RUGIDO VERDE

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Sexta-feira, Abril 26, 2024

Neste dia… em 1955: A Festa do Sporting e a homenagem a Travassos

As homenagens a José Travassos sucedem-se, e não são demais! Mas, compreensivelmente, as primeiras competem aos sportinguistas, que ofertaram ao grande jogador internacional um magnífico álbum comemorativo, contendo assinaturas de milhares de sócios do clube.

Momento da entrega do álbum a José Travassos.

No estranho cenário da construção do seu novo estádio, uma amálgama confusa de madeira e cimento, por enquanto, realizou ontem o Sporting um festival colorido e diverso com várias finalidades, competindo a primordial à angariação de receita para impulsionar a edificação do grandioso monumento «leonino». E dúvidas não haviam, de que o programa oferecia vastos motivos de interesse, como a primeira demonstração da época do futebol sportinguista, realmente em profundidade, como em raras ocasiões sucede; a homenagem a José Travassos, pela sua presença na equipa continental; e algumas tentativas de «record» em atletismo.

O publico sportinguista compreendeu o alcance da iniciativa, e deixou-se atrair pelo espectáculo, acabando por ter papel preponderante na agradável manifestação, gerando um ambiente de entusiasmo e, até, de vibração, invadindo todos os espaços de visibilidade.

Por isso mesmo, o acontecimento teve ares de festa, de festa «leonina», é certo, mas, principalmente de consagração ao desporto em todos os seus pormenores. Não exageramos portanto, ao afirmar que o festival do Sporting, realizado naquele curioso fundo, constituiu um espectáculo deveras agradável.

Complementos futebolísticos que significaram algo…

A secção de futebol – sempre o grande e velho chamariz – representou condignamente o seu papel de rainha do espectáculo, não apenas por ter apresentado todas as suas categorias, num acto límpido não frequente, como pelo brilhantismo que as mesmas emprestaram à manifestação.

Os juniores e os aspirantes compuseram um momento interessante, que não fatigou de forma alguma a assistência, antes pelo contrário…

Foi um jogo completo em que se efectuaram muitas substituições, com objectivos facilmente compreensíveis. Algumas actuações valorizaram este encontro juvenil, como as do hábil Jorge Mendonça, a quem falta, nota-se frequentemente, aptidão física; de Santos e Sampaio, afinal, todo o trio do centro de ataque dos juniores; e de Cafum, driblador nato e incisivo, e Gonçalves II, nos aspirantes. Mas, duma forma geral, ambos os conjuntos proporcionaram a impressão nítida de que o futuro do futebol sportinguista não está em mãos, isto é, em pés inábeis.

A equipa de reservas, autêntica primeira categoria que serviria muitíssimo bem alguns clubes da Divisão principal, mostrou-se contra o Arroios, originando interesse a apresentação de novas personalidades no seio «leonino», como o espanhol Ivan Santos, o tão discutido Walter e o ex-montijense Joaquim José. Afinal, as estreias não desapontaram, como ás vezes sucede. Será bom pronuncio?…

Santos não teve trabalho extenuante, mas actuou sem erros, o que é já virtude, registando, até, no momento de maior perigo, destreza suficiente para anular, com categorizada defesa em voo lateral, o melhor remate dos adversários dos «leões». O espinhense Walter denunciou-se puro tipo de lutador enérgico, não desperdiçando, contudo, energias úteis, mas doseando com boa orientação o seu esforço pujante até final. O magnífico golo de cabeça que marcou, significa algo do seu sentido de ataque. E Joaquim José, apresentou-se como verdadeiro tipo de jogador sportinguista, hábil, fino, penetrante, parecendo antigo na escola do Lumiar. Porém, a principal honra do desafio, como seu intérprete mais brilhante, coube ao franzino macaista Rocha, que, à extremo do lado direito, imprimiu ao jogo um ritmo raro de vivacidade, e impecável em todos os requisitos que o lugar exige. Mokuna, marcou 3 golos, e quer jogue bem ou jogue mal, golos sempre são golos…

Registámos, ainda, progressos no jovem António Maria, pela primeira vez na reserva; a presença de Gonçalves, cuja hipotética abalada para Braga foi muito falada; e as condições físicas verdadeiramente inferiores de Ulisses..

O Arroios foi um adversário compreensivo, correcto e, vamos lá, valoroso. Contribuiu para um jogo agradável, e isto muito o abona. A actuação do seu extremo-esquerdo, Custódio, foi bastante apreciada. Perdeu pela diferença de seis golos (7-1) mas perdeu com exemplar dignidade.

O Sporting esteve em festa!

Manifestação colorida, diversa e vibrante

Rafael (guarda-redes do Estoril) defende um remate de Martins (avançado do Sporting)

O desempenho de «vedeta» do espectáculo, competiu naturalmente à primeira categoria do clube em festa, ex-campeã nacional e crónica candidata à assinatura do titulo.

O Sporting jogou despreocupadamente, à laia de treino, é uma verdade, mas talvez por isso mesmo, tivesse evidenciado invulgar precisão, jogo perfeitamente esquematizado, bonito, variado e terrivelmente eficaz. Aliás, esta é uma característica do estilo sportinguista de sempre.

Realmente, a personalidade do jogo do Sporting mantém-se, e porquê, não obstante tantas transições de orientação? Porque o esqueleto da equipa continua o mesmo, porque as pedras essenciais do conjunto são precisamente as mesmas de há oito anos para cá: Passos, Barros, Juca, Vasques, Martins e Travassos, são mais de meio grupo. É facto que o mérito e as características dos jogadores é que personalizam e cotam as equipas.

