RUGIDO VERDE

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Sexta-feira, Abril 19, 2024

Analogia: Vinte Anos Depois

Há cerca de vinte anos atrás, a conquista de dois Campeonatos Nacionais iludiu os sócios ao ponto de se permitir uma derrapagem de cerca de 80 milhões de euros na construção de um estádio. Um estádio com fosso, sem pista de atletismo e sem um complexo desportivo que incluísse um pavilhão – coisa que ia logo contra a história e matriz de ecletismo do Sporting. 

Essa conquista também permitiu a venda de terrenos do clube a empresas com ligações a dirigentes do mesmo. Permitiu a venda de património imobiliário do clube (Alvaláxia, Edifício Visconde de Alvalade, Health Club e clínica CUF) mesmo depois de rejeitada essa venda pelos sócios em Assembleia, com a mesa presidida por… Rogério Alves. Não esquecer que, através de uma artimanha, o doutor Rogério Alves conseguiu uma aprovação de ⅔ (66%), quando os estatutos obrigavam a 75% de votos favoráveis para essa aprovação, e conseguiu entregar às mãos do nefasto Conselho Leonino as decisões sobre a venda de património.

Em suma, dois títulos de Campeão Nacional valeram a delapidação do património  imobiliário e financeiro do clube e a sua consequente quebra de competitividade ao longo de largos anos. Foram praticamente duas décadas de governação sem olhar para os sócios, uma governação a pensar num “clube-empresa”, num clube de futebol, uma governação contra-natura. Tudo isto feito perante a passividade dos sócios, talvez ainda inebriados pela conquista de dois singelos (e inesperados, diga-se) Campeonatos Nacionais. Essa ilusão dos sócios permitiu que em 2013, 11 anos depois da conquista do último desses títulos, o Sporting tivesse em cima da mesa um Plano Especial de Revitalização e estivesse prestes a entregar as chaves aos credores. Foi preciso chegar a esse ponto para se dar um baque na cabeça dos sócios e fazê-los acordar para a realidade.

Em 2013, o Conselho Directivo eleito mudou, em muito, a forma de dirigir o clube. Além de ter encetado a recuperação financeira e desportiva do Sporting, entabulou então uma reaproximação dos sócios ao clube, colocando-os no centro das decisões. O foco desta nova governação foi totalmente diferente. O Sporting voltou a ser um clube competitivo, eclético e afirmativo. Lutou pela justiça, apresentou propostas de reforma para o futebol português e teve um Presidente capaz de meter o dedo na ferida e denunciar a corrupção que grassa neste mundo podre que é o futebol português. Conseguiu com isso, além de voltar a trazer equipas competitivas no futebol, criando condições financeiras para o investimento (o título de 15/16 que nos foi roubado, e é nosso apesar de se tentar reescrever a história, teria mudado tanta coisa…) voltar a fazer do Sporting a grande e principal potência do desporto em Portugal, conquistando vários títulos em todas as modalidades, fazendo regressar algumas e trazendo outras pela primeira vez. Acima de tudo conseguiu trazer de volta o Sporting popular, o Sporting dos sócios e onde quem decidia eram os sócios. Foram 5 anos de governação a pensar realmente no clube e no seu real maior activo, concepção que entretanto desapareceu.

Foi sol de pouca dura. A volatilidade e inconstância da forma de viver o clube de grande parte dos sócios deu cobertura ao golpe mais baixo e mais bem urdido da sua existência. Acto esse perpetrado pelos sempre perniciosos “notáveis” do clube, que vieram recolher os espólios do trabalho feito. Isto tudo depois da recuperação e da estabilidade financeira atingida para os tempos que se seguiriam. O clube cresceu exponencialmente, basta ver os Relatórios e Contas dos exercícios desses cinco anos. Não pode ser esquecido o maior contrato de direitos televisivos que foi deixado (que entrou em vigor na sua componente mais forte, tirem nota, menos de 15 dias depois da destituição), para além de um plano de reestruturação que incluía a recompra das VMOCs, deixando o Sporting como detentor de cerca de 90% das acções da SAD. É um facto do conhecimento geral e sobre o qual não me vou alongar, até porque não é o objectivo nem o tema deste texto.

Depois de eleições condicionadas bastante concorridas, foi eleito um Conselho Directivo liderado por Frederico Varandas. Eleito com o maior número de votos mas não de votantes, e nunca foi consensual até porque ainda está muita coisa por explicar em relação ao seu “envolvimento” no processo de Alcochete. A sua actuação no imediato pós-Alcochete, os seus depoimentos em tribunal e os benefícios que retirou desse processo, candidatura e subsequente eleição para a presidência à cabeça, ainda têm muito que contar. Adiante.

