernando Mendes; Hugo, lvson, Caraballo, Vasques (cap) e Morais.

DOS Utrecht: Frans De Munck; Andries Nagtegaal, willem Visser, Christian Temming, Hans Kraay, Johannes van den Bogert, Martinus Okhuysen, Gerritkrommert, Dirk Lammers, Anthonie van der Linden e Jacobus Westphaal.

Golos: Ivson (48 e 76′) (Sporting); Krommert (82′) (D.O.S.)

Resumo do jogo.

Data: 08/10/1958
Local: Estádio José Alvalade
Evento: Sporting (2-1) DOS Utrecht, Taça dos Campeões Europeus - 1ª Eliminatória

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