Talvez já nos tivéssemos alongado demais em considerações de ordem técnica, contrariamente à nossa pretensão de interpretar com ligeireza o festival de ontem, nas suas linhas gerais. Retomemos, pois o rumo.

A turma do Estoril Praia, não apenas por ter perdido por 10-3, os resultados ás vezes pouco significam, especialmente em encontros deste género, acusou nítida inferioridade perante o Sporting. Cremos, também, na sua despreocupação e no seu actual anseio de estruturar devidamente a equipa, mas colocamos em duvida se com este grupo o clube marcará posição conciliável com a de pretendente a um posto entre os maiores. Os estorilenses foram, na verdade, demasiado frágeis, e até os seus pontos constituíram produto de uma acção incerta, facilitadora e demasiado confiante da defesa «leonina», que foi o mais fraco sector da equipa.

O pujante ressurgimento de Vasques e a personalidade do estreante Quim

– Notas mais destacadas de uma interessante e despreocupada exibição «leonina».

Algumas notas de pormenores mais destacados: primeira de todas, o regresso pujante de condição física e técnica de Manuel Vasques, que foi a principal atracção do numero de fundo, o que muito alegrou os sportinguistas, especialmente aqueles cujo cepticismo não previa o ressurgimento do verdadeiro Vasques; imediatamente a seguir, a estreia magnífica do olivalense Quim, um rapaz de 19 anos, sério candidato ao «estrelato» do futebol português. Concordamos não ser caso para precipitações, estados de espírito que frequentemente provocam desilusões amargas – mas não significará qualquer coisa a beleza do seu jogo, uma personalidade deveras invulgar em estreante, o seu completo entendimento com os colegas, como se entre eles sempre tivesse jogado, a identificação plena com as características de Travassos, sem se mostrar diminuído pela consagração internacional do melhor jogador que Portugal possui, os seus quatro – quatro! golos, obtidos de maneiras diversas, mas todas decididas e espectaculares?… Sim, tudo isto nada representa?… Cremos estar a referirmo-nos realmente a alguém que será «alguém» dentro de pouco tempo no panorama do nosso futebol ! Veremos…

Ainda outros apontamentos: a actuacão de Oliveira pela primeira vez a defesa-esquerdo, lugar que, naturalmente, lhe ofereceu algumas dificuldades; o acerto do duo Barros-Juca; a excelente actuação de Travassos (2 golos), dentro das suas características inconfundíveis; o acerto de Martins (4 golos); o pobre rendimento de Galileu, e… nada mais.

A expressiva homenagem a Travassos

– No intervalo do encontro principal, José Travassos foi alvo de simpática e merecida homenagem, por parte de uma comissão de sócios do seu clube, que lhe ofertou valioso álbum preenchido com milhares de assinaturas de admiradores sportinguistas.

Foi um momento de enorme vibração este, e o popular «Zé» viu-se coagido a dar uma volta de honra ao campo, a fim de acolher mais de perto as homenagens que todos lhe dispensaram. Das inúmeras consagrações que tem recebido, José Travassos, estamos certos, tem razões para considerar com carinho especial a expressiva homenagem ontem dispensada.

Manuel Faria não bateu o «record» devido ás más condições da pista

A emoldurar esta simpática festa «leonina», realizaram-se quatro provas de atletismo – 400, 700, 1.000 e 1.500 metros – que tiveram reduzido valor, excepto aquela em que participou o único sénior, Manuel Faria, que registou o seu melhor tempo em 1.500, 4 m. 1,6 s., não conseguindo o «record» por más condicões da pista, muito solta e descuidada. A corrida de Faria constituiu um dos melhores momentos do festival. As restantes provas tiveram como vencedores: 400 metros, o aspirante Veloso, em 54,6 s.; 1.000 metros, o principiante Manuel Vilaça, em 2 m. 49,8 s.; e em 700 metros, o principiante Moniz, em 1 m. 53 s.

Por tudo, valeu a pena realmente a deslocação de ontem ao local onde se ergue uma obra monumental, desportiva e financeiramente bem apoiada com manifestações como esta.

EM CIMA – O quadro leonino que na tarde de ontem, contra o Estoril, fez exibição de agrado. No primeiro plano, da esquerda para a direita: Carlos Gomes, Galileu, Vasques, Martins, Travassos, Joaquim (ex-Olivais) e Albano. No segundo plano: Oliveira, Hugo, Passos, Juca, Caldeira e Barros. AO CENTRO – A equipa do Estoril Praia, que no desafio contra o Sporting, apesar de batida por 10-3, teve actuação meritória. No segundo plano, nota-se a, presença de Gonzaga (o 5.º da esquerda) que regressou ao seu antigo clube, vindo do Benfica, conde permaneceu duas épocas, apenas. EM BAIXO – o grupo das reservas do Sporting que venceu por 7-1, a primeira categoria do Arroios. No primeiro plano, da esquerda para a direita: Rocha, Joaquim José (ex-D. Montijo), Mokuna, Pompeu, Gonçalves e Fernando Mendonça. No segundo plano: Cachepo, Walter (Sp. Espinho); Lourenço, António Maria, Ulisses e Santos (ex-Espanhol).

Fonte: Diário de Lisboa

Data: 28/08/1955
Local: Estadio do Sporting (Lumiar)
Evento: Festa do Sporting/Homenagem a Travassos

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