O actual Conselho Directivo, sempre acobertado pelos restantes dois Órgãos Sociais que supostamente deveriam estar ao serviço dos sócios, mas estão ao serviço do CD, entrou em funções e a sua maior preocupação desde o início consistia em criar e vender desculpas para justificar a sua incompetência.

Foi encetado um ataque vil e soez à anterior administração com o objectivo de esconder as insuficiências de quem se apresentou com a soberba e a bazófia de quem tudo sabia e que tudo ia resolver. Foi a herança pesada, os batuques, “o all-in que fizeram para ser campeões mas não conseguiram”, o “deixaram as contas para quem vier a seguir pagar”, o presidente a testemunhar em tribunal contra o clube, tudo serviu para tentar distrair do essencial os mais incautos.

Fizeram-se acordos ruinosos com clubes e empresários no caso das rescisões de contrato, pagaram-se verbas indevidas a empresários, venderam-se jogadores muito abaixo do valor de mercado e ofereceram-se outros com o falso argumento de que não se podiam pagar os ordenados. Bem, não vale a pena adiantar mais este assunto. Ao mesmo tempo, os “ases” da gestão financeira, do marketing e do “futebol é fácil”, foram demonstrando a sua incompetência. Pela primeira vez na história conseguiram que um empréstimo obrigacionista não fosse subscrito na totalidade, puseram cá fora leaks de auditorias que colocaram a SAD do clube em desvantagem negocial perante a concorrência, foram divulgados os salários dos jogadores (não esquecer este pormaior, ainda hoje por explicar), e num clube que se dizia sem dinheiro, num ano e meio tivemos cinco treinadores (sim, cinco), alguns dos quais ainda estamos a pagar.

Fizemos a pior época da história do futebol do Sporting em termos de derrotas e, fruto disso, já esta época falhámos o acesso às competições europeias. O ecletismo do clube está a ser posto em causa ao acabarem com algumas das modalidades, incluindo o abandono de atletas que fazem parte do Projecto Olímpico. Até o Director Geral das Modalidades, que foi uma das bandeiras da campanha eleitoral destes Órgãos Sociais já foi posto borda fora, com o apoio da imprensa para sair com a reputação danificada.

Tiraram a voz aos sócios, ao não realizarem Assembleias Gerais, nem as regulamentares, nem as que foram pedidas pelos sócios. O PMAG não cumpre os estatutos e, inclusivamente, rejeita pedidos dos sócios sendo juiz em causa própria. Estão a governar o clube com um Orçamento e R&C reprovados pelos sócios (por votação histórica), e não voltaram a apresentar outro. Um sem fim de situações que são do conhecimento geral. 

Como até um relógio avariado está certo duas vezes por dia, contrataram um treinador que, supostamente, é um dos mais caros da história do futebol. Envolveram o clube em polémica por causa do pagamento deste treinador, assim como aconteceu com o pagamento de vários jogadores. O treinador, esse, está a fazer um bom trabalho. A equipa está em primeiro lugar no Campeonato Nacional, com todo o mérito, e temos realmente possibilidades de ser campeões nacionais de futebol ao fim de praticamente vinte anos. E chegados aqui, vou fazer a analogia com aquilo que se passou há vinte anos e que dá o tema a este texto.

Apesar de todas as atrocidades cometidas, começo a reparar que a eventual conquista do título esta época vai servir para iludir os sócios ao ponto de se vir a permitir a delapidação de tudo o que resta do Sporting Clube de Portugal. A dívida do clube à SAD tem vindo a aumentar propositadamente para que o clube fique refém da SAD. Vai acabar o dinheiro do contrato da NOS, as VMOCs não vão ser recompradas, a SAD será vendida a amigos não sem antes lhe ser entregue o Pavilhão João Rocha, que é o símbolo do Sporting eclético e que foi mandado construir por Bruno de Carvalho com dinheiro do clube conseguido a muito custo e com muito engenho, mas também com contribuição financeira de muitos sócios. 

Propaganda sem vergonha promovida pela comunicação do clube

Começo, infelizmente, a ver muita gente a ficar esquecida daquilo que tem sido feito e do que está em causa no futuro, a ficar disposta a abdicar do Sporting Clube de Portugal em troca de um eventual título de campeão nacional de futebol. 

Todos os sportinguistas querem ver o Sporting ganhar, mas é preciso não esquecer aquilo que se vai legitimar de seguida. Eu não quero ficar mais vinte anos à espera. Eu quero ser campeão mas quero que o meu Sporting continue a ser meu. O Sporting que já era do meu pai e que também é agora do meu filho. 

Deixo um apelo a todos. Façamos do Sporting campeão mas não deixemos criar condições para depois ficarmos sem ele. Não deixemos que aconteça o mesmo que aconteceu há vinte anos. 

Esta gente que está à frente do clube tem uma agenda bem definida. E nessa agenda não consta fazer o bem do Sporting. 

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